Entenda as semanas conturbadas da gestão Musk à frente do Twitter
Confira a linha do tempo do B3 Bora Investir sobre as duas semanas turbulentas do bilionário Elon Musk no comando da rede social
O Twitter pode falir? As demissões vão continuar? A companhia pretende moderar o conteúdo? O capital já foi fechado? Essas e muitas outras perguntas pairam no mercado e na cabeça de milhões de usuários ao redor do mundo – diante da compra da rede social pelo bilionário Elon Musk.
No dia 27 de outubro, o homem mais rico do mundo pagou US$ 44 bilhões (R$ 235 bilhões) pelo Twitter, sendo que US$ 27 bilhões (R$ 144 bilhões) veio do seu próprio bolso. Com a aquisição, as negociações de ações da companhia nas bolsas de Nova York foram suspensas. A empresa notificou a Securities and Exchange Comission (SEC, à CVM nos Estados Unidos) à intenção de tirar a ação da companhia da bolsa.
A turbulência que passa o Twitter culminou com a demissão do presidente-executivo, Parag Agrawal, do diretor financeiro, Ned Segal, e da chefe de assuntos jurídicos e de políticas, Vijaya Gadde. Mais de 50% do quadro de funcionários também foi desligado em comunicados enviados por e-mail, segundo o chefe de segurança e integridade do Twitter, Yoel Roth.
Diante de tantas mudanças, os analistas internacionais da XP, Rafael Nobre e Pietra Guerra, afirmam que o mercado aguarda uma sinalização de Musk sobre os planos para a companhia.
“Sobre a situação financeira, o mercado está à espera de que o Musk apresente um plano de ação claro sobre o futuro da companhia, que responda como vai tornar a plataforma rentável. Se os comentários sobre uma potencial falência vierem acompanhados de tal movimento, poderemos ver uma retomada da credibilidade a depender do que for apresentado pelo Management”.
Em meio a todo esse alvoroço, Elon Musk, suspendeu contas; bateu boca com a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que criticou a verificação paga; rebateu críticas com memes publicados na sua conta pessoal; chegou à sede da empresa carregando uma pia de banheiro e ainda comentou. “Observe que o Twitter fará muitas coisas estúpidas nos próximos meses. Vamos manter o que funciona e mudar o que não funciona”, disse Musk.
Novo cenário para as big techs
Para os analistas da XP, o bilionário tem muito trabalho pela frente. O momento atual, de piora das perspectivas econômicas mundiais, também joga contra não só o Twitter, mas as maiores empresas de tecnologia como um todo, as chamadas big techs.
“O Twitter, quando comparado com outras redes sociais (como Meta e Snap), tem um histórico de baixo crescimento da base de usuários, o que dificuldade para atração de anunciantes. No momento atual, a combinação do cenário de desaceleração econômica, que tem diminuído os investimentos em publicidade de várias empresas, a reestruturação interna com corte de custos e pessoas da companhia, e a perda de credibilidade da plataforma deixam o futuro da empresa cada vez mais nebuloso”, explicam Rafael Nobre e Pietra Guerra.
Apesar das turbulências, os dois especialistas lembram do perfil empreendedor do bilionário.
“Elon Musk é um empreendedor em série que já fez parte da fundação de grandes empresas como Paypal, SpaceX, e Tesla. Portanto, pode ser que estamos a frente de uma grande história de turnaround da empresa com o Musk no comando. O mercado estará bastante atento ao que ele está fazendo no curto prazo”.
Contexto do imbróglio
O B3 Bora Investir fez uma linha do tempo com as medidas do bilionário à frente do Twitter. As frases do Elon Musk para cada decisão ajudam a contextualizar as mudanças em uma das maiores redes sociais do planeta.
26/10 – “Deixa a ficha cair”
O bilionário Elon Musk entra na sede do Twitter em São Francisco, nos Estados Unidos, segurando uma pia. Em um tuíte, no mesmo dia, ele usou a expressão “let that sink in” – “sink” significa pia em inglês.
Sem tradução direta para o português, a fala pode ser interpretada como “deixar a ficha cair”. O empresário não chegou a explicar por que entrou com o objeto na sede da empresa. Em resposta a seu vídeo, só disse que estava “conhecendo muita gente legal no Twitter hoje”.
