Mercado de carros elétricos cresce no país com novos investimentos; vale a pena ter um?
Vendas avançaram 91% em 2023, apesar dos preços altos. “Carro eletrificado é como um investimento”, diz especialista da KPMG. Montadoras iniciam a produção no país em 2024
O sonho de comprar um carro sempre fez parte dos objetivos financeiros de muitos brasileiros. A chegada das novas tecnologias elétrica e híbrida ao país despertou ainda mais interesse pelo mundo moderno sobre quatro rodas.
As vendas de carros de passeio eletrificados atingiram 93.927 no ano passado, um crescimento de 91% sobre 2022 (49.245), segundo a Associação Brasileira do Veículos Elétrico (ABVE).
Os veículos chamados de plug-in (que têm recarga externa das baterias) representaram 56% das vendas (52.359 unidades), seguido dos híbridos convencionais a gasolina e flex (41.568), que dominavam o mercado no ano anterior.
Para o presidente da ABVE, Ricardo Bastos, o aumento do Imposto de Importação de veículos elétricos e híbridos, a partir de janeiro deste ano, provocou uma antecipação das vendas no último bimestre de 2023.
“Os números indicam principalmente uma sensível evolução desse mercado neste ano, com os veículos plug-in chegando a dois terços das vendas em dezembro”, afirmou. A melhora também foi puxada pelos novos modelos lançados no mundo pela BYD e GWM.
Essa tendência positiva continuou em janeiro deste ano, quando a venda de híbridos e elétricos somou 12.026 – alta de 167% sobre os 4.503 emplacados no mesmo mês de 2023, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Apesar dos números positivos, o mercado de eletrificados no país ainda é muito pequeno, representa 0,5% da frota nacional. Uma projeção da Bright Consulting mostra que até 2030, os veículos eletrificados (híbridos e plug in) devem chegar a 10% da frota.
O cenário brasileiro ainda é bem diferente, por exemplo, da China que vendeu 10,6 milhões de veículos entre 2020 e 2023, segundo dados da Jato Brasil.
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Por que os preços são tão altos no Brasil?
Atualmente todos os modelos 100% elétricos no Brasil são importados e com preço médio em torno de R$ 150 mil, o que deixa esses veículos bem longe da realidade dos brasileiros.
Para se ter uma ideia, os modelos mais baratos a combustão, ou seja, aqueles que utilizam gasolina ou álcool, custam R$ 70 mil – enquanto os eletrificados e híbridos partem do dobro desse valor.
Isso acontece porque os eletrificados possuem equipamentos com tecnologia bem mais recente e sofisticada, o que ajuda a elevar os custos. Isso sem falar da crise dos semicondutores – peças essenciais para a indústria automobilística e que têm enfrentado escassez global desde a pandemia.
A cotação do dólar frente ao real, já que todos os carros 100% elétricos vem de fora do país, também impacta nos preços. Mesmo com a produção desses veículos no Brasil a partir deste ano, o líder do setor Automotivo da KPMG, Ricardo Roa, acredita que os preços não devem baixar.
“Vai ter uma competitividade forte quanto maior for portfólio brasileiro dentro dessa tecnologia. Isso pode levar as empresas a dar descontos para alavancar as vendas, meio como acontece hoje”.
Diante desse quadro, vale ou não comprar um veículo elétrico? O especialista responde que é preciso colocar os custos na ponta do lápis e pensar o carro eletrificado como um investimento.
“Um veículo a combustão em torno de R$ 115 mil e um híbrido de R$ 150 mil. Em três anos, o consumo do elétrico será mais vantajoso – pensando numa gasolina em torno de R$ 5, em comparação a eletricidade que tem um custo mais baixo. O motorista vai gastar muito menos no final do mês e no longo prazo. Portanto é um investimento”.
Investimentos para crescer
O governo lançou no fim do ano passado o programa Mover – Mobilidade Verde e Inovação – para incentivar o investimento na produção nacional de veículos elétricos. Apenas neste ano, a iniciativa deve conceder R$ 3,5 bilhões em créditos financeiros para que as montadoras invistam em descarbonização.
Parte desse valor está prevista na Lei Orçamentária Anual, no total de R$ 2,9 bilhões. Os outros R$ 600 milhões serão compensados pelo aumento do imposto de importação para os carros elétricos, já em vigor. A elevação do tributo será gradual até 2026, quando a alíquota será de 35%.
O líder do setor Automotivo da KPMG afirmou que o setor precisa de incentivos do governo e investimentos das montadoras para firmar essas novas tecnologias no Brasil.
“O programa do governo é arrojado no sentido de dar créditos financeiros relevantes para as empresas que começarem a investir em tecnologia dentro do Brasil. Ou seja, dar incentivos para parar de importar, produzir aqui e até passar a exportar”.
O presidente da ABVE afirma que o programa vai permitir que as empresas preparem com mais clareza seus planos de investimento, tanto para veículos leves, quanto para veículos pesados, como ônibus e caminhões. E que em 2024, o setor deve voltar a surpreender.
