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Peso desvalorizado, vale a pena viajar para a Argentina? Veja preços e descubra

A impressionante desvalorização do peso na Argentina desde 2020 deixa os turistas brasileiros ouriçados para realizar uma viagem mais barata para o país. Mas a inflação de três dígitos pode pesar na conta

La Boca, na Argentina. Foto: janeannecraigie/ Pixabay
La Boca, na Argentina. Foto: janeannecraigie/ Pixabay

A impressionante desvalorização do peso argentino desde 2020 deixa os turistas brasileiros ouriçados para realizar uma viagem mais barata para a Argentina. Em 2020, a cotação oficial da moeda do país vizinho era R$ 0,08. Hoje, está em R$ 0,02.

Mas antes de se empolgar é necessário colocar na conta a inflação do país vizinho, que estourou no período. Nos últimos 12 meses encerrados em março, a alta dos preços chegou a três dígitos e atingiu 102%. É a primeira vez em mais de 30 anos que isso acontece.

Mas, afinal, compensa viajar para a Argentina? O câmbio desvalorizado pode equilibrar essa alta de preços? Para tirar a dúvida, o site Quanto Custa Viajar fez algumas comparações a pedido do Bora Investir. E o resultado mostra que a inflação está ganhando nesta conta – ao menos quando se trata do câmbio oficial.

Quanto se gasta de alimentação na viagem para a Argentina?

Em maio de 2020 um corte de carne famoso na Argentina, o lomo de bife (equivalente a um filé mignon) custava em torno de 600 pesos com a cotação oficial do peso argentino a R$ 0,08, o que equivalia a R$ 48. Hoje em dia com a cotação oficial a R$ 0,02 o mesmo corte custa em torno de 4.500 pesos, ou R$ 104.

Se você quiser experimentar um ojo de bife, outro corte de carne típico argentino, na Don Julio, uma churrascaria premiada, teria de desembolsar 4.150 pesos em janeiro de 2022, o equivalente a R$ 207 na cotação da época. Mas o preço foi para 13.090 pesos em janeiro de 2023, ou seja, custa R$ 261 na cotação atual.

Já um café da manhã com café, torradas com queijo, geleia e suco de laranja em setembro de 2022 custava 480 pesos, ou R$ 14 com a cotação de época. Em março de 2023 o item passou para 780 pesos (também R$ 14 com a cotação da data).

Quanto custa transporte e hospedagem na Argentina?

A tarifa base de táxi em Buenos Aires em 2022 era 85 pesos (R$ 6,8). Atualmente, subiu para 225 pesos. Ou seja, com a cotação atual, diminuiu para R$ 5,17.

Um hotel em julho de 2022 com nota 8 e boa localização custava no site Booking R$ 144. Hoje em dia a mesma hospedagem custa R$ 324.

Outros preços

Dados do comparador de bilhetes aéreos Viajala apontam que preços de passagens aéreas para Buenos Aires registram uma leve queda em relação ao ano passado.

O preço médio de voos de ida e volta para Buenos Aires partindo de São Paulo custava R$ 1.415, em março de 2022, e caiu 5% para R$ 1.344 doze meses depois. Já voos partindo do Rio passaram de R$ 1.573 para R$1.508 no período, uma queda de 4%.

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“Logo que a Argentina foi reaberta, houve um pico nos preços, mas eles já estão estabilizados em patamares mais baixos. Hoje é possível encontrar, procurando com antecedência, passagens de ida e volta por R$ 1.200, um valor mais próximo do pré-pandemia”, diz Rodrigo Melo, diretor comercial do Viajala.

No quesito compras, uma blusa de cashmere masculina pode ser encontrada por 19 mil pesos na Calle Florida, famosa rua de comércios em Buenos Aires. Ou seja, R$ 437 pelo câmbio oficial.

Assistir a um concerto no Teatro Cólon custa 12.400 pesos. Ou seja, R$ 285. Ir a uma exposição no museu Malba custa 1.300 pesos a inteira e 650 pesos para estudante: R$ 30 e R$ 15, respectivamente.

É a cotação paralela que torna preços vantajosos

Calma, nem tudo está perdido. O segredo é utilizar a cotação do mercado paralelo, que é metade da cotação oficial, ou seja, R$ 0,0125. Dessa forma, a alimentação, transporte, compras e ingressos de passeios ficam mais baratos.

E você nem precisa ir até a Calle Florida e negociar a moeda de forma ilegal. A cotação do chamado “câmbio Blue”, bem abaixo do oficial, pode ser acessada pela Western Union. Basta baixar o aplicativo e enviar o dinheiro por PIX a partir de sua conta brasileira. Depois, basta sacar o valor aos poucos, em pesos, em diversos pontos da cidade.

No caso de valores mais altos, a recomendação é preferir agências oficiais maiores. Já pequenas quantias, podem ser sacadas em máquinas disponíveis nos pequenos comércios, como papelaria, lojas, farmácias e lotéricas.

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Alguns cartões de crédito, como o Visa e Mastercard, também estão trabalhando com valores próximos à cotação paralela. Porém, é necessário lembrar que usar o cartão acarreta em uma cobrança de 5,38% de IOF.

No caso do ojo de bife, por exemplo, ao invés de pagar R$ 261, o turista paga R$ 130 com a cotação paralela, menos do que pagaria na cotação oficial em janeiro de 2022.

Mas compras podem nem sempre ser vantajosas, mesmo com o câmbio paralelo. A blusa de cashmere la Calle Florida ainda custará R$ 237.

Já assistir um concerto no Teatro Cólon sairá por R$ 155, enquanto a visita ao Malba cai para R$ 16. Comprar um vinho que custa R$ 150 no Brasil cai para R$ 100 na cotação oficial e R$ 45 na cotação paralela.

Atenção para passeios turísticos dolarizados

A conclusão é de que dá para conseguir bons preços na Argentina, ao menos em relação ao que se pagaria em cidades como São Paulo (que, é bom lembrar, também ficou mais cara). E isso será verdade especialmente se você usar a cotação paralela da moeda. Mas não há milagre, especialmente se você ainda não conhece o país e deseja fazer passeios mais turísticos.

Isso porque, assim como em países vizinhos, como o Uruguai, a Argentina tem uma cultura dolarizada. Diferente do Brasil, onde somente é possível adquirir serviços e comprar produtos em reais, na Argentina faz parte do cotidiano usar dólares também. É uma forma de os moradores se protegerem contra a inflação descontrolada, explica Eliane Habib, planejadora financeira certificada pela Planejar.

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Isso é uma má notícia para o turista. Mesmo que o pagamento de city tours, shows de tango, vinícolas e passeios essencialmente turísticos seja feito em peso, ele será baseado em um preço em dólar, que continua alto para brasileiros. “Portanto, a dica é fazer conta e comparar para achar preços realmente mais baixos. A inflação descontrolada pode fazer com que os preços sejam muito diversos e nem todos estejam reajustados”.

Para quem deseja economizar, a dica é se concentrar em atrações gratuitas pela cidade e passeios por conta, utilizando táxi ou transporte público. Viajar fora da alta temporada ou feriados também permite driblar preços mais altos de passagens aéreas, que, é bom lembrar, são cotados em dólar e tem um peso grande no orçamento da viagem.

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