Open Finance ainda é pouco entendido – mas pode revolucionar o crédito e os investimentos
Painel na Febraban Tech mostra que, mesmo com baixa compreensão, o sistema já começa a transformar a experiência dos clientes e o mercado financeiro
Talvez você não se lembre, mas o Pix e o Open Finance (lançado inicialmente como Open Banking) começaram com poucos meses de diferença: o pagamento instantâneo chegou em novembro de 2020, e o sistema de compartilhamento de dados, em fevereiro de 2021. Anos depois, o Pix já virou rotina para os brasileiros, enquanto o Open Finance ainda é um mistério para muitos. Um painel no Febraban Tech 2025, nesta quinta-feira (12), discutiu como essa tecnologia é percebida no país – e o que esperar dela nos próximos anos.
Para Guilherme Assis, CEO da Gorila, o processo de adoção do Open Finance deve seguir caminho parecido com o da inteligência artificial generativa. Anos atrás, se alguém tentasse explicar o que é o ChatGPT, pareceria complicado demais. Até que uma empresa colocou a tecnologia na mão das pessoas, e elas começaram a usar – mesmo sem entender tudo que está por trás, comparou. “Tem um monte de infraestrutura, um monte de processo por trás, mas quando começa a ser usado, quando está na palma da mão de cada um, as pessoas entendem [o benefício]”, diz.
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Para ele e outros especialistas presentes no painel, o maior ganho do Open Finance será uma experiência mais personalizada para o cliente – com mais produtos e serviços à disposição.
Ana Carla Abrão, CEO da associação Open Finance Brasil, resume o potencial do sistema: “O Open Finance tem um objetivo, que é gerar impacto para o cliente e para a sociedade, com mais crédito e mais oportunidades de investimento.”
O modelo permite que os clientes autorizem o compartilhamento de seus dados entre diferentes instituições financeiras. Com essas informações acessíveis a bancos e fintechs, o cliente tende a receber ofertas mais adequadas de crédito, seguros e investimentos.
“Estamos em uma nova fase do Open Finance. É uma nova forma de as instituições se relacionarem com os clientes”, disse Ana Carla. “O sistema muda o eixo de escolha – que deixa de estar com os bancos e vai para o consumidor. Agora, a instituição tem que garantir que está oferecendo o que o cliente quer.”
Isso significa que o consumidor pode, por meio de um ou vários canais, acessar os produtos e serviços que melhor se ajustam ao seu momento de vida e às suas preferências. Mas, segundo Ana Carla, comunicar tudo isso de forma clara ainda é um desafio. “É pouco tangível hoje, mas precisamos garantir que o cliente entenda que, dentro do ecossistema, está mais bem atendido.”
Rafael Furlanetti, sócio da XP Inc., reforça a ideia de transformação: “Os muros que separavam as instituições financeiras foram derrubados, e pontes digitais estão sendo construídas. Elas vão permitir aos brasileiros investir melhor”, disse. “Obviamente temos desafios, inclusive regulatórios, porque o avanço tecnológico exige atualização normativa. Mas quem ganha com isso é o cliente.”
Na prática, o Open Finance pode ajudar consolidadores de carteira como a Gorila, que dependem de acesso a dados do mercado. “Somos entusiastas do Open Investments e Open Capital Markets”, afirmou Guilherme. “A competição e o mercado acabam indo para uma melhor experiência. A sofisticação da tecnologia não é o importante, importante é como você consegue entregar a melhor experiência para cliente”, diz.
Segundo ele, o mercado tem amadurecido. “O foco agora é entregar qualidade e hiperpersonalização para que o investidor tome decisões melhores, com ferramentas que façam sentido para seus objetivos de vida.”
Para a advogada Patricia Peck, especialista em direito digital, a adoção mais ampla do Open Finance depende de dois pilares: cultura e confiança. “As pessoas precisam confiar nessa estrutura para aderirem de fato. E o desafio está em fazer segurança e conveniência andarem juntas.”
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