Endividamento volta a crescer em junho, apesar do alívio na inflação
Número de famílias com dívidas a vencer avançou para 78,5%. Desse total, 18,5% se consideram muito endividadas, maior valor em uma década. Planejamento financeiro é a melhor saída
O número de brasileiros endividados voltou a crescer em junho após quatro meses de estabilidade. São considerados nessa estatística consumidores que têm dívidas a vencer em empréstimos, cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e carnês de loja, por exemplo.
O percentual de famílias nessa situação no país atingiu 78,5% em junho, um aumento de 0,2 ponto percentual na comparação com maio (78,3%). É o maior nível em seis meses, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou nesta terça-feira, 11/07.
Desse total, 18,5% se consideram muito endividados. Esse é o maior nível já registrado pela pesquisa em toda a série histórica, iniciada em 2010.
A economista da CNC, Izis Ferreira, explica que esse resultado voltou a crescer mesmo em um cenário de inflação mais baixa e um mercado de trabalho formal com mais vagas abertas. Em junho, o IPCA teve deflação de 0,08%.
“Muito além da conjuntura econômica, o consumidor procura no crédito uma forma de sustentar o consumo de produtos e serviços, principalmente o cartão. Isso acontece diante do avanço nos serviços financeiros, que dão benefícios adicionais. Ou seja, além do próprio consumo, o cliente usa o cartão porque quer cashback ou pontuação em programas de benefícios, por exemplo”.
Para não cair em um ciclo de dívidas e evitar ficar inadimplente, a dica da economista é fazer um planejamento financeiro. “Use a renda do trabalho para consumir, principalmente, produtos de primeira necessidade. Ao usar o cartão de crédito para produtos de consumo imediato, o risco é justamente o que a gente está vendo acontecer: a inadimplência.
Inadimplência cresce
O aumento da proporção de endividados é seguido pelo crescimento de consumidores inadimplentes. Ou seja, que têm uma dívida que já venceu e ainda não foi paga.
Após seis meses de queda, o percentual de famílias brasileiras com dívidas atrasadas atingiu 29,2% em junho, aumento de 0,1 ponto porcentual na comparação com maio.
Desse total, 4 em cada 10 estão sem condições de pagar os compromissos de meses anteriores, maior proporção desde agosto de 2021.
Segundo Izis Ferreira, os juros em patamares elevados dificultam a melhora desse quadro. Atualmente, 46% do total de inadimplentes estão com dívidas em atraso há mais de 90 dias.
“A despesa com juros sobe muito rápido conforme o tempo de atraso aumenta. Esse é o indicador que a instituição financeira olha para calcular o custo do crédito. Ou seja, o consumidor não consegue pagar e o empréstimo fica mais caro”.
Dicas para evitar a inadimplência
O primeiro passo é tirar da cabeça que o limite do cartão de crédito ou cheque especial é uma renda disponível, ou seja, que faz parte do orçamento mensal.
“As pessoas precisam entender o que é o custo do dinheiro. O cartão e o cheque especial podem dar fôlego no final do mês, mas não sempre. São as modalidades de dívida mais caras do mercado”.
O segundo passo é a educação financeira para quem está inadimplente ou apenas está com algumas compras parceladas no cartão, por exemplo.
“É preciso planejar melhor o uso desse dinheiro. Não é deixar de gastar, mas precisa de consciência da melhor forma de usar o dinheiro, principalmente o crédito”, explica Izis.
O terceiro passo é renegociar, seja direto com os credores ou através de programas governamentais como o Desenrola, que começa a funcionar até o fim do ano.
“Não existe uma bala de prata. É preciso olhar a sua carteira de inadimplência e buscar a renegociação. Precisamos também realizar uma grande campanha de conscientização, principalmente para as pessoas de renda média e baixa”, conclui a economista da CNC.
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