Entenda por que a renda fixa teve um recorde de captação no 1º semestre de 2024
Juros altos e inflação estão entre as razões para a migração dos investidores para esses títulos
Por Rogério Piovezan
Juros altos e inflação. Essa dupla é uma das principais razões para o aumento de investimentos nos produtos de renda fixa neste ano, de acordo com especialistas ouvidos pelo Bora Investir. No primeiro semestre, esses produtos registraram uma captação recorde de R$ 337,9 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A B3 também registrou esse aquecimento no mercado de crédito. Houve um aumento de 18% no estoque de produtos de renda fixa de dívida corporativa, títulos emitidos por empresas para captar recursos e financiar seus projetos. O montante chegou a R$ 1,7 trilhão em junho, com crescimento em todos os produtos, o que inclui debêntures, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Notas Comerciais (NC) e Cotas de Fundo de Investimento Fechado (CFF). Houve também um crescimento de 15% no estoque de produtos de renda fixa de captação bancária – o montante registrado no final de junho foi de R$ 4,9 trilhões, contra R$ 4,2 trilhões em junho de 2023.
O que explica esse aquecimento?
Para o presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, Guilherme Maranhão, o crescimento é resultado das emissões pulverizadas em diferentes produtos e segmentos. “Ao mesmo tempo que temos um número muito grande de ofertas, o que indica uma maior democratização do mercado, temos também um bolso cada vez mais profundo para grandes operações, o que é muito positivo: 52% dos R$ 337,9 bilhões correspondem a emissões acima de R$ 1 bilhão”, afirma.
Já o planejador financeiro da Planejar Carlos Castro observa que essa busca por mais ofertas na renda fixa está relacionada à manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,50% ao ano. “Os juros altos fazem com que as pessoas aloquem mais em renda fixa. Aqueles que começam a investir acabam ficando, também, em renda fixa. Isso explica esse movimento nesse semestre”, destaca.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, os diretores votaram por unanimidade em manter a Selic na casa dos dois dígitos. “O Comitê optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela”, diz trecho do comunicado.
Por que juros altos?
A taxa básica de juros, a Selic, é um dos principais instrumentos do Banco Central para combater a inflação. De acordo com o boletim Focus, a previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do País – passou de 4% para 4,05% neste ano.
Castro explica que, em tese, quando a inflação começar a cair, os juros também tendem a acompanhar esse movimento, o que estimula uma perspectiva de maior crescimento em produtos de renda variável. “Quando a renda fixa cai, significa que os juros estão menores, e isso mostra uma situação de economia expansionista, porque baixando o juro, o BC está estimulando a economia. Então, a bolsa tende a subir, o varejo começa a aquecer e as empresas listadas começam a aumentar o faturamento.”
Já Maranhão espera que os produtos de renda fixa continuem em alta. “Temos boas perspectivas para o segundo semestre e vamos observar o comportamento do mercado, com a expectativa de manutenção da Selic no patamar atual até o final do ano e as incertezas sobre o início da queda nos juros americanos. É um cenário que indica que os instrumentos de renda fixa continuarão ganhando espaço.”
A eleição presidencial nos EUA também acaba sendo um fator de incerteza, além da trajetória da taxa de juros americanos. Para Castro, existe uma perspectiva positiva mais adiante.
“O fato dos EUA terem mantido os juros altos fez com que os investidores demorassem para entrar na bolsa. Agora, com a sinalização do Fed de que os juros irão cair, pode ser que tenha uma perspectiva de ter mais investimentos no Brasil, talvez em 2025. Quando a gente olha para a economia, ela não é uma ciência exata, mas social. Então, as eleições americanas acabam mexendo com as expectativas das pessoas e com o índice de confiança, que acaba sendo impactado, e isso é transferido aos números para que a política monetária tenha alterações”, afirma Castro.
Alta nos investimentos em renda fixa
As debêntures, títulos de dívida emitidos por empresas de capital aberto ou fechado, registraram o maior volume neste primeiro semestre, segundo dados da B3. O estoque de debêntures alcançou R$ 1 trilhão em junho de 2024, o que representa aumento de 21% em relação a junho de 2023.
O estoque de CRAs alcançou R$ 142 bilhões em junho, aumento de 27% em comparação ao mesmo mês de 2023, quando o volume foi de R$ 111 bilhões. Já o estoque de CRIs registrou crescimento de 4% e alcançou R$ 207 bilhões.
“Os instrumentos de renda fixa continuaram a atrair o interesse dos investidores no primeiro semestre, seguindo o movimento já observado nos últimos anos, que é resultado do nível das taxas de juros. Por outro lado, a resolução que estabeleceu novas regras aplicáveis às emissões de CRIs e CRAs, em fevereiro, refletiu em um crescimento menor nos estoques e emissões desses produtos, que vinham crescendo de maneira significativa há alguns anos”, comenta Fábio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão e Novos Negócios da B3.
As notas comerciais registraram crescimento de 18%. O estoque passou de R$ 82 bilhões, em junho de 2023, para R$ 97 bilhões, em junho de 2024.
Já as Cotas de Fundos Fechados (CFF) tiveram aumento de 9%, com R$ 213 bilhões em estoque, em junho de 2024, contra R$ 195 bilhões no mesmo período do ano passado.
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