Queda de taxa de juros deve trazer mais interesse para renda variável, diz Christianne Bariquelli, da B3
Superintendente da B3 destaca crescimento da participação feminina e reforça importância de alinhar investimentos a objetivos, tempo e perfil
A renda fixa segue como preferência dos brasileiros em um cenário de Selic em 15% ao ano, mas a alocação dos investimentos pode mudar caso os juros comecem a recuar. Para Christianne Bariquelli, Superintendente de Negócios para Pessoa Física da B3, a experiência recente mostra que o investidor pessoa física responde de forma direta aos movimentos de política monetária.
“Um movimento de queda de taxa de juros, como a gente viveu e deve começar a viver, com certeza vai trazer mais interesse [para a renda variável]. A Bolsa já renovou a máxima histórica, o que atrai um movimento do investidor pessoa física”, afirmou.
Segundo ela, a B3 não projeta pontos de inflexão de mercado, mas trabalha para que os investidores criem portfólios alinhados a três pilares: objetivo, tempo e perfil de investidor. “Dá para ter risco na carteira mesmo com Bolsa em máxima ou com taxa de juros altas, mas depende muito do horizonte temporal e de como a pessoa reage em relação às oscilações”, completou.
O mercado já vê a possibilidade de um início do ciclo de queda de juros. Para Eduardo Alhadeff, sócio e CIO de crédito da Ibiuna Investimentos, o arrefecimento recente da inflação e a expectativa mais ancorada permitem vislumbrar cortes de juros a partir de dezembro, com a Selic caminhando para algo entre 12% e 13% no segundo semestre do ano que vem.
“Juros mais altos são a forma de controlar a inflação. É como se de um lado tivéssemos expansão fiscal acelerando a economia, e do outro a política monetária freando, para tentar trazer a inflação para a meta”, explicou.
Mulheres e investimentos
Durante o Women Invest Summit, evento realizado em São Paulo com apoio da B3, Christianne também ressaltou o crescimento do número de investidores no Brasil e o aumento da participação das mulheres.
“Na B3, a gente registra e presta serviços para diferentes tipos de investimentos. São mais de 100 milhões de CPFs na Bolsa, muitos deles posicionados em renda fixa, como CDBs. Quando falamos de ações, esse número é de 5,4 milhões de investidores, dos quais cerca de 1,4 milhão são mulheres”.
Ela lembrou que fatores como a queda da Selic para 2% em 2020, a digitalização das plataformas e o maior interesse por educação financeira abriram caminho para o ingresso de novas investidoras. “No Tesouro Direto, já são 3 milhões de investidores, e proporcionalmente há mais mulheres do que no mercado de ações. Um terço do público no Tesouro é feminino”, disse.
Para Christianne, esse perfil mais cauteloso também se explica pela forma como as mulheres lidam com decisões financeiras. “A gente evita atitudes impulsivas, busca entender mais antes de investir e valoriza o apoio de quem explica como as coisas funcionam.”
Nesse esforço de aproximar os produtos dos objetivos do investidor, a superintendente lembrou que o Tesouro Nacional vem inovando na criação de títulos específicos. “Pensando em facilitar a escolha, o Tesouro decidiu criar produtos voltados a objetivos. Foram criados os títulos Renda+ e Educa+, que pagam em parcelas, quase na lógica de uma previdência complementar. No Renda+, o investidor recebe uma renda mensal por 20 anos; já o Educa+ tem prazo mais curto, de cinco anos, voltado para financiar a educação, como a universidade”, disse. Segundo ela, o Renda+ já conta com cerca de 700 mil investidores.
Christianne também citou discussões recentes sobre o Tesouro 24/7, que poderia reforçar a função do Tesouro Direto como reserva de emergência, ao oferecer liquidez imediata.
A visão de maior cautela também foi reforçada por Érika Zamberlan, diretora de distribuição e produto da Caixa Asset. Segundo ela, as mulheres tendem a ter uma alocação maior em renda fixa. Mas Érika lembrou que é possível também diversificar os investimentos dentro da renda fixa.
“Tem como abordar estratégias que vão diminuir risco. Vemos três: combinar diferentes índices — como CDI, prefixados e títulos híbridos atrelados à inflação —; diversificar prazos, entre curto, médio e longo; e incluir crédito privado, como CRIs, CRAs e debêntures. Mesmo dentro da renda fixa, tem que fazer diversificação”, disse.
Embora o conservadorismo ainda seja predominante, Christianne reforçou que o momento é propício para avançar em educação financeira e diversificação de portfólio. “Nosso trabalho com o investidor pessoa física sempre foi o de ajudar a pensar no investimento de forma estruturada, ancorando cada decisão nos três pilares. Esse é o caminho para atravessar diferentes ciclos, sejam de juros altos ou de recordes na Bolsa.”
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