Tipos de investimentos

Rendimento da poupança hoje: vale a pena ou não?

Durante anos a rentabilidade dessa aplicação foi vantajosa – mas hoje há muitas outras opções

A poupança foi a aplicação querida e, em alguns casos, a única conhecida dos brasileiros. Fatores como a segurança e uma rentabilidade atrativa garantiram o sucesso da caderneta por muito tempo. Hoje, já existem investimentos mais rentáveis e que oferecem altos níveis de segurança. Mesmo assim, a poupança continua sendo a preferida de milhões de brasileiros.

Segundo dados de 2020 da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), 43,6% dos brasileiros têm algum investimento e a maior parte dos recursos está na poupança.

Onde estão as economias dos brasileiros?

Poupança 29,2%
Fundos4,5%
Ações3,3%
Título público2,6%
Título privado5%
Previdência2,8%
Moeda estrangeira1,1%
Moeda digital1,1%
Investimento não-financeiro5,7%
Fonte: Anbima/2020

Mas por que a poupança é tão popular no país?

A tradição de Poupança

Criada ainda na época do Império, a poupança é a aplicação mais antiga do Brasil. Surgiu em 1861, com a lei promulgada por D. Pedro II que instituiu a Caixa Econômica Federal. O rendimento foi estipulado inicialmente em 6% ao ano, com resgate a qualquer momento.

Também data desse período inicial o termo “caderneta”, pois era esse o nome do pequeno livro de anotações que o titular recebia ao investir seu dinheiro. Ela servia como um registro de rendimentos e perdurou até o começo do século 20. Desde o início, o objetivo da poupança foi ser uma aplicação popular, em que pessoas poderiam ter um certo rendimento mesmo com recursos limitados.

Na década de 1960, a poupança começou a se tornar o que conhecemos hoje com a instituição da correção monetária (para evitar a perda com a inflação) dos depósitos pelo Banco Central (Bacen).

Você sabia?

As mulheres só passaram a ter direito de ter uma caderneta de poupança em 1915 e, ainda assim, com autorização do marido. Essa exigência só caiu em 1934, mesmo ano em que elas ganharam o direito ao voto.

Rentabilidade da Poupança

Outro fator que garantiu a longevidade da poupança foi o rendimento – vantajoso durante vários anos. Para entender melhor, é preciso diferenciar rendimento absoluto de rendimento real. O primeiro diz respeito à porcentagem que a poupança rende por ano, já o segundo é o rendimento após o desconto da inflação. O rendimento real é o dado que o investidor precisa observar para saber se o dinheiro que aplicou se valorizou mais do que o custo de vida – ou se ele perdeu poder de compra.

Em 1998, por exemplo, quando o Plano Real já estava bem consolidado, o rendimento real (ou seja, acima da inflação) da poupança chegou a 13,28% num cenário de inflação a 1,65% ao ano. Em outros anos, mesmo com a inflação alta, a poupança teve bons resultados. Em 1995, quando a inflação bateu 22,41%, o rendimento absoluto foi de 40,38% e o retorno real ficou em 14,69%.

Qual o rendimento da poupança hoje?

Já há algum tempo a poupança não rende tanto: a última vez que o rendimento real alcançou a marca de 5% foi em 2006. Cinco anos desde então – 2013, 2015, 2019, 2020 e 2021 – registraram rendimento real negativo: -0,12%; -2,28%; -0,05%; -2,30% e -6,37%, respectivamente.

Desde 2017, a fórmula de cálculo do rendimento da poupança mudou e o investidor precisa trabalhar com dois cenários antes de decidir aplicar seu dinheiro na famosa caderneta.

Quando a taxa básica de juros está abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic. Quando está acima desse patamar, o rendimento é de 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) mais a taxa referencial (TR), que desde o início de 2022 se encontra num valor muito baixo.

Para saber mais sobre o rendimento da poupança, veja o vídeo da B3 sobre o tema.

Se considerarmos que 2021 fechou com a Selic em 9,25% e que em 2022 a taxa também tende a ser maior que 8,5%, a remuneração deve ser de 0,5% ao mês. Isso significa 6,17% ao ano – abaixo da inflação oficial, que ficou em 10,06%. Quem deixou o dinheiro na poupança durante 2021 acabou perdendo 3,89% do seu poder de compra.

Com isso, outras aplicações se tornaram mais atrativas. É o caso do Certificado de Depósito Imobiliário (CDB). Algumas variedades pós-fixadas desse título têm renda atrelada à taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) . Como o CDI tende a acompanhar a Selic, é um investimento mais vantajoso em cenários de juros altos.

Outra alternativa são os títulos do Tesouro Direto, que oferece opções com rendimento atrelado à Selic e também à inflação.

Tem dúvidas sobre escolher entre Tesouro Direto ou CDB? O vídeo da B3 sobre o assunto pode ajudar.

Você já ouviu falar da polêmica do confisco?

Na década de 1990, aconteceu o episódio mais conhecido na história da poupança brasileira. Como parte das medidas econômicas implantadas pelo então presidente Fernando Collor de Mello, houve o confisco da poupança. Na prática, só era permitido sacar até 50 mil cruzados novos – o que estivesse acima desse limite ficaria retido por dezoito meses. O montante confiscado era passível de correção monetária e acréscimo de juros de 6% ao ano.

O anúncio de tal medida fez com que milhares de pessoas fossem aos bancos para sacar a quantia permitida, o que acarretou um problema de liquidez. Prevendo o problema, o Banco Central chegou a decretar feriado bancário de três dias. Ao final do recesso, formaram-se filas enormes nas porta dos bancos – uma cena que entrou para a história econômica brasileira.

O confisco acabou abalando ainda mais a imagem do governo Collor, que já enfrentava denúncias de corrupção, e contribuiu para o processo de impeachment do então presidente.

Esse episódio mostra como a poupança, criada há tantos anos, continua presente no cotidiano dos brasileiros. Ainda hoje é comum que pais abram contas de poupança para seus filhos, com a ideia de criar uma reserva segura para gastos futuros. Mas como observamos no decorrer do texto, hoje temos alternativas mais vantajosas.

Para saber ainda mais sobre investimentos e educação financeira, não deixe de visitar o Hub de Educação da B3.