27/10 – “O pássaro foi libertado”
Um dia após adquirir a rede social, Musk demitiu o presidente-executivo, Parag Agrawal, o diretor financeiro, Ned Segal, e a chefe de assuntos jurídicos e de políticas, Vijaya Gadde. Em sua conta postou: “O pássaro foi libertado”. Recebeu mais de 2 milhões de curtidas.
28/10 – “Absolutista da liberdade de expressão”
O dono da Tesla confirmou que vai criar um conselho para decidir sobre a moderação de conteúdo na rede social. Ele não deu detalhes de quando o grupo será formado e nem de como será a sua composição. Em um post afirmou “nenhuma decisão importante de conteúdo ou restabelecimento de conta acontecerá antes que o conselho se reúna”.
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04/11 – “Infelizmente não há escolha”
Os trabalhadores do Twitter no mundo disseram ter recebido e-mails com comunicados para informar a demissão. O chefe de segurança e integridade da rede social, Yoel Roth, confirmou o desligamento de 50% dos funcionários.
“Tínhamos proximidade com a direção global. Isso mudou depois do processo do Musk. Ficamos muito distantes e sem informações”, disse Roth. Musk, então, publicou: “infelizmente não há escolha quando a empresa está perdendo mais de US$ 4 milhões por dia”.
No mesmo dia, grandes multinacionais pausaram a publicidade paga dentro do Twitter. As principais foram a Volkswagen, Gilead Sciences, General Mills, General Motors e Allianz. As companhias disseram que vão monitorar a situação e que os próximos passos serão tomados dependendo da evolução dos fatos.
05/11 – “Sistema para quem tem ou não uma marca de verificação azul é uma m****”
A rede social começa a testar uma nova versão chamada de Twitter Blue. Nela, a versão paga da plataforma promete verificar com um selo azul todos os usuários que aderirem ao plano de US$ 8 por mês. A novidade está disponível apenas nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Não há previsão de chegada ao Brasil.
10/11 – “Tempos difíceis à frente”
Chegam os primeiros avisos por e-mails aos funcionários sobre o fim do home office. No comunicado, Musk diz que todos devem se preparar para “tempos difíceis à frente”. Sobre as perspectivas econômicas da empresa completou que não havia como “adoçar a mensagem”. Segundo a agência Bloomberg, o fim do home office começa a vigorar imediatamente com um regime de trabalho de, no mínimo, 40 horas semanais.
No mesmo dia Elon Musk disse aos funcionários do Twitter, em uma reunião geral, que uma “falência” não está fora de questão. Em caso de falência, o bilionário seria o mais prejudicado, uma vez que os acionistas são os últimos a receber quando uma empresa se reestrutura. Isso sem falar nos bancos e grandes investidores que assumiram as ações da companhia como Sequoia Capital, Binance e a Qatar Investment Authority.
11/11 – “No fim da próxima semana”
A quantidade assustadora de perfis fakes de artistas e empresas verificados levou a rede social a pausar as novas assinaturas do Twitter Blue. A notícia foi confirmada pelos jornais The Guardian e Financial Times.
Sobrou perfil falso para o ex-presidente americano Donald Trump e até para o personagem Mario Bros, da Nintendo. Um caso grave atingiu a farmacêutica Lilly, que registrou queda de 4% nas ações, após um perfil fake com selo azul ter tuitado que a companhia daria insulina “de graça”. No fim do dia, Musk suspendeu a modalidade, mas prometeu que ela voltará “provavelmente no fim da próxima semana”.
Para os analistas internacionais da XP, os problemas com perfis falsos e fake news impactam a publicidade e consequentemente o caixa do Twitter.
“Como resultado, grandes empresas estão anunciando o fim de suas campanhas publicitárias na plataforma em virtude destes acontecimentos e por não sentirem confiança no rumo em que Musk afirma que dará em termos de liberdade na plataforma, podendo acabar atrelando suas imagens a conteúdos indesejados”, explicam Rafael Nobre e Pietra Guerra.
14/11 – “Tenho muito trabalho no meu prato, isso é certo”
Elon Musk fez uma aparição virtual hoje na conferência de negócios B20 na Indonésia, à margem da cúpula de líderes do Grupo das 20 economias avançadas e em desenvolvimento. A informação é da agência Dow Jones.
O bilionário disse que tem muito trabalho a fazer desde que acrescentou o comando do Twitter à sua lista de tarefas. “Minha carga de trabalho aumentou bastante recentemente. Tenho muito trabalho no meu prato, isso é certo.”
Musk também dirige a fabricante de carros elétricos Tesla e a empresa de foguetes SpaceX.