O que dias de pânico no mercado ensinam sobre seus investimentos
Entender se sua carteira está adequada a seu perfil e aos seus objetivos é essencial para ter sucesso nos investimentos no longo prazo
Ninguém gosta de perder dinheiro. A psicologia financeira mostra, inclusive, que a dor de uma perda costuma ser maior do que a alegria de um ganho. Por isso, dias de turbulência nos mercados são difíceis para qualquer investidor — do mais conservador ao mais experiente. É inegável que o mês de abril foi de altos e baixos nos mercados globais. Mas esses momentos também trazem lições valiosas sobre sua carteira.
1. Diversificação é a chave
Momentos de crise e volatilidade podem ajudar o investidor a avaliar se sua carteira está aderente a seu perfil. “Se você está muito nervoso por estar perdendo em uma parte da sua carteira, é porque provavelmente a estrutura dela não está adequada ao seu perfil de investimento”, diz a planejadora financeira e co-fundadora da Vínea Gestão de Capital, Estela Borgheri. “Tirando os títulos de renda fixa pós-fixados, qualquer classe vai oscilar: renda fixa prefixada, indexada à inflação, crédito privado, fundos multimercados, ações ou ações americanas.”
O objetivo de ter uma carteira diversificada é justamente o de suavizar essas oscilações. “Se você tem uma carteira estruturada com renda fixa, multimercados, renda variável, ouro e ações de outras bolsas pelo mundo, a ideia é que, em diferentes momentos, algumas classes caiam — e outras subam”, explica Estela.
Isso acontece porque alguns ativos, como o ouro, são considerados “antifrágeis”, diz a planejadora. São investimentos que tendem a se valorizar justamente em momentos de incerteza, quando os investidores buscam segurança.
“Você prepara sua carteira para passar por diferentes fases do mercado. Isso quer dizer que vai ganhar sempre? Não. Vai haver momentos em que o retorno fica abaixo do CDI. Mas, com cabeça no longo prazo e estratégia bem definida, você entende que a carteira vai se recuperar”, diz Estela.
Ainda assim, a diversificação precisa respeitar o perfil de risco de cada investidor. “Se a pessoa é muito conservadora e não dorme bem vendo uma parcela da carteira cair, melhor ter uma carteira mais conservadora. A gente precisa respeitar o perfil de cada um”, completa a planejadora.
2. Não fazer nada nem sempre é a melhor escolha
É comum ouvir que em momentos de turbulência o investidor deve evitar movimentações. Mas isso nem sempre é o melhor a fazer. “Eu acredito que as carteiras precisam ser revisadas e ajustadas sempre”, diz Luciana Ikedo, planejadora financeira CFP e autora do livro Vida Financeira – Descomplicado, economizando e investindo. “É preciso olhar para os objetivos de curto, médio e longo prazo — e também para o cenário que está se desenhando.”
Para ela, momentos de forte volatilidade internacional indicam mudanças relevantes. “Pode ser que, dependendo do perfil, faça sentido reduzir risco, buscar novos ativos ou aproveitar oportunidades diferentes. Mas isso exige uma revisão cuidadosa da carteira.”
3. Mantenha o foco no seu plano de investimentos
Tomar decisões sob pressão é difícil — e, nos momentos de maior estresse, o risco de agir com base no medo aumenta. Como evitar esse erro e não cair no efeito manada? “Relembrando o plano como um todo, sempre com foco no longo prazo”, responde Luciana. “É preciso entender os medos do cliente, seus objetivos e o horizonte de tempo em que o dinheiro vai permanecer investido.”
Ela dá exemplos: “Se o objetivo é de curto prazo, não adianta a bolsa estar em um bom ponto de entrada. Da mesma forma, se o investidor é conservador e sofre com a marcação a mercado de títulos [de renda fixa] como o IPCA+, nem mesmo taxas atrativas vão compensar o desconforto. E se o perfil é arrojado, sair totalmente da bolsa pode gerar frustração se esse investidor perder o início de uma retomada.”
Estela concorda: “A carteira tem que ser pensada a partir dos seus objetivos”, diz. E, com base nisso, os ativos precisam estar alinhados com os prazos definidos. “Se é um dinheiro para ser usado em até três anos, a gente não recomenda nada que oscile muito. A partir de cinco anos é que se começa a considerar renda variável e ativos mais complexos.”
4. A liquidez da carteira importa — e muito
Outro ponto que ganha relevância em momentos de estresse é a liquidez da carteira. Ter ativos que possam ser resgatados ou realocados com facilidade faz toda a diferença, explica Luciana. “Vejo que o maior sofrimento em períodos de muita volatilidade é ter baixa liquidez.”
Isso limita a capacidade de reagir, seja para reduzir perdas ou aproveitar oportunidades. “Ter carteiras muito travadas dificulta o processo e costuma deixar o investidor mais estressado, porque ele não consegue se reposicionar com agilidade.”
Estela reforça a importância de manter uma parcela líquida, além da reserva de emergência. “Como você nunca sabe o que vai acontecer no próximo trimestre, é bom estar preparado. Uma boa oportunidade pode surgir — e liquidez é o que permite aproveitá-la.”
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