Golpe de criptomoedas aplicado em jogadores do Palmeiras envolvia pedras preciosas
Alexandritas eram dadas como garantias de investimentos pela empresa XLand, segundo apuração do Fantástico
O golpe contra dois jogadores do Palmeiras, que perderam mais de R$ 11 milhões, ganhou os holofotes nas últimas semanas. Agora, a investigação em curso mostra que a suposta aplicação financeira oferecida ao lateral Mayke e o ex-meio campista Gustavo Scarpa, atualmente em um time na Inglaterra, não envolvia apenas criptoativos, mas também dava como garantia pedras preciosas.
Além de prometer rendimentos de 3,5% a 5% ao mês com criptomoedas, a XLand, que administrava as aplicações, deu como garantia desses investimentos pedras preciosas que mudam de cor, chamadas alexandritas. Esta foi a forma encontrada pela empresa, sediada no Acre, de convencer investidores de que a aplicação era segura.
Segundo a empresa, os 20 kg da pedra valiam mais de R$ 2 bilhões. Contudo, a Justiça descobriu que o lote foi comprado por apenas R$ 6 mil de uma empresa de joias na Bahia, segundo apuração divulgada pelo Fantástico.
+ Marco Legal dos Criptoativos: o que muda para quem investe?
Para convencer os jogadores sobre o valor das garantias, a XLand emitiu um recibo de custódia fornecido por uma empresa de cofres de São Paulo, a Sekuro. O documento é assinado por uma gemóloga. Contudo, a empresa de segurança aponta que ele só servia para mostrar que as pedras preciosas estavam guardadas, e que o valor incluído no documento foi inserido pela própria XLand.
Mayke, e Gustavo Scarpa foram convencidos por um amigo em comum, o atacante Willian Bigode, que joga no Athletico Paranaense, a investir na empresa. No entanto, eles não conseguiram resgatar os recursos aplicados, e precisaram entrar com uma ação na Justiça para reaver o dinheiro.
Bigode montou uma empresa de gestão financeira para apresentar o negócio, mas aponta que não tem nenhuma sociedade com a XLand e também foi prejudicado.
Cuidados para evitar fraudes financeiras
Quem investe em criptomoedas deve tomar cuidado para não cair em fraudes financeiras, especialmente se o investimento for feito por meio de exchanges, empresas prestadoras de serviços de intermediação, negociação e custódia desses ativos.
Isso porque essas empresas ainda não precisam se submeter à aprovação de órgãos reguladores e, consequentemente, cumprir uma série de obrigações legais, o que dá espaço para a atuação de fraudadores, explica Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY Brasil.
O Marco Legal dos Criptoativos, sancionado em dezembro de 2022 e que entra em vigor em junho deste ano, obriga as bolsas de criptomoedas a manter um registro de suas operações no Coaf, órgão de fiscalização que visa combater a lavagem de dinheiro.
Essas regras devem estabelecer, entre outras obrigações, que os diretores ou administradores dessas empresas não possam ter processos judiciais e administrativos contra eles.
Também exigem que, para determinado valor de ativos custodiados, a epresa tenha garantias em dinheiro. Dessa forma, é possível dar maior segurança para o investidor de que ele terá seu dinheiro de volta no caso do pedido de resgate.
Enquanto essas definições não ocorrem, Talarico recomenda tomar os seguintes cuidados.
1) Faça uma pesquisa minuciosa sobre a exchange, incluindo sócios
O investidor deve analisar a trajetória dos sócios e dos fundadores da exchange e verificar se existem processos administrativos e/ou judiciais contra eles e contra a empresa.
Uma carreira dos sócios em corretoras e outras instituições financeiras pode indicar que têm credibilidade no mercado. Além disso, a orientação é checar se a exchange segue boas práticas de gestão e de prestação de contas, como reportar suas transações ao Coaf voluntariamente.
2) Saiba que não há retorno alto e fixo no mercado de criptomoedas
Um retorno elevado e fixo ao mês, como 5%, é impossível em um mercado volátil como o das criptomoedas, sublinha Talarico.
“Como o bitcoin teve um período de valorização exorbitante, saindo do valor equivalente a uma pizza para chegar a dezenas de milhares de dólares, os investidores ainda têm essa memória, o que pode induzi-los a erro”, esclarece a especialista.
“É importante considerar como parâmetro para o investimento não essa fase de ouro do bitcoin, mas a média de rentabilidade de outros investimentos, que fica muito abaixo de 5% ao mês”, observa.
3) Analise quem está recomendando o investimento em criptoativos
A sugestão da especialista da EY é analisar se quem está recomendando o investimento conhece o mercado financeiro e o de criptoativos.
Se é uma empresa intermediadora que irá transferir o dinheiro, ela deverá ser submetida à mesma análise da exchange.
4) Tenha consciência de que não existem mecanismos de proteção do dinheiro investido
No mercado de investimento tradicional, que é regulado, existe todo um arcabouço de mecanismos para proteger o investidor de fraudes financeiras ou, até mesmo, garantir determinado valor aplicado no caso de falência, ou colapso de alguma instituição financeiro.
O exemplo mais conhecido é o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), instituição privada e sem fins lucrativos. O fundo assegura aos clientes das instituições financeiras até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em cada conglomerado financeiro nos casos de intervenção, liquidação extrajudicial ou falência.
“No mercado de criptoativos, não existe essa base de auxílio mantida pelo regulador, o que significa dizer que o investidor não terá qualquer amparo em casos como esse”, finaliza Talarico.
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