Organizar as contas

IPVA, IPTU, material escolar: como se planejar para as contas de início de ano

Em entrevista, Juliana Inhasz, professora da economia do Insper, dá dicas de como se planejar para pagar as contas e começar o ano com o pé direito

Juliana Inhasz, professora da economia do Insper

O mês de janeiro começa e depois da farra do ano novo chega a hora das famosas despesas que abrem o calendário de pagamentos. IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores); IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano); matrícula e material escolar; e renovação do seguro do carro.

Ao se ver diante de tantos boletos, chegam a nossa cabeça várias perguntas, como: Será que eu me organizei para fazer frente a essas despesas? Vou conseguir pagar à vista e ganhar desconto ou melhor parcelar? E se faltar dinheiro? São tantas contas, será que vai dar para fazer uma poupança neste ano?

Em entrevista ao B3 Bora Investir, Juliana Inhaz, professora de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) fala de planejamento financeiro para as contas que abrem o ano e dá dicas de como conseguir poupar em 2023.

B3: Começo de ano tem IPTU, IPVA, matrícula e material escolar, seguro do carro… Se a gente pensar em alguém que não se planejou para todos esses gastos, o que fazer nessa altura do campeonato?

Juliana: Para quem não se planejou e precisa ter recursos para conseguir fazer frente a essas despesas, a primeira coisa é aproveitar e diminuir ao máximo as contas de dezembro e começar a fazer uma reserva de emergência com esse salário. O ideal, no começo do ano, já é começar a programar as despesas, porque a gente sabe que nem todas elas vão vir em janeiro. Elas estão concentradas até março, pelo menos no início do pagamento. Então, é preciso se programar dentro desse período para conseguir guardar e criar uma lista do que é prioridade. O que precisa ser pago agora, o que pode ser pago depois, para conseguir fazer as contas e pagar todas essas despesas. Isso sem prejudicar o que compramos e consumimos corriqueiramente.

B3: O que fazer se faltar dinheiro para as contas do começo do ano?
Juliana: Se faltar dinheiro no período, o fundamental é primeiro a gente entender quais são as nossas necessidades e quais são as contas que eventualmente ficariam em aberto. A segunda coisa: se existe entre elas pagamentos que eu possa fazer depois, ou seja, que não vão gerar uma interrupção de consumo, um corte, uma possibilidade de despejo. Então, quais são as despesas que eu eventualmente poderia deixar para pagar depois. Listadas essas despesas, a gente tem que dar uma olhada quanto é que custa a mais para postergar os pagamentos. No geral, as multas e juros de algumas despesas são bem mais baixas que os custos de empréstimo. Então, nesse caso, talvez a gente possa deixar para pagar integralmente depois. E aí a gente ganha tempo nesse período para conseguir se organizar. Agora, para quem tem contas que vão acabar gerando interrupção de consumo, aí precisa entender direitinho que esse não é o caso e tentar achar formas de se financiar. Mas sempre levando em consideração que é uma saída bem preocupante e até um tanto perigosa para quem não sabe se organizar financeiramente. No momento em que a gente está com uma taxa de juros muito alta, a possibilidade de endividamento para pagar as contas é complicada.

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B3: Em meio a esse cenário de juros e inadimplência em patamares elevados, como saber o que é melhor: pagar à vista com desconto ou parcelar o IPTU ou IPVA?
Juliana:
Nesse caso especialmente, esses impostos trazem um desconto muito pequeno para quem antecipa o pagamento. Em um cenário de inflação elevada e de uma taxa de juros de quase 14% ao ano, você consegue tirar mais retorno com o dinheiro investido. Então, talvez, o ideal seja pagar parcelado, ao invés de acionar o desconto e pagar tudo de uma vez. Mas essa opção é para quem está com as contas em dia e tem essa possibilidade de escolher se vai antecipar ou se vai deixar para pagar depois. Não é a realidade da maioria das pessoas. O que a gente enxerga é que hoje o que eu ganho de desconto
antecipando um pagamento, como por exemplo do IPVA, já é um pouco menor do que aquilo que eu vou conseguir ganhar se eu deixar meu dinheiro aplicado e ir pagando as parcelas de acordo com o calendário oficial. Então, aparentemente, parece mais vantajoso deixar para pagar parcelado. Mas se eu estiver com o meu dinheiro na conta corrente é melhor aproveitar o desconto – já que vou pagar menos.

B3: Mesmo com o dinheiro muito apertado, ainda assim é possível poupar?
Juliana: Sempre é possível fazer algum tipo de reserva. As pessoas têm um mito na cabeça de que se tiver um colchão pequeno ou guardar pouco, não vale a pena. Isso não é verdade! A gente sabe que em períodos mais difíceis todo mundo vai guardar menos e tem períodos mais tranquilos que é possível guardar mais. Então isso possibilita que a gente tenha uma mínima administração dos recursos – fazendo uma poupança menor quando as coisas estão piores e vice-versa. Sempre é possível guardar R$ 10 no mês e isso já é uma reserva. Agora, para quem está numa situação de não ter essa possibilidade de jeito nenhum, o ideal é realmente colocar as contas no papel e tentar entender qual é realmente o perfil de consumo que a gente está tratando. Tem pessoas que, infelizmente, em algumas situações extremas gastam tudo que ganham. Nesses casos, o que a gente sugere é: ‘veja se não tem nada que você possa, por exemplo, abrir mão’. Às vezes as pessoas têm pequenos gastos e elas nem percebem o desperdício de recurso. Por exemplo, tem gente que gasta tudo o que consome, mas ainda assim, fuma. Tem uma conta de luz que está vindo mais alta porque tem algum tipo de problema nas instalações. Está vindo uma conta de água um pouco mais alta porque parece que tem um pequeno vazamento. Esse hábito
de ter uma vida vigilante, de ter um perfil que olha para as suas próprias contas, seu próprio orçamento de uma forma madura, traz oportunidades para se fazer algumas reservas. Tirando casos muito específicos, realmente de pessoas que estão muito endividadas, no geral, eu acredito que é possível fazer uma poupança, ainda que pequena. R$10 por mês. Você vai deixando em qualquer aplicação financeira, no final do ano, você tem mais do que R$ 120. É preciso fazer disso um hábito. Daqui a pouco você está com mais dinheiro e vai conseguir resolver melhor as suas situações para a sua vida ficar certamente – do ponto de vista financeiro – muito mais próspera.