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Efeito manada: como ele influencia decisões e afeta investimentos e finanças

Economia comportamental explica as origens do efeito manada e como evitar que ele prejudique suas finanças

Efeito manada. Foto: Pixabay
São muitos os exemplos de efeito manada na nossa rotina e eles não têm nada a ver com falta de personalidade ou imaturidade. Foto: Pixabay

A expressão “Maria vai com as outras” se refere a pessoas que repetem o comportamento de um grupo, e não costuma ser considerado um elogio. Já o efeito manada costuma estar relacionado a quem seria considerado imaturo e ‘sem personalidade’. Essa relação, contudo, é um dos maiores erros quando se trata desse comportamento.

Isso porque, não importa a idade e nem o grau de escolaridade, todos já seguimos a manada em algum momento, e ainda vamos fazer isso ao longo da vida. Um exemplo é pensar nas vezes em que foi a alguma festa, que nem queria tanto, só porque todos os seus amigos estariam lá. Ou quando comprou algum item porque um determinado grupo estava comprando, ou maratonou uma série só porque estava na lista das mais assistidas.   

São muitos os exemplos de efeito manada na nossa rotina e eles não têm nada a ver com falta de personalidade ou imaturidade. A especialista em Economia Comportamental e fundadora da consultoria InBehavior Lab, Flávia Ávila explica como funciona esse comportamento.

O que é efeito manada, então?

O efeito manada é justamente essa tendência de seguir outras pessoas em qualquer tipo de decisão, das pequenas do dia a dia, como no caso da festa, às maiores, como investir milhares de reais em algum ativo só porque muita gente está fazendo o mesmo.

“Muitas vezes a gente acha que é falta de inteligência e entendimento, mas, na verdade, o efeito manada é um atalho mental do nosso cérebro para não gastar tanta energia na tomada de decisão”, diz Ávila.

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Por que seguimos a manada?

Segundo a especialista, a resposta é mais simples que o esperado: para sobreviver, em alguma medida. Segundo a Economia Comportamental, as pessoas buscam, basicamente, duas coisas na vida: evitar a dor (a perda) e ter mais prazer (o ganho).   

“Em outras palavras, grande parte das nossas decisões, principalmente as financeiras, é influenciada por esses dois fatores. Mas, eles não atuam de forma isolada. Há comportamentos que ajudam a evitar a dor e aumentam o prazer ao mesmo tempo.”, diz ela.

Acompanhar as decisões de um grupo é um deles. Ou seja, as pessoas seguem a manada porque têm medo de perder e porque acreditam que têm mais chances de ganhar. Tudo isso é inconsciente, claro. Você não pensa sobre isso na hora de seguir a manada. Na verdade, muitas vezes você sequer se dá conta de que está seguindo a manada.

Ainda tem um tempero nesse processo: ele não pode ser custoso. Essa vida sem dores e com ganhos precisa ser fácil, simples e sem muita complicação. De novo, isso não é exatamente consciente, mas é a forma como o seu cérebro funciona. Em linhas gerais, ele trabalha a maior parte do tempo tentando economizar energia. E decidir alguma coisa requer muita energia.

Em outras palavras, quando você segue a manada, além de evitar a dor de ficar sozinho e o ganho de fazer parte de um grupo, você ainda evita gastar tanta energia pensando sobre aquelas decisões.    

“O efeito manada trabalha esse processo de economia de energia, de dinheiro, de tempo. Se todo mundo está fazendo é porque é bom. Não preciso pensar sobre isso. Se você perde, não perde sozinho. Se você ganha, ganha ‘fácil’, porque não gastou muita energia para conseguir e ainda se sente parte de algo”, explica Flávia.

Como o efeito manada afeta meu dinheiro?  

Quando o assunto é dinheiro, o efeito manada pode fazer você perder por dois motivos, principalmente: pela natureza da própria decisão, que pode estar errada e por permanecer no erro.

Lembra do exemplo da festa? Ao seguir seus amigos, você gastou o dinheiro do transporte e do bar e pode nem ter se divertido tanto assim. O problema aqui é que dificilmente você racionaliza essa perda. O que te marca é o momento prazeroso em grupo com seus amigos.

“Ou seja, as chances de você repetir esse erro são enormes. É nesse ponto que o efeito manada pode ser mais prejudicial para suas finanças. Você permanece no erro, seguindo o grupo, sem se dar conta das perdas”, destaca a Ávila.

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O que acontece nos investimentos? 

Para quem investe, o risco de perder dinheiro por causa do efeito manada é ainda maior. Primeiro porque ele mexe mais fortemente com o medo de perder e com o desejo de ganhar. 

Dificilmente você vai encontrar alguém que não goste da ideia de ganhar muito dinheiro com pouco esforço. E, no mundo dos investimentos, existe muita gente vendendo essa ideia, mesmo que ela esteja completamente errada.  

