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O boom das empresas de tecnologia é a nova bolha ponto com?

Ações da Nvidia tiveram valorização superior a 50% em 2024; investidores se perguntam até onde vai esse rali

Fachada da bolsa de valores Nasdaq. Foto: Adobe Stock
Criada em 1971, a Nasdaq se tornou a “bolsa de tecnologia”, onde atualmente há mais de três mil empresas listadas. Foto: Adobe Stock

Antes cativo nas páginas de tecnologia, o termo inteligência artificial tem ganhado mais destaque no noticiário de mercado nas últimas semanas e meses. Não é para menos. A Nvidia ganhou os holofotes ao entregar uma valorização de quase 300% nos últimos doze meses – 85% apenas em 2024. A produtora de chips é vista como uma das ganhadoras na corrida da IA, já que fabrica a infraestrutura necessária para que qualquer outra companhia crie novas soluções dessa tecnologia.

Mas não é só a Nvidia que vem entregando ganhos notáveis. As sete magníficas – Nvidia, Tesla, Apple, Microsoft, Amazon, Meta (ex-Facebook) e Alphabet (a dona do Google) – como ficou conhecido o grupo das maiores empresas de tecnologia do mundo, se valorizaram 111% em 2023, enquanto o S&P 500 subiu 24%.

Por trás desse movimento, está a aposta de que a inteligência artificial irá se desenvolver e permear grande parte das nossas vidas cotidianas (ainda mais do que hoje) – e render bons lucros àquelas empresas que souberem aproveitar a onda e desenvolver as soluções que mais serão usadas pela população e pelos negócios.

“A Inteligência Artificial tem desempenhado o papel principal na valorização das empresas de tecnologia. Essa valorização vem como resultado de expectativas de ganhos de eficiência, o que gera aumento de receita e corte de custos”, explica Alexandre Carvalho, analista de renda variável da InvestSmart.

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Resultado ou expectativa?

Uma pergunta que fica é: até quando as ações vão continuar a subir e em que medida a valorização tem como base as promessas da tecnologia, que ainda precisam se provar na prática? Não é tão fácil responder.

Em texto publicado no portal Barron’s, o economista Burton G. Malkiel aponta que alguns indicadores estão acima da média histórica, o que indica que o valuation das empresas de tecnologia está elevado (ou esticado, na linguagem do mercado). Segundo ele, o índice preço/lucro ajustado das empresas está em 34, o dobro da média histórica de 17 – para as sete magníficas, o índice chega a 42.

“Não admira que alguns vejam paralelos claros com a revolução da internet e digam ser provável um colapso semelhante. Mas não estamos no início de 2000”, diz. No início do século, os valuations estavam “consideravelmente” mais altos do que hoje, diz Malkiel. Ele também defende que o resultado das empresas de tecnologia atualmente é melhor do que em 2000 – enquanto em 2000 as companhias apresentavam crescimento tímido ou nulo, hoje há um crescimento de fato. Ele usa a Nvidia como exemplo e afirma: “o crescimento recente da companhia simplesmente não tem precedentes”.  

Isso não quer dizer, segundo ele, que o mercado não esteja exibindo uma exuberância irracional. “Os investimentos em tecnologias transformadoras revelaram-se muitas vezes pouco lucrativos para quem investe. Os investidores devem compreender que mesmo revoluções reais podem ser perigosas”, afirma.

Setor não é homogêneo

Henrique Vasconcellos, sócio e analista de Ações da Nord Research, ressalta que o mercado de tecnologia não é homogêneo. “Há várias empresas se beneficiando, umas mais, outras menos, e o mercado está tentando antecipar basicamente as que vão sair mais vitoriosas nessa corrida”, diz. Ou seja, é preciso ver caso a caso qual o resultado das empresas.

“A Nvidia definitivamente está no centro das atenções dos mercados ultimamente, apresentando um crescimento de receita de 265% na comparação anual, o que justifica os ganhos do papel de 212% em 2023”, diz Carvalho, da InvestSmart. Mas os resultados positivos não se limitam à Nvidia.

Segundo ele, na média, as sete magníficas reportaram crescimento de lucro de 56% — comparado a uma queda de 3% nos lucros das empresas que compõem o S&P, excluindo as 7 magníficas. Para Vasconcellos, “é uma combinação, uma melhora de resultados que vem acontecendo e uma contínua expectativa de que sigam melhorando”.

“A Nvidia faz o GPU, que é o principal fator para que os modelos de linguagem avançada operem, por isso ela está se beneficiando tanto. Mas outras empresas também estão. Você vê a própria Microsoft e a parceria com o ChatPT, com a OpenAI e o Copilot, além de outras companhias do meio, empresas que fazem a infraestrutura como um todo”, diz Vasconcelos. “A Nvidia pode ser a mais falada porque ela se tornou uma das maiores empresas do mundo nessa corrida pelo ouro da inteligência artificial, mas tem outras empresas aí que também se valorizaram”.

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Ainda há espaço para subir mais?

Há quem defenda que sim. Não só pelo avanço e potencial da tecnologia, mas pelo cenário macroeconômico.

“A expectativa do mercado de corte de juros pelo Banco Central Americano no meio deste ano também ajuda, não só empresas de tecnologia, mas as empresas do mercado”, diz Vasconcellos, da Nord. “Nesse sentido, há várias questões macro e questões micro nessa valorização do S&P desde março de 2023”.

No longo prazo, essa valorização depende da capacidade de cada empresa crescer, se manter relevante e lucrativa. “Tudo que envolve o uso da Inteligência Artificial e seus impactos efetivos para a economia ainda está em processo e, por isso, é difícil mencionar essa capacidade”, diz Alexandre Carvalho.

O momento atual, entretanto, exige cuidado e atenção dos investidores. “Com certeza há indícios de uma bolha, já que uma inovação tecnológica (Inteligência Artificial) fez com que os preços subissem mais do que os fundamentos da empresa”, diz Carvalho. Mas ele afirma que o cenário é diferente dos anos 2000, quando estourou a bolha das empresas de internet, que ficou conhecida como a bolha dot com, ou bolha ponto com.

“Toda crise é diferente. Então, se a gente estiver em um momento que vai entrar numa crise, provavelmente vai ser um catalisador diferente do que foi lá no passado. Tem a euforia do mercado, a animação, que é algo comum no começo e na formação de bolhas”, complementa Vasconcellos. “De fato, tem valuations de empresas que parecem bastante esticadas, assim como têm coisas que ainda parecem interessantes”.

Como investir no setor de tecnologia?

Diversificando por setores e ativos, e com cuidado, lembra Alexandre Carvalho, da InvestSmart. “Neste momento, identificar empresas com potencial de retorno pode ser um desafio, já que a maioria das empresas se encontra com múltiplos bastante esticados quando comparados à sua média histórica”, diz ele.

Vasconcellos, da Nord Research, destaca também a necessidade de estudar as empresas. “Eu acho que tem que estudar sempre, e entender o que as empresas fazem. Não adianta comprar qualquer coisa só porque a empresa está inserida no meio ou porque tem algum nome bonito. É preciso entender um pouco dos balanços, da dinâmica de resultados, se são sustentáveis, se não são sustentáveis e como que vai ser o comportamento de margens”, afirma.

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