“Ainda estamos avaliando o efeito das novas alíquotas do imposto de importação, mas já posso antecipar que ainda assim teremos boas surpresas”, concluiu Ricardo Barros.
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Quando começa a produção de elétricos no Brasil?
As chinesas BYD (Build Your Dreams), GWM (Great Wall Motors) e a Stellantis (dona da Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM) estão entre as companhias que devem começar a produzir no país ainda em 2024. O Brasil é o oitavo maior produtor de veículos do mundo.
A BYD, por exemplo, se instalou em Camaçari, na Bahia, na antiga fábrica da Ford. A companhia, que ultrapassou a Tesla como a fabricante de veículos elétricos mais vendido no mundo, deve fazer investimentos na ordem de R$ 3 bilhões.
Para se ter uma ideia, apenas no 4º trimestre de 2023 a empresa vendeu 530 mil carros em todo o planeta – bem acima dos 485 mil da companhia de Elon Musk. No ano passado, a chinesa reportou um lucro de US$ 1 bilhão no 3º trimestre.
Na semana passada, a Volkswagen anunciou um investimento no Brasil de R$ 9 bilhões, para o período entre 2024 e 2029. Os novos recursos se somam ao plano anterior de R$ 7 bilhões, anunciado no fim de 2021 e que vai até 2026.
Os 13 mil funcionários devem ajudar a desenvolver carros híbridos que poderão ser abastecidos com etanol para o mercado interno e exportação. O novo motor será fabricado em São Carlos, no interior de São Paulo. A montadora alemã deve lançar 16 novos modelos até 2028, incluindo híbridos, 100% elétricos e Total Flex.
No lançamento do plano de investimentos, o presidente da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, afirmou que é preciso inserir o país no mapa mundial da eletrificação e o ambiente econômico favorável sustenta a decisão.
“No primeiro momento, o novo aporte já contempla o desenvolvimento e a produção de projetos inovadores e com foco em descarbonização para as quatro fábricas da Volkswagen do Brasil”.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar parte desse plano da montadora, com R$ 500 milhões no âmbito do programa para desenvolver sistemas de mobilidade sustentáveis.
“O objetivo é desenvolver novas tecnologias que contribuam para a descarbonização e a redução da emissão de poluentes da frota nacional, alinhados à sustentabilidade, à eficiência e à transição enérgica para os próximos anos”, explicou o presidente do banco de fomento, Aloizio Mercadante.
Na semana anterior, a General Motors anunciou um plano, de R$ 7 bilhões, também para o período de 2024 a 2028. Já a Stellantis deve divulgar em breve novas decisões de investimentos.
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O total de recursos dos fabricantes de carros desde 2021, para esta década, soma R$ 41,4 bilhões – metade anunciada nos últimos 90 dias. Para Ricardo Roa, essa aceleração dos investimentos acontece diante do ambiente econômico mais estável e da Reforma Tributária.
“Para os mercados no exterior, o Brasil está começando a criar uma maturidade que há anos se espera. A reforma não vai diminuir impostos, mas sim a burocracia. As ações que tomamos agora vão ser o reflexo no longo prazo, com um país relevante dentro desse ecossistema de desenvolvimento frente a cadeia global”
Ainda segundo o especialista da KPMG, os investimentos também aumentam à medida que o Brasil começa a definir a futura matriz energética dos automóveis – que deve ser uma mistura de eletrificação e Etanol.
“O setor canavieiro é muito forte no Brasil, além de ser uma matriz sustentável. Por isso o híbrido com bateria e etanol começa a ser pensado e desenvolvido no país. As fábricas estão de olho para daqui quatro, cinco anos”.
Entraves para o setor
Com a frota de veículos elétricos bastante reduzida no país, os pontos de carregamento são um problema a ser enfrentado, principalmente fora das grandes cidades. O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
“O carro puramente elétrico hoje no país é um tiro no pé. Não há postos de abastecimento suficientes para atender uma alta demanda. O próprio governo tenta subsidiar empresas que querem investir em rede de abastecimento”.
Outros entraves para o setor passam pelo baixo poder aquisitivo das famílias brasileiras e o custo Brasil.
“São obstáculos políticos e econômicos. O custo de mão de obra, por exemplo, é muito caro comparado com outros mercados, como a China. Então é melhorar a infraestrutura, o poder de compra da população e diminuir o custo Brasil, com reformas tributária, trabalhista e previdenciária”, conclui Roa.
Veja as novas taxas para importação de veículos eletrificados
Híbridos
15% em janeiro de 2024;
25% em julho de 2024;
30% em julho de 2025;
35% em julho de 2026.
Híbridos plug-in
12% em janeiro de 2024;
20% em julho de 2024;
28% em julho de 2025;
35% em julho de 2026.
Elétricos
10% em janeiro de 2024;
18% em julho de 2024;
25% em julho de 2025;
35% em julho de 2026.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio
Lista dos veículos elétricos leves mais vendidos em 2023
Fonte: ABVE
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