Quer investir nas maiores empresas de tecnologia do mundo? Saiba como fazer isso sem sair do Brasil
Setor de tecnologia tem atraído investidores e analistas acreditam que há espaço para crescimento. Saiba como investir e quais os cuidados necessários
O ranking das maiores empresas do mundo hoje é dominado pelo setor de tecnologia. Das dez companhias de maior valor, seis são representantes desse setor: Microsoft, Apple, Nvidia, Alphabet (a dona do Google), Amazon e Meta (dona do Facebook). Conhecidas pelo público, elas também têm chamado a atenção de investidores.
Nesta semana, a Nvidia ganhou destaque especial ao surpreender o mercado com seu balanço. O lucro líquido da fabricante de chips foi de US$ 12,285 bilhões no quarto trimestre fiscal, uma expressiva alta de 769% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Só em 2024, as ações da empresa já registram valorização superior a 56%.
A boa notícia é que quem quiser embarcar no crescimento do setor tech tem a chance de fazer isso mesmo sem sair do Brasil, com a possibilidade de investir em BDRs de ETFs do setor. Mas não se assuste com a sopa de letrinhas. O Bora Investir conversou com especialistas para explicar o que são esses ativos e como investir.
O que são ETFs?
ETF é a sigla para Exchange Traded Fund, ou fundos negociados em bolsa, em tradução livre. No Brasil, são também conhecidos como fundos de índice.
Vamos por partes: o ETF é um fundo de investimento, ou seja, um produto em que um gestor profissional reúne o capital de diversos investidores e faz a escolha de em quais ativos alocar o dinheiro, de acordo com a política do fundo em questão. Existem fundos que investem apenas em renda fixa, outros que investem em ações, moedas, e ainda os multimercados, que têm flexibilidade para escolher onde investir de acordo com o cenário.
Agora para a segunda parte da sigla: eles são negociados em bolsa. As cotas de um ETF são negociadas nas bolsas de valores, da mesma forma que as ações e os fundos imobiliários. Isso significa que, quando um investidor quer entrar em um fundo desse tipo, precisa entrar em sua corretora e comprar uma ou mais cotas. Da mesma forma, quando quer sair desse investimento, precisa vender suas cotas.
Os ETFs oferecem uma gama diversificada de estratégias. No setor de tecnologia, há os mais abrangentes, que investem por exemplo em índices como o Nasdaq (bolsa americana que concentra grande parte das empresas de tecnologia). Há também os focados em um tema específico, como inteligência artificial.
O que é são BDRs?
BDR é a sigla para Brazilian Depositary Receipts. São recibos de ativos emitidos no exterior, mas que podem ser negociados na B3, a bolsa do Brasil. Da mesma forma como existem BDRs de ações, existem BDRs de ETFs.
Basicamente, é um instrumento que permite que brasileiros invistam em empresas e ETFs listados em bolsas estrangeiras sem sair do Brasil e sem enviar dinheiro para fora do País.
O setor de tecnologia não é homogêneo
O setor tech era conhecido por ter uma volatilidade maior nas bolsas pelo mundo. Mas segundo Caio Fasanella, head de investimentos da Nomad, esse não é mais o cenário para todas as empresas de tecnologia.
“Hoje, principalmente se olharmos as big techs, o grau de volatilidade caiu bastante”, afirma. “São empresas que estão mais sólidas no mercado, mais estabelecidas e que têm inclusive diversificação na receita”.
Isso não quer dizer que não haja o sobe e desce nos preços. Até porque algumas empresas de tecnologia ainda estão em fase de desenvolvimento e precisam se provar escaláveis e rentáveis. Nessas, por outro lado, há muita chance de crescimento no longo prazo.
Ainda há espaço para crescer?
Segundo Fasanella, o nível de valuation (o valor de mercado) das empresas de tecnologia está acima da média histórica. Mas ainda há espaço para que essas companhias cresçam? Muitos acreditam que sim.
