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Como lidar com as perdas nos investimentos? Conheça as 3 reações mais comuns

Perdas financeiras podem causar sentimento de luto para algumas pessoas, aponta coach educacional

Cofrinho em forma de porco, em pedaços e sobre um monte de moedas
Apesar de saber que o mercado financeiro oferece perdas e ganhos, ninguém que entra nele está preparado o tempo todo para ter prejuízos. Foto: Adobe Stock

Quem começa a comprar e vender ações em prazos curtos — os traders — sabe quais os riscos está assumindo. Ou, ao menos, deveria saber. Nesse tipo de operação pequenos aportes iniciais podem se transformar em fortunas, mas investimentos promissores também podem decepcionar e causar prejuízo financeiro.

Os altos e baixos de um investimento são inerentes ao mercado financeiro. Isso acontece porque as dinâmicas de formação de preço dos papéis levam em conta inúmeros fatores: desde mudanças nos indicadores econômicos até questões setoriais e corporativas.

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O argumento de que é natural perder no mercado financeiro é utilizado por Cissa Grilli, coach educacional da CM Capital, quando se depara com traders frustrados. Desde 2016 o trabalho dela é aconselhar e preparar investidores que compram e vendem ações na bolsa de valores em diferentes instituições financeiras e países.

“Geralmente, os investidores têm uma dificuldade muito grande de aceitar que o mercado financeiro se trata de um mercado de probabilidades. O cérebro humano busca certezas. A gente quer ter certeza de que pagaremos as contas, que vamos ter dinheiro suficiente para a sobrevivência e tudo mais. E o mercado financeiro não oferece certezas. Ele oferece probabilidade”, pondera a psicóloga.

Veja abaixo as reações mais comuns de traders a prejuizo e saiba interromper esses ciclos:

1. Luto leva a reações impulsivas

Grilli é mentora de mais de 700 traders e relata que, para eles, a perda financeira é vivida como um luto.

“O comportamento padrão dos traders é não lidar com as perdas, o que começa a comprometer o seu estado emocional, porque após registrar prejuízos eles voltam para o mercado mais agressivos, pois querem recuperar o dinheiro perdido na operação – como no short selling. É um comportamento muito tóxico e perigoso”, descreve Grilli.

Traders inexperientes tendem a ser mais passionais e tornam esse processo de lidar com prejuízos mais difícil, conta a coach. Já os mais experientes, que viveram diversas crises, tendem a ser mais frios com relação às perdas.

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Em qualquer caso, o preparo é importante. Grilli repara que traders que concluíram cursos de economia, administração ou negócios entendem melhor a dinâmica do mercado financeiro e, por isso, não se desesperam tanto ao perder dinheiro.

Mas não basta conhecer a economia e o mercado: é preciso saber também lidar com o stress e com a pressão, argumenta. “Você pode até comparar um trader com um atleta de alto rendimento. A todo momento, ele vai estar no seu limite emocional: com muita adrenalina e medo”.

2. Excesso de confiança provoca perdas sucessivas

A economia não é uma ciência exata. Apesar de se valer da matemática e estatística, é muito difícil fazer previsões certeiras sobre o futuro da economia. No máximo, é possível avaliar cenários através dos sinais atuais, e apontar probabilidades. 

Afinal, operar ações na bolsa de valores é isso: projetar perspectivas para o futuro para realizar boas compras e vendas. Mas esta competência pode ser comprometida diante de uma perda inesperada, segundo Carla Beni, professora de cenários econômicos e política monetária da FGV.

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“Normalmente, a perda favorece um comportamento mais instintivo e agressivo do trader. E um dos grandes erros dele é o excesso de confiança, que costuma levar a erros de análise”, exemplifica. Cerca de 95% das decisões humanas são rápidas, instintivas e realizadas no piloto automático, e apenas 5% são racionais e lógicas, de acordo com pesquisas da economia comportamental.

“Esse comportamento pode levar o trader a tomar uma decisão errada, porque ele se antecipa e passa a ter uma análise mais intuitiva e menos racional. Isso pode levá-lo a dispensar uma análise com uma base de dados maior ou a ter dificuldade de interpretar análises”, afirma a professora.

Inicia-se, assim, uma espiral de perdas, que só pode ser interrompida com calma e concentração. No mercado financeiro, a frieza analítica é fundamental para escolhas bem fundamentadas, argumenta Beni: “A questão central é o foco. O investidor ou o especulador precisa ter foco quando ele está analisando e operando, porque pode confundir uma aleatoriedade estatística com uma causa. Ele pode não ler o relatório até o final. Então, irá sofrer os efeitos colaterais dessa falta de foco.” 

3. Necessidade de mostrar riqueza pode causar endividamento

A professora da FGV elenca ainda outros fatores sociais importantes que devem ser levados em conta do ponto de vista comportamental. Aqui, no Bora Investir, você já aprendeu sobre a importância do cenário macroeconômico e do ambiente de negócios ao investir, mas pressões sociais também podem favorecer um ou outro comportamento dos operadores.  

“Existe uma aura em torno da profissão de trader, que é corroborada pela televisão, pelo cinema e pela cultura pop: todo trader tem que ser, obrigatoriamente, uma pessoa de sucesso e rica”, ela diz. 

Os profissionais buscam sinais para se reconhecer, que são “símbolos exteriores de riqueza”. Um outro sentimento muito forte é o de não querer ficar para trás.

“Esses símbolos são carrões, roupas caras, relógios importados, celulares novos…os traders sentem que é preciso exteriorizar o sucesso, como se transbordasse. E isso é um problema, porque acaba gerando, muitas vezes, endividamento. O trader começa a registrar um volume de despesas grande e isso tira parte da sua concentração”, constata Beni.

Para mais conceitos sobre o assunto, acesse o   Hub de Educação Financeira da B3.

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