Renda fixa

Por que os rendimentos do Tesouro Direto estão subindo apesar da queda da Selic?

Pode parecer estranho ao investidor ouvir que existem títulos do Tesouro Direto que podem se beneficiar da queda da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. Mas isso acontece com papéis prefixados e aqueles atrelados à inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA +).

Desde que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, iniciou o corte de juros da Selic, que agora está em 10,75% ao ano, os investidores com títulos prefixados ou atrelados à inflação puderam vender suas posições com ágio.

Por outro lado, nas últimas semanas, o Tesouro Direto começou a oferecer taxas mais elevadas para esses títulos – um reflexo do cenário mais incerto para a trajetória da taxa de juros à frente.

Diferenças entre os títulos do Tesouro Direto

Vale lembrar das diferenças entre os títulos do Tesouro Direto. Por mais que sejam considerados os mais seguros da economia brasileira, os títulos apresentam características importantes que podem influenciar sua rentabilidade e liquidez.

  • Tesouro Selic: esse produto está diretamente indexado à taxa Selic. Ou seja, ele rende diariamente o mesmo que a taxa Selic rendeu naquele dia. Quando a Selic é reduzida, os títulos passam a render menos também, a partir da data da redução. E quando a taxa básica sobe, a rentabilidade desse título também acompanha essa alta. Se quiser vender seu título antes do vencimento, o investidor receberá algo muito próximo da rentabilidade obtida, dia a dia, até a data do resgate.
  • Tesouro prefixado: o próprio nome indica que a taxa de rentabilidade é um valor fixo que é definido no momento da compra. Essa taxa é pública e pode ser encontrada no próprio site do Tesouro Direto. Entretanto, se o investidor decidir se desfazer de seu título antes do vencimento, estará exposto à chamada marcação a mercado. Isso porque, a depender das expectativas quanto à Selic, o preço daquele título oscila para cima ou para baixo, o que pode render ao investidor lucros ou prejuízos. Quem preferir levar o título até o vencimento receberá a rentabilidade contratada na hora da compra.
  • Tesouro IPCA +: esse título traz como referência a inflação medida pelo IPCA. Com isso, o rendimento vem acima da inflação e acrescenta-se uma taxa ao ano, definida no momento da compra. Assim como no caso dos prefixados, o preço oscila de acordo com a marcação a mercado, para quem quiser vender o título antes do prazo de vencimento.

Os rendimentos do Tesouro Direto são tributados pelo Imposto de Renda e o investidor deve ficar atento às alíquotas da tabela regressiva sobre o rendimento da aplicação financeira.

Veja a seguir a rentabilidade anual de quatro papéis do Tesouro Direto prefixado e IPCA+. Para referência, vale lembrar que o IPCA, no acumulado de 12 meses, está em 3,93%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Títulos do Tesouro DiretoRentabilidade anual*
Prefixado 202711,01%
Prefixado 203111,86%
IPCA + 2029IPCA + 6,02%
IPCA + 2035IPCA + 6,04%
*Valores atualizados no dia 16/04/2024, às 11h51min. Fonte: Tesouro Direto.

Por que alguns títulos do Tesouro se valorizam ou se desvalorizam?

Ao Bora Investir, o head de renda fixa da Faz Capital, Filipe Arend, diz que ocorre uma relação inversa entre taxa e preço desses títulos no mercado, para os títulos prefixados e atrelados à inflação.

“No Tesouro prefixado e no IPCA +, os títulos tendem a se beneficiar de uma trajetória de queda da taxa Selic. Dentro da dinâmica da marcação a mercado desses títulos, há basicamente um formato de precificação em que o preço depende da taxa atual de negociação desses ativos no mercado. O preço deles tende a aumentar conforme a taxa dos títulos caem, e vice-versa. Existe uma relação inversa entre taxa e preço nos títulos prefixados e atrelados à inflação”, explica.

Nos últimos dias, contudo, houve a situação inversa: uma desvalorização dos preços em relação ao cenário de incerteza que eclodiu com o recrudescimento do conflito entre Irã e Israel, segundo o analista da corretora Toro, João Vitor Freitas.

“Em dezembro, a taxa do IPCA+ 2045 estava em 5,5%. Agora, a taxa está 6,06%. Então a taxa está maior, o título está pagando mais, mas o preço do título é inversamente proporcional. Quem carregava lá atrás, agora está perdendo dinheiro com ele, porque o título passou a valer menos”, afirma.

Arend completa: “Nas últimas semanas, em meio ao ambiente de incerteza, tanto interno quanto externo, o mercado está voltando a aumentar essa precificação da taxa Selic mais à frente, de forma que a curva de juros futuro vem apresentando uma abertura, um aumento nessas taxas futuras. Na prática, significa uma desvalorização nesses títulos prefixados e atrelados à inflação”.

O que explica essa situação?

O mercado financeiro projeta uma expectativa a respeito de como a taxa básica de juros irá se comportar ao longo do tempo, é a chamada curva de juros.

“Quando temos uma trajetória de queda da taxa Selic, o mercado passa a precificar esses cortes de juros na frente por meio da curva futura de juros. Nessa dinâmica, a gente enxerga essa redução nas taxas negociadas nesses papéis e, consequentemente, uma valorização dos preços”, diz Arend.

Vale lembrar que somente o Copom modifica, de fato, a meta para a Selic. O mercado, por sua vez, projeta expectativas sobre os valores no futuro, o que pode agitar os ânimos dos investidores e dar o tom das operações.

Por que as taxas estão aumentando?

Os títulos prefixados e atrelados à inflação podem se desvalorizar conforme cresce a incerteza no cenário interno – no Brasil – e no exterior, com a escalada do conflito entre Irã e Israel, além de Israel e Palestina, e Rússia e Ucrânia. Isso porque em meio ao cenário incerto, o mercado coloca dúvidas quanto à quanto o BC poderá cortar a Selic além do patamar atual.

“O motivo dessas taxas maiores pode ser o crescimento das tensões geopolíticas, como Irã e Israel, o que gera receio e aversão ao risco, e medo de repique inflacionário, com o petróleo disparando. As contas públicas no Brasil voltaram a causar preocupação com o cenário fiscal, com a LDO. Isso tudo preocupa a trajetória da dívida e despesas públicas. E os juros nos EUA, que também impacta aqui”, observa Freitas.

Além disso, os juros norte-americanos devem permanecer elevados. Se no início do ano o mercado esperava que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) cortasse os juros em março, agora as projeções jogam a data para maio ou junho.

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