BDRs

BDRs: mitos e verdades sobre esse tipo de investimento

Mesmo não sendo uma ação, o BDR funciona de maneira semelhante, contando com pagamento de dividendos e regulação legal

Nota de Real ao lado da nota de Dollar
É comum que haja interpretações erradas sobre o funcionamento do BDR. Foto: Adobe Stock

Um dos principais mantras do mundo dos investimentos é a diversificação da carteira com o objetivo de proteger o patrimônio. Um dos papéis bastante utilizados nessa estratégia são os BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Basicamente, eles possibilitam que os investidores brasileiros possam se tornar sócios de empresas listadas em outras bolsas, como Apple, Microsoft, Amazon, XP ou Nubank.

Ao comprar um BDR, o investidor não está adquirindo uma ação da companhia, mas, sim, um certificado das ações dessa empresa. Para que esses papéis cheguem ao mercado brasileiro há duas formas: BDRs Patrocinados e Não Patrocinados.

No primeiro caso, as próprias empresas decidem listar seus recibos na bolsa brasileira. Já no segundo, são bancos nacionais que emitem os recibos das ações que são negociados na B3 e os colocam em uma conta que guarda esses ativos.  

Vale lembrar que os BDRs são ativos de renda variável, ou seja, podem se valorizar ou desvalorizar conforme os movimentos do mercado. Para investir nele, é essencial que você saiba antes qual o seu perfil de investidor

Essa dinâmica entre mercado interno e externo, além de todas as características do produto, podem causar dúvidas e até interpretações erradas sobre o funcionamento do BDR. A seguir, Gustavo Peres de Carvalho, diretor operacional do Banco B3, e Arthur Vieira, professor da B3 Educação e sócio do Clube FII, listam alguns dos mitos e verdades mais comuns sobre o ativo. Confira! 

Mito: BDR é uma ação

Apesar de ter funcionamento parecido com o de uma ação – sendo considerado ativo de renda variável e contando com pagamento de dividendos em alguns casos – o BDR não é uma ação

O BDR é o recibo de uma ação. Quando você investe em um desses papéis você tem praticamente os mesmos direitos que uma pessoa que compra uma ação diretamente, como o recebimento de dividendos.

Mito: BDR é só para quem tem muito dinheiro

Desde outubro de 2020, é permitido ao investidor pessoa física investir em BDR. Isso quer dizer que o produto não é mais exclusividade do investidor qualificado, categoria definida pela CVM como a pessoa que tem mais de R$ 1 milhão investido. 

Com isso, o investimento no mercado externo e em empresas estrangeiras foi democratizado no mercado brasileiro, sendo que o investidor pessoa física passou a ter mais um produto para diversificar sua carteira. 

Segundo Arthur Vieira, da B3 Educação, hoje é possível comprar uma cota de BDR a partir de R$ 50.

Mito: BDR não é regulado no mercado brasileiro

Por se tratar de um ativo lastreado no mercado internacional, muitos pensam que o BDR não possui regulação legal no Brasil. Mas não é bem assim.

Além da Instrução 332 da CVM, que regula a atuação entre os bancos que emitem os recibos e as instituições que guardam os ativos, a Lei n° 6.385 reconhece o BDR como valor mobiliário (títulos de investimento), mesmo status de ações e debêntures, ou seja, ele tem amparo legal. 

+ Como o mercado internacional interfere nos BDRs do Brasil

Verdade: BDR pode ser mais vantajoso que ação de empresa estrangeira

Alguns investidores podem se perguntar: “por que adquirir o recibo se posso comprar a ação de uma empresa estrangeira?”. Acontece que os BDRs têm vantagens em relação às ações. 

Em primeiro lugar, está a maior facilidade em adquirir o BDR, já que não é preciso enviar remessas de dinheiro ao exterior, o que demandaria a intermediação especializada em operações financeiras desse tipo.  

Além disso, o BDR costuma ser mais barato, já que é negociado em real. No caso da ação estrangeira, pode ser encarecida pela diferença de valor entre real e dólar, fenômeno conhecido como spread cambial e aplicado pelas corretoras nas remessas de recursos ao exterior e conversão de valores para a moeda brasileira.

Por fim, o BDR tem tratamento idêntico ao da ação no exterior. Isso quer dizer que se uma empresa paga dividendos no exterior, então seus BDRs no Brasil também distribuirão lucros aos investidores

Verdade: BDR tem risco de mercado

Assim como ações, os BDRs são papéis de renda variável e podem se valorizar e desvalorizar de acordo com os movimentos do mercado. 

No caso dos BDRs, ainda se deve levar em conta que variam de acordo com o câmbio, pois, embora sejam negociados em real no Brasil, o preço do papel oscila com o dólar. 

“Para saber se o BDR se adequa ao seu perfil de investidor, as pessoas devem recorrer às corretoras que possuem meios de analisar a tolerância a riscos de cada um, sugerindo os produtos mais adequados a seus diferentes clientes”, afirma Gustavo. 

Outro meio de minimizar os riscos é por meio de algum profissional contratado, como um consultor de valores mobiliários

Verdade: BDR paga dividendos

Assim como ações, BDRs dão ao investidor o direito de receber dividendos. “Nesse ponto, há o mesmo tratamento da ação no mercado externo”, observa Gustavo. “Porém, o pagamento de dividendos varia de acordo com a empresa.” 

Isso porque, pela legislação dos EUA, as empresas não são obrigadas a distribuir dividendos quando registram lucro. Logo, antes de adquirir BDRs, é uma boa ideia checar se determinada companhia tem política de distribuição de proventos. 

Mito: BDR é dolarizado

Segundo Arthur Vieira, professor da B3 Educação, “é um mito dizer que o BDR é dolarizado, pois seu preço pode sofrer influências de outras moedas, dependendo da origem da empresa que dá lastro ao recibo”. 

Entretanto, a maioria dos BDRs são de empresas negociadas na bolsa americana, logo, seus preços estão sob a influência das flutuações do dólar. 

“É importante ter a noção de que o BDR é negociado em real e seu valor corresponde ao da ação negociada na bolsa dos EUA ou de outro país. O investidor deve entender que seu retorno é um balanço entre a valorização das ações e as variações no câmbio”, conclui Arthur. 

Mito: É muito caro investir em empresas no exterior

Se o caminho de investir em empresa estrangeira passa pelos BDRs, então não se trata de uma operação cara. Arthur Vieira esclarece que as taxas cobradas por BDRs são as mesmas das de ações de empresas nacionais. 

+ Como investir no exterior sem sair da B3?

“Quem decide investir diretamente em ações estrangeiras paga duas vezes o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), quando faz a remessa de dinheiro para a conta no exterior e quando recebe os proventos. Com os BDRs, só há uma cobrança, quando há conversão em real dos dividendos”, explica Arthur. 

Mito: o investidor pode perder os BDRs

É um erro dizer que o BDR tem risco de crédito, isso é, o risco do banco emissor de BDRs não honrar seu compromisso com os investidores e dar o popular “calote”. Isso não acontece por dois motivos: 

  • As ações administradas pelo banco brasileiro não fazem parte de seu patrimônio; o banco administra os papeis das empresas estrangeiras que são lastro para os BDRs em uma instituição custodiante no exterior. Com isso, os ativos não ficam atrelados ao patrimônio do banco.
  • A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prevê a transferência de BDRs de uma para outra instituição depositária; outra prática prevista pela CVM é o encerramento do programa de BDRs de um banco emissor, venda das ações no exterior e entrega do valor correspondente em reais aos acionistas brasileiro. Ambas as diretrizes protegem o investidor do risco de ficar sem seus papéis em caso de quebra do banco emissor. “É importante lembrar que o BDR fica registrado em nome do investidor final“, afirma o executivo da B3.

Mito: BDR é isento de imposto de renda

Diferentemente do Brasil, no exterior a retenção do imposto de renda sob os dividendos acontece na fonte. A regra vale tanto para os dividendos de ações quanto de BDRs.

Nos EUA, por exemplo, os dividendos têm imposto de renda de 30%. No caso do BDR, além do imposto, pode haver desconto também de uma taxa da instituição que guarda o ativo, que costuma variar entre 3% a 5%.

No Brasil, os dividendos são considerados rendimentos recebidos de fontes no exterior, e podem estar sujeitos ao imposto de renda de acordo com a tabela progressiva que se inicia na isenção (até R$ 1.903,98) e chega até 27,5% (acima de R$ 4.664,68).

No entanto, a Receita Federal permite que o investidor, antes de recolher o imposto de renda no Brasil, compense os valores retidos no exterior. Por exemplo, se o BDR é de uma ação dos EUA, que tem uma alíquota de 30%, o investidor não precisará recolher IR no Brasil, dado que o imposto norte-americano é superior ao imposto brasileiro. Basta declarar os valores à Receita Federal por meio do programa Carne-Leão. 

Caso o investidor brasileiro venda o BDR, nos mercados de bolsa no Brasil, pagará 15% de IR, podendo, ainda, compensar perdas em outras operações de renda variável e descontar a corretagem paga.

Para mais conceitos sobre o mercado financeiro, confira os conteúdos gratuitos do Hub de Educação da B3.

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