Investir melhor

Por que investir é mais difícil para algumas pessoas?

Controle emocional e educação financeira têm potencial para democratizar investimentos

O número de investidores pessoa física no Brasil segue crescendo na bolsa de valores. Entretanto, o mundo dos investimentos ainda é distante para muitas pessoas que, por medo de prejuízo, nem pensam em investir.

Para descobrir por que alguns conseguem investir e outros não, o Bora Investir conversou com duas especialistas: Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da Iarep (sigla em inglês para Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica), e Beatriz Aguillar, analista e educadora no canal do Youtube Papo de Bolsa.

Qualquer pessoa pode investir?

É claro que ninguém nasce sabendo investir. Porém, de acordo com a doutora em psicologia econômica Vera Rita de Mello, há traços de personalidade que podem ajudar numa rotina de investimentos, como paciência, atenção a detalhes, curiosidade, raciocínio lógico e facilidade de conviver com emoções e impulsos.

“Também é relevante pensar que investir é uma forma de autocuidado. Da mesma forma que há pessoas que praticam esportes para cuidar da saúde, quem investe tem em vista sua saúde financeira”, observa Vera Rita.

De acordo com a educadora Beatriz Aguillar, a dificuldade que muitas pessoas têm ao investir pode estar ligada a uma condição da nossa sociedade.

“No Brasil, somos carentes de educação financeira nas escolas. Alguns movimentos tímidos passaram a ser realizados há pouco tempo, mas ainda temos diversas gerações que não tiveram essa oportunidade e seguem passando seus costumes e educação para frente”, avalia Beatriz.

Felizmente, há meios de superar os obstáculos citados pelas duas especialistas. Se o problema for a falta de traços de personalidade que favorecem o investidor, ou mesmo falta de tempo, Vera Rita lembra que sempre é possível contar com a ajuda de profissionais, como assessores e consultores.

Se o não conhecimento de conceitos financeiros for o que impede alguém de investir, Beatriz Aguillar cita a disseminação de conteúdos na internet, que cresceu muito nos últimos anos, como os conteúdos gratuitos da B3 Educação.

+ Tenho preguiça de investir. E agora?

Como perder o medo de investir?

Entre os motivos que desencorajam alguém a investir, está o medo de prejuízos. Segundo Beatriz Aguillar, existem estratégias para driblar esse receio. De acordo com ela, começar os aportes apenas em renda fixa e aos poucos migrar parte do capital para renda variável pode ser uma boa ideia.

“A pessoa investidora iniciante pode começar migrando 10% e, conforme ir se sentindo mais confortável e estudando mais, mirar nos 20% e assim por diante. Mais importante do que isso é respeitar o perfil de investidor. Investimentos foram feitos para trazer prosperidade e não tirar o sono”, recomenda Beatriz.

Outro fator que pode atrapalhar alguém a investir é o que a área de economia comportamental chama de viés do presente. Vera Rita explica que tal conceito se trata da tendência natural de preferir ganhos no presente, deixando de lado os obtidos no longo prazo.

“Para muitas pessoas, não faz sentido guardar dinheiro e usufruir no futuro”, diz a doutora em psicologia.

Pensando nisso, uma arma secreta ao investir pode ser os investimentos feitos de forma automática: entrar em contato com uma instituição financeira, escolher um tipo de aplicação e passar a direcionar uma quantia todos os meses. “Desse modo, passamos a contar com nossa inércia, tão natural quanto o imediatismo do viés do presente”, aconselha Vera Rita.

Manter a calma e controlar as emoções também são recursos psicológicos para superar o medo de investir. “Para a maioria das pessoas, o acompanhamento diário dos investimentos pode ser prejudicial, pois leva a atitudes impulsivas”, observa Vera Rita, com a ressalva de que as aplicações feitas de maneira automática também precisam de acompanhamento, mesmo que não seja com frequência diária.

Por fim, Vera Rita cita a obra de Nassim Taleb – autor de “a lógica do cisne negro”, entre outros livros – como lições de investimentos. “Na obra fica claro o conceito de atuar em posições perdedoras e seu estudo constante de eventos extremos e raros, como foi a pandemia”, pondera a doutora em psicologia.

“Isso mostra ao investidor que é preciso saber lidar com as adversidades e o inesperado, mais uma vez reforçando a importância de resistir às atitudes impulsivas e pensar no médio e longo prazo”.

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