“Mesmo em um ambiente de elevadas taxas de juros, que poderiam pressionar o preço das ações de tecnologia, essas empresas estão indo na contramão, e o fator essencial é a expectativa com a IA. A gente acredita que é algo que pode revolucionar o mercado, talvez como a internet nos anos 1990”, afirma Fasanella. “Se começarmos a ver uma queda de juros mais rápida ou antes do que o esperado, talvez tenhamos um fluxo ainda maior para essas empresas”, o que pode dar impulso a novas valorizações.
João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos, concorda. “Acredito que a gente deve continuar vendo inovações e bons desempenhos. Algumas empresas nos parecem caras nesse momento, mas quando olhamos para o setor como um todo, num momento de queda de taxa de juros podendo acontecer no futuro, acredito que ainda temos potencial para o setor”, afirma.
Inteligência artificial é o tema do momento
Segundo Caio Fasanella, o tema hoje que mais tem se destacado dentro das big techs é a inteligência artificial. Essa é, inclusive, a razão que explica o grande crescimento da Nvidia. A tecnologia da IA ainda está em fase de desenvolvimento, e não se sabe ao certo quais serão as grandes vencedoras nessa corrida. Mas a Nvidia trabalha produzindo chips de alta tecnologia – que são necessários para qualquer empresa que queira construir soluções com inteligência artificial.
IA também é um dos temas que chamam a atenção de Freitas, ao lado de computação em nuvem e cibersegurança. “Tem uma comoção em torno do termo IA, mas acredito que estamos começo desse boom e tem potencial para a gente falar muito disso ainda ao longo dos anos”.
Qual a vantagem de investir em tecnologia via ETF?
Para Fasanella, os ETFs são uma forma interessante de começar a investir em renda variável. Com eles, o investidor tem uma diversificação (já que um único ETF investe em diversas empresas) e ainda conta com uma gestão profissional para seu investimento.
Existe também uma diversidade grande de ETFs focados em tecnologia. “Além dos ETFs mais amplos, como os que replicam o índice Nasdaq, existem outros mais específicos, voltados a algum tipo de tecnologia mais segmentado, nichado, como cibersegurança, computação em nuvem, biotecnologia, internet das coisas, 5G”, afirma Freitas, da Toro.
“O ETF é um veículo muito interessante para o investidor ter uma exposição a esse mercado. A recomendação mais geral ao investidor que quer exposição à tecnologia em si, ou aumentar a diversificação da carteira, é um ETF mais amplo do setor de tecnologia, porque vai ter diversificação em um único ETF e exposição a várias empresas, em diferentes nichos de tech”, diz Freitas.
Como escolher um BDR de ETF?
Para Freitas da Toro, o primeiro passo para escolher uma das opções disponíveis é entender em quem o ETF investe. “Olhar as maiores posições, para saber se o ETF é muito ou pouco concentrado, e ver se você está de acordo com essa posição”, explica.
Depois disso, é importante avaliar a liquidez do papel (o quanto ele é negociado por dia na bolsa). Segundo ele, muitos têm pouco volume de negócios, mas mesmo se esse for o caso, ele sugere conferir se existe um market maker para o BDR de ETF, ou seja, um agente que garanta a compra caso algum investidor queira vender o papel.
A variação do câmbio vai afetar meus investimentos?
Sim. O desempenho de um BDR de ETF terá, em reais, embutida a variação do dólar. Há quem defenda, no entanto, que isso não é ruim.
“A gente gosta de falar que as carteiras têm de ser diversificadas, e parte dessa diversificação deve ser em ativos globais. Assim, o investidor não tem sua carteira concentrada só em empresas brasileiras e em reais”, afirma Fasanella, da Nomad.
Uma estratégia que ele sugere para amenizar a volatilidade da moeda é a de fazer o investimento aos poucos. Assim, o investidor consegue vários “pontos de entrada” no ativo, fazendo uma cotação média do dólar.
Quer aprender mais sobre a previdência privada e sobre como se preparar para a aposentadoria? Confira este curso gratuito do Hub de Educação da B3.