Investir melhor

Os riscos do cenário internacional para os investimentos – e como se proteger deles

Tema foi discutido nesta quarta-feira durante o Tag Summit

O mundo hoje está muito diferente de cinco anos atrás. Antes de 2020, havia quem dissesse que as economias desenvolvidas não conviveriam mais com o risco de inflação alta e que a nova norma era ter taxas de juros próximas de zero. Quem acompanha o mercado sabe que nos últimos meses, o tema mais quente é o quanto os juros estão elevados nos EUA – e a inflação ainda demora a dar sinais de trégua. A globalização andava a passos largos. Não se falava de inteligência artificial. Como gerir seus investimentos em meio a tantas mudanças? Esse foi o tema de um painel realizado nesta quarta-feira (15/05) durante o Tag Summit, com a participação de Gargi Pal Chaudhuri, Chief Investment e Portfolio Strategist Americas da BlackRock, e Walter Maciel, CEO da AZ Quest.

Inflação e juros nos EUA

As expectativas de que o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) iria cortar suas taxas básicas de juros de forma agressiva ao longo de 2024 foram frustradas. Segundo Gargi Pal Chaudhuri, a Blackrock hoje espera dois cortes de juros por lá. A expectativa é de que o PCE, a medida de inflação preferida do Fed, encerre o ano perto de 2,8%, ainda acima da meta de 2%, mas já em trajetória de queda. ​Com isso, ela vê oportunidades de lucrar com a renda fixa, principalmente em vencimentos de três a cinco anos.

Walter Maciel concorda que esse é o horizonte em que há mais oportunidades na renda fixa americana. Mas ele alerta que, com a desaceleração da inflação, os cortes de juros podem criar boas oportunidades também em ativos de mais risco.

“As pessoas estão com posições fortes em proteção. Todo mundo já está com medo e cauteloso, mas quando os EUA começarem a reduzir os juros, países como o Brasil vão parecer muito baratos de repente”, diz ele. E no jargão do mercado, quando um ativo está muito barato, isso pode significar uma oportunidade de investir (antes de o preço começar a subir).

“Os ativos no Brasil estão mais baratos do que em abril de 2020”, lembra ele, período em que ainda pouco se sabia sobre o futuro, em meio à pandemia de covid-19. “Não faz sentido”.

Segundo Maciel, tanto as ações listadas no Brasil quanto o real podem se valorizar. “O real está 25% mais barato do que deveria. Juros, ações e moeda [no Brasil] podem se beneficiar muito quando a inflação nos EUA começar a dar sinais de convergência”.

Fragmentação geopolítica

As tensões entre as duas maiores economias do mundo – China e Estados Unidos – têm escalado ao longo dos últimos anos. Isso fez com que empresas e governos desses países passassem a priorizar o nearshoring e o friendshoring, ou seja, a escolha de locais geograficamente próximos ou aliados para a produção de bens e serviços.

“Isso já tem impactado os investimentos hoje”, diz Gargi Pal Chaudhuri. “Todas as empresas estão buscando trazer suas cadeias de abastecimento mais para perto, e isso pode afetar a inflação. Se o foco é segurança nacional, isso reduz a eficiência econômica”.

Países como Índia e México já colhem os benefícios dessa tendência. “O Brasil também pode se beneficiar, principalmente se se mantiver neutro nas relações com EUA e China e continuar como parceiro comercial de ambos”, diz Maciel.

Demografia

Ao ser questionada sobre se Índia e China irão superar os Estados Unidos no futuro, Gargi Pal Chaudhuri respondeu: “essa não é a pergunta mais importante”. O mais importante, segundo ela, é buscar entender quais outros países também irão crescer.

“Os principais drivers do crescimento econômico são produtividade e crescimento demográfico”, diz ela. “Nos Estados Unidos e na Europa, vemos uma queda na fertilidade”, o que passa a ser um fator a dificultar o crescimento econômico desses países. Por outro lado, países como Índia e outros asiáticos se beneficiam do crescimento da população.

“O importante é avaliar se temos exposição no portfólio de investimentos para aproveitar esse crescimento dos outros países [que não Índia e China]”, diz.

Mudanças climáticas

Outro ponto debatido no painel foi o risco das mudanças climáticas sobre os investimentos. Segundo Maciel, é difícil criar proteções para uma carteira contra eventos imprevisíveis, mas é possível “ter no portfólio investimentos em setores e áreas que você acha que serão menos afetados”. Como exemplo, ele comentou que a AZ Quest tem investimentos no agronegócio, mas que são mais concentrados em regiões como Centro-Oeste do País, menos expostas a eventos climáticos como os alagamentos que acontecem no Rio Grande do Sul.

“Temos também muito investimento em energia limpa, é o tipo de coisa que certamente vai receber mais atenção e foco dos governos por causa do risco [das mudanças climáticas”, diz.

Quer saber mais sobre investimentos sustentáveis? Confira este curso gratuito e online da B3!