Mercado de renda fixa está maior e mais sofisticado que no passado, diz CEO da B3
Em 2024, as emissões públicas de produtos de dívida corporativa bateram o recorde de R$ 608 bilhões na B3
O mercado de dívida privada no Brasil tem crescido e se desenvolvido de forma importante nos últimos anos. “Tivemos o melhor ano da história da renda fixa. A gente criou um mercado de dívida local que não se tinha e veio para ficar”, disse Gilson Finkelsztain, CEO da B3, em almoço com jornalistas nesta sexta-feira (07/02).
Os números ilustram esse crescimento: em 2024, as emissões públicas de produtos de dívida corporativa bateram o recorde de R$ 608 bilhões, um crescimento de 76% em relação ao registrado no ano anterior. As emissões de debêntures aumentaram 107%, e o estoque de produtos de captação bancária cresceu 14,6% em 2024.
“As empresas brasileiras grandes vão captar e estão captando recursos através de mercado de dívida. Em outras palavras, o mercado de capitais local é a principal fonte de financiamento de empresas hoje no Brasil, dez anos atrás esse mercado era praticamente inexistente”, disse Gilson.
Mais do que o crescimento em números, esse mercado se desenvolveu. “O avanço institucional para o mercado de dívida não é só para um segmento específico, mas tem amplitude de setores e prazos. Mesmo infraestrutura, que precisa de prazos longos, hoje consegue captar no mercado de capital”, afirmou o executivo.
Ou seja, se antes o mercado de renda fixa era concentrado em CDBs e fundos de liquidez diária, hoje compreende também debêntures, CRIs, CRAs, além das LCIs e LCAs. Outro desenvolvimento saudável é o crescimento do mercado secundário. “A gente continua sendo um país da renda fixa, mas muito mais sofisticada do que nos últimos 10 anos”, completou Gilson.
André Milanez, diretor financeiro e de relações com investidores da B3, lembrou ainda que a maior diversidade de indexadores para esses títulos de dívida deu às empresas mais opções para adequar suas estruturas financeiras. “É um círculo virtuoso de maior sofisticação do mercado, o que para a gente é super interessante, porque abre um leque de novos produtos e serviços”, disse.
Pessoas físicas também passaram a investir mais
Esse desenvolvimento do mercado de dívida foi acompanhado também por um avanço das pessoas físicas no mundo dos investimentos. “É notório que as pessoas físicas estão em outro patamar nos investimentos, com um entendimento de instrumentos financeiros mais sofisticados de crédito. Tesouro Direto e CDBs se tornaram a nova poupança, e isso é muito bom, são produtos simples, de fácil acesso, digitais”, disse Gilson.
Além disso, ele destacou que apesar do período difícil para a renda variável, o número de investidores nessa classe tem se mantido estável. “Mesmo com mercado de ações encolhendo em valuation, a gente não teve uma fuga das pessoas no mercado de ações, fundos imobiliários, BDRs e ETFs”, disse.
Gilson Finkelsztain comentou inclusive que a perspectiva é de um crescimento do mercado de fundos listados. “Vamos ver um crescimento do mercado de ETFs, é uma tendência que os países desenvolvidos viram anos atrás, e estamos começando essa jornada. Os investidores estão vendo que conseguem acesso a bons produtos com custo competitivo”.
Outra frente de crescimento, lembrou Milanez, são os produtos relacionados a criptoativos. “A B3 já tem uma oferta grande de ETFs de criptomoedas. No ano passado lançamos o [contrato] futuro de bitcoin, e devemos lançar outros futuros de criptomoedas no primeiro semestre, e outros derivativos, provavelmente opções de bitcoin, até o fim do ano”.
Mercado de renda variável segue de lado – mas não recua
O CEO da B3 comentou ainda o cenário macroeconômico, que tem trazido dificuldades para a renda variável. “É um país que que cresce, mas agentes do mercado, tanto estrangeiros quanto brasileiros, têm uma questão de confiança com o fiscal no médio prazo. Vejo isso refletido no mercado, principalmente em ações, que estão muito abaixo do valuation, considerando a qualidade das empresas que a gente tem”, afirmou. “Eu estou moderadamente otimista. Não estamos em uma crise, mas os preços estão refletindo essa desconfiança de médio prazo com o cenário fiscal”, disse Gilson.
Segundo ele, a reversão desse cenário não depende de uma queda na Selic, mas de uma sinalização de maior controle da inflação e de uma queda nas expectativa de juros futuros. “Com a inflação mais perto da meta e a curva de juros mais flat ou inclinada negativamente, a gente vai ter potencialmente um aumento de interesse pelo mercado de ações”, disse.
Mercado de carbono
Também presente no almoço, Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social Privado, destacou o papel da B3 em indução de boas práticas no mercado brasileiro.
“Somos pioneiros na agenda de governança, e a gente segue influenciando o comportamento dentro dessa agenda social e ambiental. Temos índices como o ISE, o Idiversa e o ICO2 que além de trazer transparência de dados, são instrumentos de financiamento dessas companhias mais avançadas na agenda ASG”, disse.
Ela lembrou ainda da COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que acontece no Brasil. “Nosso papel é ajudar a fomentar esse mercado de carbono. A B3 é um ambiente que pode ajudar a destravar essa agenda de carbono”.
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