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Ações em queda: é possível ganhar dinheiro nesse cenário?

Na operação vendida, um investidor é capaz de vender uma ação que não tem e ainda lucrar com papéis que podem se desvalorizar

Escultura de um urso e um touro de metal na sede da Bolsa de Frankfurt, na Alemanha. A obra representa as tendências do mercado e foi esculpida por Reinhard Dachlauer.
Na frente da sede da bolsa de Frankfurt, na Alemanha, um touro representante do mercado ascendente e um urso personificando o viés de baixa se preparam para se enfrentar. Foto: Eva K./ Wikimedia Commons

A bolsa de valores oferece vários meios de se ganhar dinheiro. O mais comum, e que você provavelmente já conhece, é através da compra e venda de ações. Mas com as ações em queda, é possível continuar lucrando?

Se você investe em uma ação esperando sua valorização a longo prazo você está adotando a estratégia buy and hold (compre e segure, em inglês). Além de ganhar com a valorização do papel, o investidor com esta mentalidade também receberá os dividendos e juros sobre capital próprio que a empresa distribuir.

Mas outra forma de ganhar dinheiro é oferecida quando o mercado vive momentos de baixa. Afinal, não é porque todas as cotações de ativos caem que as possibilidades de ganho somem.

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O mercado atribuiu dois nomes muito característicos para essas duas tendências distintas do mercado. Quando a bolsa está ganhando, a estratégia adotada pelo investidor deve ser a de um touro – também conhecido como bull market, ou mercado do touro, em inglês. A metáfora está no modo como um touro ataca ou se defende: chifrando o oponente de baixo pra cima.

Quando os mercados estão em queda, entretanto, também há uma estratégia de ataque: a do urso – ou do bear market -. Ao contrário do touro, o urso ataca de cima para baixo. Ele se ergue no ar, fica sobre duas patas para, por fim, mergulhar na presa. A ideia, aqui, é de que não há momento ruim para o bom investidor, já que ele sempre poderá fazer dinheiro com o mercado – se portando como touro ou urso.

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Mas, como é possível lucrar com ações em um cenário de baixa? Conheça:

Aluguel de ações

Uma forma de fazer a ação trabalhar por você é alugando o papel. Ao alugar o seu ativo para um outro investidor operar, você recebe uma taxa da pessoa que tomou o empréstimo para ficar com a ação. Quando o prazo do aluguel se encerrar, recebe de volta o papel acrescido do aluguel.


E isso tudo acontece sem você perder o direito à participação dos lucros da empresa ou o recebimento de bonificações e juros, e mesmo que a ação se desvalorize no período.

Operação vendida

É possível ganhar em cenários de baixa do mercado de ações alugando as próprias ações para terceiros e também alugando ações de outros investidores com o intuito de realizar uma operação vendida.

Nesta operação o investidor vende uma ação alugada que, em sua avaliação, irá se desvalorizar. Quando o papel, de fato, se desvalorizar, ele será recomprado e o lucro sairá da diferença entre a venda e a recompra do papel.

Suponha que você alugue uma ação por R$ 20, mas acredite que a empresa vá perder valor de mercado. Nas suas estimativas, o papel cairá até valer R$ 15. Como você só precisará devolver o ativo quando o contrato expirar, é possível revender a ação. Note que você pegou a ação emprestada, e não os R$ 20.

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Agora, imagine que a ação se desvalorizou e a sua previsão foi concretizada. Após vender o ativo por R$ 20, você pode recomprá-lo por R$15, um preço menor do que vendeu. O saldo da operação será de R$ 5, diferença entre a venda do papel e a sua recompra. 

Ao final, o investidor que possui, de fato, a custódia da ação, a recebe de volta com uma taxa adicional. E você ganhou com a desvalorização do papel.

Especulação ou investimento?

Eduardo Becker, professor de ações e análise técnica da B3, explica que as operações vendidas são, na verdade, especulação – e não investimento.

Ele exemplifica: “Eu sei que você quer comprar um celular novo e sei que meu vizinho está vendendo o dele por R$ 8 mil. Como vocês dois não se conhecem, eu te ofereço o aparelho por R$ 10 mil e você me paga. Com esse dinheiro, pego o celular do vendedor, te entrego e, ainda por cima, fico com R$ 2 mil pra mim. A operação consiste em, basicamente, vender algo que não se tem.”

Apesar do risco, Becker assegura que a operação vendida é mais fácil do que a comprada. “No mercado, tem um ditado que diz que ‘os preços sobem de escada e descem de elevador’. A valorização é mais lenta, enquanto a desvalorização é muito rápida”, explica.

Ainda assim, ele afirma que é necessário ter experiência no mercado antes de se aventurar neste tipo de negociação. “Como é contraintuitivo, a pessoa precisa ter controle emocional para fazer isso porque, senão, ela pode se assustar com a queda. Antes de tudo, é preciso entender a dinâmica do mercado e um pouco de análise gráfica“.

Operação vendida tem riscos

Além de exigir controle emocional, um investidor pode perder, e muito, em operações vendidas, o que a torna arriscada.

Nas operações de compra usuais, onde um investidor dá uma ação para outro em troca de um valor maior do que gastou para tê-la, o lucro teórico da operação é ilimitado, ao passo que seu risco é limitado. Em outras palavras: não é possível perder mais dinheiro do que o valor investido na empresa, já que a depreciação do papel só vai até zero. 

Se você comprar uma ação valendo R$ 100 e, no dia seguinte, a cotação do papel ser reduzida a zero, seu prejuízo foi de 100%. Pode parecer muito, mas é um risco limitado. Os lucros, entretanto, são infinitos, já que não há limites para a valorização de um ativo. 

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Imagine que a mesma empresa, cotada a R$ 100, divulgue um fato relevante e, em menos de um mês, o papel se valorize 100%. No mês seguinte, a valorização foi de 200%. Depois de demonstrar seus resultados, o ativo avançou 300%. Ou seja, os ganhos não têm limites, ao passo que as perdas sim.  

Mas, no caso das operações vendidas, a lógica é invertida. Isso porque, ao vender um papel a R$ 100 na expectativa de que ele se desvalorize, o lucro máximo que se pode obter é de R$ 100 – já que o papel não poderá valer menos que zero. O risco dessas operações, entretanto, é que a ação se valorize. E, aí, você sabe: a valorização não tem limite – e nem o risco de uma operação vendida.

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