“Além disso, existem outros atalhos mentais que reforçam o efeito manada. É o caso da dissonância cognitiva, que basicamente é a tendência de querer tudo agora. Mas há outros atalhos, como a confiança excessiva e a aversão à perda, para ficar em alguns exemplos” afirma a especialista.  

Todos esses atalhos formam um cenário perfeito para o efeito manada atuar entre os investidores, principalmente os iniciantes. Isso porque investir requer estudo, mas estudar exige gasto de energia e tempo, tudo o que o cérebro ‘não quer’. Por isso, em investimentos, é mais fácil seguir recomendações de especialistas. O problema é que nem sempre quem se vende como especialista de fato é um.  

“Quando a gente não está tão seguro com alguma coisa, normalmente olha para quem entende mais do assunto e para o que as pessoas estão fazendo. Acabo seguindo alguém que já analisou os prós e os contras, mas às vezes essa pessoa também seguiu outra, que seguiu outra, que seguiu outra e muita informação se perde no caminho”, explica Flávia.   

Segundo ela, o mercado de renda variável, como o de ações, é alvo fácil para os casos de efeito manada. É porque tudo o que pode ser vendido como um meio de ganhar dinheiro fácil e rápido é suscetível a esse comportamento. Investir em ações ou em outro ativo de renda variável está bem longe de ser uma forma de ganhar dinheiro fácil, mas muita gente acredita nessa narrativa.   

Efeito manada também faz investidores persistirem no erro  

Lembra que o efeito manada faz você perder dinheiro por te fazer tomar um caminho errado e também por persistir no erro? Em investimentos, persistir no erro pode ser ainda mais danoso.   

Para a fundadora da InBehavior Lab, isso acontece porque entram em ação outros atalhos mentais, como a negação e o otimismo excessivo. Em um cenário de perda, por exemplo, muitos investidores mantêm seus investimentos ou até colocam mais dinheiro porque ouviram de algum “especialista” ou seguiram um grupo que acredita em uma recuperação do ativo. Ou simplesmente porque acreditam que podem recuperar suas perdas. É o otimismo em ação. 

No mercado de ações, a máxima que diz para “comprar na baixa e vender na alta” valida esse comportamento. O problema está em fazer isso sem entender o que está acontecendo com o mercado, com a economia e com o ativo. Sem isso, as chances desse investidor perder ainda mais dinheiro são grandes.  

O contrário também acontece e é o mais comum. Quando a Bolsa cai muito ou quando as ações de uma empresa específica despencam, tem investidores que saem com a manada e vendem seus papéis sem entender o cenário. Eles acabam perdendo dinheiro por sair na hora errada e também perdendo a oportunidade de um ganho futuro, fator que poucos colocam na balança.   

O problema maior é que, na tentativa de reverter essa perda, eles voltam a comprar papéis dessa empresa quando o cenário melhora, e nem percebem que podem ter perdido dinheiro de novo, ao comprar a um preço maior do que eles venderam anteriormente. 

Quando estamos mais suscetível ao efeito manada?

De acordo com Flávia, ele acontece mais em cenários de instabilidade. “Em momentos de mais incerteza, os vieses são amplificados, porque nossa tendência é buscar certezas e isso aumenta as chances de seguir a manada. Momentos de grandes perdas também, porque queremos evitá-las e há um processo emocional envolvido”, diz.

O excesso de informação também incentiva o efeito manada. Quando você tem muita informação, é mais difícil tomar uma decisão. Seu cérebro não quer gastar energia pensando em tantas alternativas. Nesse cenário, inconscientemente, você delega essa decisão para a manada, seja ela um grupo, sua família, seus amigos ou aquele influenciador da internet.   

No sentido contrário, a falta de conhecimento é terreno fértil para o efeito manada florescer. É ele que faz os investidores iniciantes seguirem movimentos de mercado que eles ainda não entendem, por exemplo.   

Como evitar o efeito manada? 

Para a especialista, a melhor maneira é cercar-se de pessoas que pesam prós e contras na hora de tomar decisões ajuda a evitar o efeito manada, bem como buscar as informações corretas, das fontes corretas, antes de tomar uma decisão.   

“Às vezes, se perguntar porque você está tomando determinada decisão é o melhor caminho. É colocar no papel o motivo. Procure olhar para outras influências, buscar alguém fora do contexto, sair da sua bolha. Muitas vezes, conversar com uma pessoa fora do contexto já ajuda a quebrar um pouco a fantasia”, afirma.  

Outra estratégia é sair da situação, seja fisicamente ou virtualmente, antes de tomar a decisão. Se você está em um grupo online, por exemplo, decidindo fazer um investimento junto com seus amigos, deixe a conversa de lado por um momento. Afastar-se do contexto ajuda a reduzir a adrenalina e te permite pensar com mais calma.   

O mesmo acontece no mundo físico. Sabe aquele momento em que você está em uma loja, quase comprando algo que sequer havia planejado? Antes de passar o cartão, saia da loja, afaste-se e respire antes de tomar a decisão.

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