Títulos de crédito privado: entenda o que são e como funcionam
Opções de renda fixa, títulos de crédito privado possibilitam bons rendimentos e são uma alternativa ao investimento em empresas
Quando o investidor quer investir por meio de uma empresa, comprar ações dela não é a única opção. Os créditos privados são opções de renda fixa que também possibilitam rendimentos vindos das companhias.
Os ativos chamados de créditos privados nada mais são do que títulos de dívidas emitidos por empresas e instituições não-públicas. Os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), os CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e as Debêntures são os tipos de investimentos que se encaixam nessa definição.
Ativos do crédito privado
- CRA: títulos emitidos por securitizadoras, que transformam dívidas de produtores, cooperativas ou empresas ligadas ao agronegócio, em créditos a receber (recebíveis) para financiar suas atividades.
- CRI: mesmo processo realizado pelo CRA, porém, para financiamento de empresas voltadas ao ramo imobiliário.
- Debêntures: títulos de dívidas de empresas em geral, que são emitidos para financiamento, expansão e investimentos nas companhias.
O investimento em crédito privado nada mais é que um empréstimo feito às empresas. Isso financia novos projetos ou expansões. A explicação é de Daniela De La Torre, gestora do fundo Vox Desenvolvimento Sustentável, da Vox Capital. O investidor compra um título da empresa e recebe, em determinado período depois, o dinheiro de volta. E com juros.
Conforme o sócio e analista da Finacap Investimentos, Felipe Moura, o modelo é semelhante aos investimentos públicos de renda fixa, em que o dinheiro é “emprestado” para o governo, como no Tesouro Direto.
Cuidados em investir em créditos privados
Os créditos privados têm benefícios interessantes ao investidor, já que podem trazer a possibilidade de retornos superiores àqueles oferecidos pelos títulos públicos e bancários. Também oferecem a alta liquidez no mercado secundário para a maioria dos títulos e a diversificação da carteira com a ampla variedade de setores da economia, porte das empresas, prazos e indexadores. Porém, há cuidados que devem ser tomados ao investir em tais ativos.
“O maior risco é o de, no final ou durante o período, a empresa não ter condição de pagar o que deve ao credor”, explica Moura. Ainda segundo o especialista, há dois grandes pontos para avaliar o investimento, principalmente em debêntures.
O primeiro é referente à saúde financeira da empresa pretendida. “É necessário avaliar o risco de a companhia não ter condições de arcar com juros e amortização do título”, alerta, “existem métricas para acompanhamento, indicadores de dívida líquida e geração de caixa, por exemplo”.
Os juros pagos pelo governo são chamados de “taxa básica”. As empresas têm o “prêmio de risco”, que, segundo Daniela, é quanto uma companhia paga a mais em juros para ter o risco menor – e semelhante ao do governo. “E isso afeta a saúde financeira das empresas. O nível de endividamento alto faz gastar mais para pagar juros, e o fluxo de caixa penaliza os lucros”, avalia a gestora.
O segundo ponto de atenção é a diversificação. A recomendação de Moura é não ter apenas investimentos em um ativo. E dentro dos tipos de crédito, é importante variar entre empresas. “Por exemplo, se você decide que quer ter 10% da sua carteira em debêntures, você não pode comprar todo esses 10% em um único emissor. “O ideal é que você dedique apenas de 0,5% a 1% em debêntures específicas – e que coloque 10 a 20 empresas diferentes. É muito importante você ter essa diversificação”, indica.
Caso Americanas ligou alerta de investidores
Vale lembrar, ainda, que há risco mesmo que a probabilidade de inadimplência seja baixa. O caso da Americanas, por exemplo, acendeu esse alerta, já que houve episódios de calote dos emissores em relação a esses títulos. “Não foi a primeira fraude contábil e dificilmente será a última. Mas serve para que o mercado financeiro melhore as normas que o regulam”, comenta Daniela.
“Em um primeiro momento, o ideal é comprar emissões de empresas que tenham boas emissões de caixa, baixo índice de endividamento e sejam resilientes em situações de mercado. O que ilustra muito bem são empresas do setor elétrico e setor de financiamento. São títulos que pagam um pouco menos de juros, por serem negócios mais arriscados, mas o risco é menor de levar um calote”, recomenda Moura.
Perfil de investidor e fundos como alternativa
O crédito privado pode contemplar diferentes perfis de investidores. Segundo Daniela, essa classe funciona para quem busca mais rentabilidade com menor risco, em comparação a ações ou dólar. Por outro lado, “também é proveitosa para quem tem mais apetite por risco para compor uma porcentagem menor de uma carteira que também tenha ações e dólar, por exemplo”, contrapõe. Daniela, por sua vez, complementa que o investimento feito diretamente em debêntures pode ser mais arriscado: “Quanto aos emissores, um fundo traz diversificação para pessoa física”.
O sócio e gestor de crédito privado da Trígono Capital, Marcelo Peixoto, lembra que ter a possibilidade dos fundos permite, ainda, o acesso a outros ativos, além de debêntures, CRIs ou CRAs. Além disso, ele destaca o apoio da gestão profissional como elemento que melhora a rentabilidade. “Em um fundo, o investidor tem apoio de um gestor. Ele vai olhar, todos os dias, as carteiras e o risco de crédito”, afirma.
Para saber ainda mais sobre investimentos e educação financeira, não deixe de visitar o Hub de Educação da B3.