Tudo o que você precisa saber sobre a análise fundamentalista
Técnica olha para os dados da empresa e da economia para analisar o valor dos ativos e as tendências de preço
Todo mundo busca um bom investimento para as suas economias e, na maior parte das vezes, esse retorno se dá quando adquirimos algo que tem potencial de se valorizar ao longo do tempo.
Na Bolsa de Valores, isso é traduzido como comprar um ativo em baixa (quando seu preço está menor do que o valor considerado justo) e vendê-lo em alta (quando sua cotação já superou a quantia paga anteriormente por ele).
Fica claro que, idealmente, para aumentar as chances de ganho, é preciso encontrar um ativo atraente e barato. Mas como saber se aquele preço está abaixo do mercado? Ou, ainda, como descobrir se um determinado título é tão bom a ponto de valer mais no futuro?
Responder a perguntas como essas é a missão de dois tipos de análises muito comuns no mercado financeiro: a análise técnica e a análise fundamentalista.
A técnica usa gráficos, como o Candlestick, e padrões estatísticos para entender o comportamento dos preços no pregão da bolsa.
Já a fundamentalista prefere estudar a situação financeira da empresa, suas perspectivas de crescimento, o cenário macroeconômico, entre outras variáveis, para traçar expectativas de valorização no médio e longo prazos.
É possível encontrar inúmeras definições para a análise fundamentalista, mas, no contexto dos investidores da bolsa de valores, ela implica a busca de ganhos em empresas subavaliadas, ou seja, aquelas oportunidades que estão passando despercebidas pela maioria dos investidores.
Quem usa essa estratégia acredita que os preços dos ativos tendem a encontrar um consenso do mercado no longo prazo. Nesse raciocínio, se uma companhia estiver valendo menos do que merece hoje, daqui a alguns meses ou anos, suas ações serão mais valorizadas, à medida que novos investidores também começam a perceber as qualidades daquele ativo antes ignorado.
Quanto maior a procura, mais o preço da ação se eleva, e quem leva a melhor nessa história são sempre os primeiros que adquiriram a “joia rara”, pagando um valor muito menor quando seu potencial de crescimento ainda não estava lapidado.
História da Análise Fundamentalista
O principal teórico da análise fundamentalista aplicada aos investimentos é o professor de Columbia, Benjamin Graham, autor do livro Investidor Inteligente.
Na obra, ele ensinou que as pessoas que se dedicam a procurar bons ativos a preços baixos não deveriam sofrer com a volatilidade dos seus papéis, pois um portfólio que contenha ações realmente baratas e de empresas de qualidade não tende a se desvalorizar muito em momentos de crise nos mercados.
Afinal, se a lição de casa fundamentalista foi feita de forma certa, as companhias baratas teriam pouco espaço para cair, em comparação com as demais companhias.
Outra provocação feita por esse teórico diz respeito ao “pensamento de sócio”, que diferencia todos aqueles que adotam a análise fundamentalista em sua tomada de decisão. Na prática, quem encara os investimentos dessa maneira costuma passar um pente fino em todas as informações disponíveis da empresa antes de aportar seu capital.
Os fundamentalistas adotam ainda o comportamento de “buy and hold”, ou seja, a ação é comprada com a intenção de ficar com ela – certamente por mais do que um ano – até que as premissas de alta se concretizem na bolsa.
Como fazer uma análise fundamentalista?
Em geral, a análise fundamentalista começa com o estudo da saúde financeira da empresa emissora da ação. Para ser economicamente saudável, um negócio precisa ter capacidade de gerar receita, manter as dívidas bem equacionadas – todas informações disponíveis nos balanços trimestrais –, adotar boas práticas de governança e conseguir investir visando à expansão.
Além de observar esses pontos, o checklist do analista inclui as vantagens competitivas da companhia e os possíveis desafios no setor em que ela atua.
O segundo passo é avaliar os principais termômetros do cenário macroeconômico, tais como a perspectiva de crescimento do PIB, as expectativas para inflação, projeção de taxa de juros, índice de desemprego e outros, tanto no Brasil quanto nos demais países relevantes para aquele segmento.
Fatores intrínsecos ao negócio (possíveis mudanças na regulação do setor, localização geográfica, diferencial no mercado, capacidade de inovação, recursos humanos, posicionamento frente à concorrência etc.) também são importantes para analisar as chances de valorização de uma empresa na bolsa.
Munido dessa visão, que se chama narrativa, o analista é capaz de traçar um diagnóstico financeiro considerando os resultados entregues pela empresa nos últimos anos e quaisquer anomalias que possam dar pistas sobre o que está acontecendo na gestão.
Esse raio-x será útil para saber qual é o risco de se investir no ativo. É muito comum o analista descobrir, depois de concluir toda essa pesquisa, que a ação está barata porque a empresa, de fato, não é boa.
Apesar de nenhuma compra de ações ter sido feita, os estudos realizados não foram em vão. Afinal, a análise servirá para manter esses investidores longe desse ativo.
Aprenda a máxima: evitar prejuízo é tão bom como obter lucro!
