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Consórcio: busca dispara e administradoras modernizam produto

No Google, a procura por consórcio tem crescido e alcançou recorde em 2024

Consórcio, financiado ou à vista: os prós e contras dessas três formas de comprar um imóvel

Consórcio vale a pena?”. Essa pergunta nunca foi tão feita pelos brasileiros no Google quanto em janeiro deste ano. Nos últimos 12 meses, essa é a versão mais buscada entre as pesquisas de “… vale a pena?” na categoria finanças. Essa procura superou, inclusive, a então vencedora do ranking de dúvidas, “previdência privada vale a pena?”.

O segmento de consórcios tem crescido e vem ganhando novas características nos últimos anos. De um produto visto muitas vezes como “ultrapassado”, passou a chamar a atenção até dos mais jovens com modelos em que a contratação e contemplação são feitos pela internet. Em 2023, esse mercado acumulou R$ 316,7 bilhões em negócios realizados e 4,18 milhões de novas cotas vendidas. Em janeiro desse ano, o sistema de consórcios somava 10,36 milhões de participantes ativos, de acordo com os dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC).

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Juros altos estimulam a busca

Um dos principais fatores a impulsionar a busca por consórcios é o atual nível das taxas de juros. De agosto de 2022 a agosto de 2023, a Selic foi mantida em 13,75% ao ano, fazendo subir também o custo do crédito no País. Mesmo com a taxa em 10,75% hoje e a trajetória de queda desde o terceiro trimestre do ano passado, o nível atual ainda é considerado elevado por muita gente que pretende fazer algum financiamento ou buscar outra linha de crédito.

“As pessoas estão cada vez mais conscientes do valor pago no final de um financiamento. No consórcio, como não há taxa de juros e a taxa de administração é prefixada, você faz isso de forma mais planejada”, afirma Helton Queiroz, gerente da filial de Salvador da Embracon.

Queiroz lembra ainda que a população tem tido dificuldade de acessar outras linhas de crédito. “Hoje, o acesso a crédito está muito difícil, mas a vontade [de comprar] não passou. Quem não é aprovado em um financiamento tem duas outras formas de comprar: à vista ou via consórcio”, diz ele.

Guilherme Carrasco, vice-presidente executivo da Ademicon, concorda que a dificuldade de acesso o crédito impulsiona a busca pelo produto. Além disso, ele cita a maior educação financeira da população. “De uns quatro ou cinco anos para cá, o mercado vem mudando muito, na esteira da busca das pessoas por planejamento financeiro”, diz.

Para Francis Silva, CFO do Mycon, é inegável que o movimento de alta da Selic tenha como reflexo o aumento da busca por consórcio, mas esse não é o único ponto. “Quando a taxa de juros está mais elevada, existe uma tendência de venda maior no consórcio”, lembra. “Porém, quando a gente pega esse período que o consórcio mais cresceu, de 2018 para cá, houve uma parte em que as taxas de juros estavam muito baixas. E o consórcio cresceu muito. Então aí eu coloco o crescimento na conta da modernização, do acesso online”, afirma.

Carrasco complementa: “nos últimos 20 anos, o mercado de consórcio triplicou, e tivemos todas as condições possíveis na nossa economia, de excesso e falta de liquidez, um período de inflação elevada, e o grande teste, que foi o período de juro estrutural baixo, que aconteceu em 2020”, afirma. Mesmo naquele ano, diz o executivo, o mercado de consórcios cresceu. “O consórcio é produto resiliente, não tem sensibilidade ao padrão de juros, mas à dificuldade de acesso ao crédito. E principalmente quando o juro cai, as instituições financeiras ficam mais seletivas”.

Maior digitalização atrai público mais jovem

Outro impulso para o crescimento desse mercado foi a maior digitalização ao longo dos últimos anos. Hoje, diversas administradoras permitem a contratação do consórcio via aplicativo, e a depender do caso, até a contemplação do bem é feita online. “O setor tem se modernizado, acho que é uma tendência. Obviamente, o período da pandemia acelerou esse movimento. O consórcio tradicionalmente era muito vendido em agências bancárias, e as pessoas deixaram de ir às agências na pandemia”, diz Francis Silva, CFO do Mycon.

Os novos players como fintechs e a maior digitalização trouxeram para o mercado também um público que pouco conhecia esse produto. “O consórcio era conhecido na década de 90, início dos anos 2000. Durante um tempo, uma geração mais jovem não conhecia, então essa modernização trouxe também uma abertura para esse público mais novo conhecer o consórcio”, diz Silva.

Com as contratações online e sem a necessidade de um vendedor, foi possível também reduzir os custos, diz o CFO do Mycon. “Quando a gente foi para um modelo de desintermediação, o custo operacional fica menor e a gente conseguiu praticar uma taxa também menor para o cliente”.

A gestão do consórcio também ficou mais fácil online. Se antes era preciso ligar para o gerente para saber se sua carta havia sido contemplada, hoje é possível acompanhar via app as estatísticas de seu grupo de consórcio, além da opção de dar lances e até de negociar as cartas contempladas.

Para Carrasco, da Ademicon, no entanto, a venda do produto ainda depende em grande parte da consultoria dada pelos vendedores. “Em nossa experiência, a conversão na venda 100% digital é baixa. O cliente chega na gente pelo digital, mas em algum momento da jornada prefere falar com um consultor”, diz. Ele defende que esse contato ainda é importante para explicar o produto e suas características, o que reduz os cancelamentos após a contratação.

Tem crescido também a adesão ao modelo para outras finalidades que não a compra de automóveis e imóveis. É o caso dos serviços, por exemplo, que permitem usar o consórcio para pagar uma cirurgia eletiva, um tratamento odontológico ou para pagar uma viagem.

Quais os cuidados antes de contratar um consórcio?

Em primeiro lugar, é importante comparar as taxas e as diversas opções disponíveis no mercado, e entender qual delas se encaixa melhor no seu perfil. Faça simulações para entender se a parcela irá caber no seu orçamento.

Depois disso, o próximo passo é checar as administradoras, que precisam de autorização do Banco Central para operar. Para isso, basta ir ao site do BC e buscar pela instituição, nesta página. Também é útil ver a posição da administradora no ranking de reclamações do BC, neste link. Depois disso, vale consultar órgãos de defesa do consumidor, para verificar se há reclamações contra a empresa.

E vale lembrar também que quando se entra em um consórcio, é preciso esperar até que sua cota seja contemplada para que você adquira o bem – ou seja, se está entrando em um consórcio para comprar um imóvel, deve considerar que pode demorar até que você seja contemplado, e até lá, terá de continuar pagando aluguel, por exemplo.

Para mais conteúdo de finanças pessoais, confira o Hub de Educação Financeira da B3.

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