Porquinho na era virtual: como ensinar seu filho a poupar e investir?
Não faltam ferramentas tecnológicas que ajudam a ensinar a criança a lidar com o dinheiro. Mas é importante não se esquecer do básico
Por Marília Almeida
Conta mesada, conta pré-paga e contas “rendeiras” virtuais: hoje em dia não faltam ferramentas tecnológicas que ajudam a ensinar a criança a lidar com o dinheiro. Mas especialista aponta que, quando se trata de educação financeira, não devemos esquecer do básico.
Carol Stange, educadora e consultora financeira, aponta que mesmo ante essa profusão de produtos financeiros o velho porquinho para encher com moedas continua sendo o mais recomendável para crianças de até seis anos.
“O porquinho é um objeto muito lúdico que mostra que o dinheiro precisa ser guardado em um determinado local, que não é para colocar na boca ou deixar no meio da sala. E crianças pequenas aprendem pegando e vendo. Portanto, continuará sendo essencial neste primeiro contato. Até os animais da cédula podem ajudar a identificá-las”.
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É somente a partir dos 7 anos que as plataformas digitais podem ser usadas como suporte para esta educação financeira, completa Stange. “Quando o porquinho tiver cheio é possível colocar o dinheiro em uma conta digital para multiplicar. Mas a criança só vai entender essa fase se a primeira tiver sido bem conduzida e ela encarar o ato de poupar com naturalidade”.
Apps de mesada e contas pré-pagas também são ferramentas que podem ser usadas nesta fase para compras na cantina da escola, por exemplo. Mas Stange alerta os pais para que tenham o cuidado de não delegar a educação financeira para essas plataformas “Existe um incentivo comercial para o uso delas. Portanto, é necessário atenção para ofertas desnecessárias oferecidas à criança”.
Veja abaixo como ensinar sobre dinheiro em cada idade da criança e como usar as ferramentas tecnológicas da melhor forma para apoiar esse processo:
De 4 a 6 anos
Como ainda não iniciou a fase de cálculos, o objetivo nesta fase é que a criança veja visualmente a importância de poupar visualmente. E nada melhor para isso do que ver o porquinho enchendo com moedas.
O ideal é que o cofrinho seja transparente, para a criança verificar que cada moeda colocada faz com que o montante cresça e entenda o conceito.
O ideal é que, nesta fase, a criança consuma o dinheiro como forma de aprender a fazer escolhas. É importante que possa manusear as moedas e cédulas para comprar gibis na banca de jornal ou doces.
Os pais devem incentivar a criança a entregar o dinheiro ao vendedor e perguntar quanto é, de forma a entender que a transação é um momento de troca.
Dos 7 aos 10 anos
A partir do início da alfabetização, momento no qual começa a aprender a somar e subtrair, a criança já pode realizar cálculos simples como forma de entender que compras envolvem troco.
Nesta fase é possível iniciar a “semanada”. Ou seja, dar um determinado valor por semana para a criança usar na cantina da escola, por exemplo. É uma forma de que elas, aos poucos, aprendam a administrar o dinheiro.
É recomendável dar orientações e supervisionar os gastos. Por exemplo, apontar que o valor dá para comprar um pão de queijo por dia. Neste processo é importante acompanhar as compras e instituir o dia em que poderá comprar doces, por exemplo.
Outra forma de dar autonomia para crianças menores é dar um valor para gastar no supermercado, seja para comprar o que quiser ou o lanche que irá levar na escola.
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Quanto mais nova a criança, mais redondo deverá ser o valor, para facilitar os cálculos. “Dessa forma a criança vai exercitando sua autonomia, trocando produtos quando verifica que é possível comprar mais com o mesmo valor. No fim, ela se sente vitoriosa e radiante por ter feito a escolha”.
A família pode dizer quais alimentos não entram no desafio e que a compra deve seguir as regras da casa. “Caso contrário, a criança irá pensar que dinheiro compra tudo, inclusive regras”, pontua Stange. É possível orientá-las que ao invés de comprar um chocolate, com o mesmo valor dá para comprar um bolinho e um suco, e que isso irá deixá-la melhor alimentada”.
É também nesta fase que é possível começar a introduzir a noção de investimentos. “A criança ainda não deveria ter desejos de consumo. Então, se ela não quiser gastar o dinheiro é possível separar uma parte dele para que seja multiplicado”.
Dos 10 aos 14 anos
Nesta fase os pais podem instituir a “quinzenada”, pois a criança já evoluiu nos cálculos e consegue ter maior habilidade em administrar o dinheiro em prazos maiores. É somente com 15 anos que se recomenda dar a mesada.
Crianças nesta fase começam a ter desejos de consumo. Portanto, é recomendável estipular limites. Se precisar de um tênis novo, mas quiser um mais caro, é importante que os pais ofereçam o dinheiro que acreditam ser essencial para a compra do bem e peçam para ela utilizar o seu dinheiro para pagar o restante. “É um exercício de escolha que será importante em sua vida financeira”, diz Stange.
“Se os pais ficarem com dó e acabarem cedendo, estão ensinando que quando a criança quiser dinheiro ela sempre poderá pedir a alguém. E no futuro essa figura poderá ser ocupada pelo banco, na forma da contratação de empréstimos”, completa a educadora.
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