A próxima etapa é fazer uma projeção do fluxo de caixa da companhia (uma fórmula que calcula o que entra e sai do caixa, como o faturamento e os custos para manter a operação).
Esse processo pode revelar o valor gerado pelo negócio, sugerindo se o atual preço das ações daquela empresa está considerando seu potencial de valorização.
A análise é concluída com a comparação entre os fundamentos apurados, o preço da empresa e os seus concorrentes na bolsa. Isso é fundamental para se chegar à percepção de caro ou barato para a ação, pelo menos, em relação aos seus pares no pregão.
Na prática, a análise fundamentalista é feita de modo personalizado, de acordo com a experiência, o acesso às informações, o conhecimento e a experiência de cada investidor. Mas, basicamente, os princípios aplicados em todos os processos são:
- Estudo dos demonstrativos financeiros: análise de dados quantitativos do negócio;
- Cálculos e estimativas: a partir dos dados coletados, são realizadas projeções de médio a longo prazo;
- Comparação com outros ativos: define-se nesta etapa uma referência, a fim de comparação da companhia e seus pares;
- Decisão sobre o Risco x Retorno: após todas as etapas, é preciso avaliar se o valor da ação analisada está ou não barato, de acordo com o risco assumido para aquele investimento.
Exemplo de check-list na avaliação fundamentalista
A análise fundamentalista utiliza como base para os seus estudos tanto métodos quantitativos (com foco nos números) quanto qualitativos (mais subjetivos). Veja alguns exemplos:
- Dados quantitativos: pagamento de dividendos, dados das demonstrações financeiras das empresas, margens operacionais, entre outros;
- Dados qualitativos: qualidade da gestão da empresa, estrutura do conselho administrativo, política de governança, representação da marca, capacidade de gerar receita com o tempo, market share do setor e muito mais.
Quais os principais indicadores da análise fundamentalista?
A análise fundamentalista é um processo que pode durar meses até chegar a projeções concretas. Isso porque ela envolve a apuração de diversas informações, não só sobre a empresa alvo, como também sobre as companhias que farão parte de uma espécie de “grupo de controle” dessa pesquisa de campo. Conheça as fontes de dados mais utilizadas pelos analistas:
- Balanço patrimonial: este balanço pode ser avaliado em um período trimestral ou anual. Ele funciona como uma grande fotografia da empresa em relação aos ativos (bens), passivos (despesas) e o PL (Patrimônio Líquido – Capital Acumulado).
- Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE): mostra, no período de um ano, se a companhia obteve lucro ou prejuízo.
- Demonstrativo de fluxo de caixa (DFC): ao comparar os ciclos, é possível constatar como ocorre a entrada e a saída de dinheiro do caixa da instituição.
A partir dessas fontes de dados, os analistas calculam os chamados “múltiplos” ou “índices“, que são números financeiros combinados com o preço do ativo, cujos resultados são capazes de revelar o potencial de valorização do negócio perante os participantes do pregão.
Um múltiplo alto indica que um ativo pode estar sobrevalorizado, do mesmo modo, um índice baixo costuma revelar uma subavaliação. Conheça alguns exemplos de indicadores usados pela análise fundamentalista:
- Índice P/L (Preço dividido pelo Lucro): é a relação entre o valor da cotação do ativo na bolsa sobre o seu ganho líquido.
- Preço/ Valor Patrimonial: é o preço da cotação do ativo sobre o valor patrimonial do negócio.
- Ebitda ou LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização): é o lucro operacional da empresa. A partir dele é feito o cálculo da margem Ebtida, ou seja, a divisão do lucro obtido pela companhia pelas receitas obtidas, em um determinado período. Há ainda o EV/Ebitda, que estima quantos anos de lucro operacional seriam necessários para atingir o valor da empresa no mercado.
- Dividend Yield: é calculado a partir dos proventos distribuídos pela empresa sobre o preço da sua ação na bolsa.
Análise fundamentalista e análise técnica: qual utilizar?
As duas abordagens são completamente distintas. A análise técnica parte do pressuposto de que o preço de mercado reflete todas as informações disponíveis sobre a empresa, ou seja, existe eficiência de mercado. Todo o processo de análise é baseado no comportamento do preço e os seus padrões gráficos. A crença de que os padrões se repetem guia as decisões de compra ou venda.
Já na análise fundamentalista confia-se na tese de que o mercado sempre deixa passar pechinchas e essa ineficiência sistemática leva ao acúmulo de ganhos no longo prazo. Na prática, a análise técnica costuma ter um desempenho melhor em estratégias de curto prazo e a fundamentalista devem ser mais utilizadas em estratégias de investimentos a longo prazo.
Qual análise utilizar, então? Isso vai depender do seu perfil como investidor. Se você se identificou mais com a análise fundamentalista, isso pode ser um sinal de que, no fundo, você tem a mentalidade de sócio e prefere adotar uma visão ampla do ativo a ser comprado, além de buscar retornos de longo a médio prazos.
E aí, o que você achou do conteúdo? Caso você queira se aprofundar ainda mais nesses tipos de análises, acesse os cursos do Hub de Educação Financeira da B3: