Renda fixa

Selic em queda e aumento das receitas melhoram perspectiva para crédito privado, diz sócio da Jive

No segmento de crédito high yield, rentabilidade dos papéis se manteve e empresas apresentam agora melhor saúda financeira, explica Samer Serhan, sócio da Jive Investimentos

Dinheiro/reais. Foto: Adobe Stock
O mutirão Renegocia deve ajudar a desafogar muitos tipos de dívida. Foto: Adobe Stock

2023 foi a tempestade perfeita no mercado de crédito. Com a Selic por boa parte do ano mantida no nível mais alto do ciclo atual, em 13,75%, as despesas financeiras pressionavam os balanços das empresas. Por outro lado, as companhias tinham pouco espaço para vender mais e aumentar seu faturamento. Não à toa foi um ano de escassez de negócios. Para 2024, entretanto, o céu começa a clarear. O Copom se mantém firme no movimento de redução de juros e, com isso, aumentam as ofertas de crédito às empresas. A aceleração do consumo ao final do ano passado também ajuda a desafogar as contas.

No mercado de crédito, essa melhora é diferente em cada segmento. Para as empresas com menor risco de inadimplência, o custo de captação de dívida tem caído. Essa é a faixa conhecida no mercado como high grade, em referência às boas notas que as emissões obtêm das agências de classificação de risco. No outro extremo fica o segmento high yield (altas taxas, na tradução literal), que concentra as empresas em situação mais complicada e que, por isso, acabam pagando mais caro nos empréstimos que tomam. É nesse nicho que a Jive Mauá mais atua. Nesse lado, a melhora do mercado de crédito não vem acompanhada de reduções drásticas na rentabilidade – boa notícia para os investidores – mas de um aumento da oferta de crédito e maior diversificação de credores, explica Samer Serhan, sócio da Jive Mauá.

Em entrevista ao Bora Investir, Samer Serhan comentou as perspectivas para o ano de 2024 e o amadurecimento do mercado de crédito no Brasil. Confira a entrevista completa.

Bora Investir: Como vocês encaram o cenário atual para o crédito privado? Ainda estamos com taxas de juros elevadas, mas já há uma melhora para os balanços das empresas?

Samer Serhan: Tudo o que a gente for analisar, a gente faz uma base comparativa. Em 2023, as empresas estavam super apertadas na parte financeira, com as despesas e os custos de produção elevados, mas as receitas não estavam crescendo tanto. Então era uma tempestade perfeita. No final do ano passado e início deste ano, começamos a ver alguma mudança, com as empresas conseguindo vender mais, com faturamento maior.

Começamos a ver uma queda de Selic, que ainda não é de fato material para que a companhia pague menos juros e tenha menos despesa financeira, mas pelo menos o mercado está mais propenso a fazer operações.

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Então a gente vê uma condição melhor para as empresas se refinanciarem, ou para financiar o capital de giro e investimentos ao longo deste ano, por causa de um ambiente menos avesso a risco, no geral. Em janeiro já vimos uma captação boa dos fundos, os bancos concedendo mais crédito, a inadimplência já dando sinais de melhora.

Bora Investir: Muito tem se falado que neste ano devemos ter mais emissões de títulos de crédito por parte das empresas. Você vê um cenário propício para isso?

Samer Serhan: Sempre existiu um pipeline de empresas para fazer emissão. A diferença era que não existia a ponta do investidor querendo comprar. No ano passado, devem ter ficado represados, facilmente, uns R$ 200 bilhões em operações.

Então, sim, a gente vê uma propensão muito grande. Tanto na parte de investimento, então aquele capital que entra para a empresa investir em ativo fixo, em equipamento, em aquisições, quanto para capital de giro, porque as receitas estão crescendo, para fazer frente a esses pedidos novos, esse faturamento novo, e a empresa precisa de um capital de giro um pouco maior.

Bora Investir: Falando agora mais especificamente do segmento de crédito high yield, onde a Jive mais atua. Como essa melhora do cenário de crédito impacta suas operações?

Samer Serhan: As empresas que estão no segmento em que pagam mais caros em dívidas têm menos elasticidade em relação ao cenário. O que isso quer dizer? Se o mercado está muito bom, não significa que ela vai pagar muito mais barato. Vai pagar um pouquinho mais barato. Já se o mercado piora muito, não significa que ela vai pagar muito mais caro, porque já está pagando caro.

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Então é mais constante. O que acaba acontecendo é que essas empresas acabam tendo mais oferta de gente interessada em querer conceder operações. Melhora um pouco a diversificação de credores, a companhia fica mais motivada a fazer investimentos, a crescer.

Do lado dos investidores, ele não fica tão concentrado naquele devedor, há uma abertura maior para outros fundos e outros bancos entrarem. A gente vê essa melhora de uma maneira bem positiva, e ela já está acontecendo para a gente. Vemos devedores interessados em pré-pagar algumas dívidas porque conseguiram linhas novas, mais alongadas, com menos garantia, e é um ciclo natural. Mas a gente não vê uma abertura ou um fechamento de taxa pra esse nicho que a gente atua majoritariamente.

Bora Investir: Queria falar um pouco também sobre o mercado secundário de títulos de crédito. Você tem visto mais liquidez?

Samer Serhan: Muito mais. Houve um movimento de crescimento dos fundos de crédito, então, de fato, esse nicho cresceu muito em tamanho. Casas como a XP, o BTG, o Itaú passaram a oferecer crédito no secundário para os seus clientes, pessoas físicas, e para os seus clientes institucionais, sejam eles outros fundos ou fundos de pensão. Então começou a ter uma formação de mercado secundário muito mais saudável, onde você tem mais atores, como grandes corretoras, grandes bancos, os próprios fundos e pessoas físicas.

A gente particularmente é muito ativo no mercado secundário, dentro da classe de ativo de high yield. Somos procurados pelas principais corretoras, pelos principais clientes e a gente tem visto um fluxo bem crescente desde o segundo semestre do ano passado.

Era uma reclamação, mas não tinha muito o que se fazer. Em maturidade de mercado, você não consegue forçar a barra. O mercado tinha de crescer, se desenvolver, tinha uma curva de aprendizado para chegar onde está chegando. E ainda é muito restrito. Não é que você abre a torneira e cai 100 litros de água. Você abre a torneira e cai um litrinho de água ali, onde não caía uma gotinha. Melhorou, mas ainda não é um oceano de oportunidade. Mas a gente já vê de uma maneira bem mais sadia e natural do que a gente via há dois, três anos, com certeza.

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