Para onde vai o dólar? Entenda quais fatores podem afetar o câmbio nos próximos meses
Taxa de juros nos Estados Unidos pode afetar o desempenho do dólar contra o real
O dólar já se apreciou mais de 16% ao longo de 2024. No último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (05/08), o mercado projetava que a moeda norte-americana iria encerrar o ano cotada a R$ 5,30, bem acima dos R$ 5 previstos no início do ano. É impossível cravar com precisão qual será a trajetória do câmbio – afinal, são diversos os fatores que influenciam a cotação do dólar no Brasil e que podem mudar a qualquer momento. Mas para que você entenda melhor as oscilações, o Bora Investir conversou com especialistas para saber quais os pontos de atenção para os próximos meses.
“O dólar não é ciência exata, existe uma somatória de forças, e resulta no valor que ele está no momento ou vai estar no momento futuro”, explica Lucas Sharau, assessor de investimentos na iHUB Investimentos.
Juros – aqui e nos EUA
“O que move as moedas mundialmente é taxa de juros”, resume Henrique Lucena, sócio e especialista em investimentos offshore da Arton Advisors. Segundo ele, com os títulos de tesouro americano pagando um retorno real (descontado a inflação) entre 2,25% e 2,50% ao ano atualmente, o dólar fica fortalecido frente as demais moedas.
Por outro lado, a perspectiva agora é a de que o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) inicie seu ciclo de corte de juros em setembro. “Se o Fed for mais forte [nesse corte] do que o mercado espera, podemos ter uma depreciação do dólar contra o real”, diz Lucena.
Isso só se concretizaria, entretanto, se as taxas de juros aqui no Brasil forem mantidas, ou aumentarem. A razão disso é o diferencial de juros: o quanto os investidores ganham a mais se aplicarem seus recursos no Brasil e não nos EUA.
Sharau lembra ainda que a trajetória dos juros no Brasil afeta a percepção de risco dos investidores estrangeiros. “Quando se olha para um país que estava em um processo de redução da taxa de juros, e a taxa começa a subir, significa que o risco do país está aumentando”, diz. Isso desencadeia, segundo ele, uma saída de investimentos – ou seja, a saída de dólares. “Os juros futuros aqui no Brasil precificavam uma perspectiva de corte até ao redor de 9%, agora já estão em 10,50%, e há casas falando até em 11%”, afirma.
Quem será o próximo presidente do BC
Segundo Lucena, outro ponto de atenção é sobre quem será o presidente do Banco Central brasileiro a partir do ano que vem. A escolha de quem irá chefiar a autoridade monetária influencia a trajetória dos juros por aqui e, consequentemente, o diferencial de juros entre Brasil e EUA.
“Vai depender de se a pessoa que vai entrar vai tentar segurar a inflação, mantendo a taxa de juros como está ou aumentando, ou uma pessoa mais dovish”, diz ele. Dovish, no jargão econômico, significa uma autoridade monetária mas leniente com a inflação, que poderia reduzir os juros.
Risco fiscal no Brasil afeta o dólar?
Segundo Lucas Sharau, da iHUB, o resultado das contas públicas pode ter reflexos na inflação e na trajetória dos juros aqui no Brasil. “Quanto mais as contas públicas estão no negativo, a consequência é uma inflação maior”, diz. “Isso pode afugentar o investidor”, afirma.
Para Lucena, por outro lado, o resultado das contas públicas do Brasil é um “risco menor”. “Essa é uma preocupação muito mais baseada o cenário interno do que no externo. As taxas de juros nos EUA e aqui são muito mais importantes do que a balança fiscal”, afirma.
Incertezas geopolíticas
A escalada dos conflitos no Oriente Médio é mais um fator no radar dos investidores. “Esse estresse colabora para que haja fuga de dinheiro para o dólar”, diz Sharau. “Quando tem guerra, tem estresse. O grande investidor busca se encostar na parede e evitar se expor a risco”, diz. Isso leva a uma maior demanda por dólar e ouro.
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