Objetivos financeiros

História curta: alguns erros financeiros da minha juventude


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


A maturidade é uma coisa curiosa – lembramos das nossas escolhas financeiras passadas com olhos um tanto condenatórios, não? “Como não percebi”, “por que não fiz” ou ainda, “se eu tivesse sabido disso antes” são pensamentos que no fundo, nos envenenam vagarosamente. Recentemente me peguei divagando a respeito de alguns erros que cometi na minha juventude em relação às minhas finanças e que, corajosamente, venho contar aqui para que você não caia nessas mesmas ciladas. 

  1. Não é questão de trabalhar mais

Seu eu tivesse aprendido, no meu início de vida profissional, que alcançar o primeiro milhão não era questão de trabalhar mais do que os outros, e sim, de trabalhar melhor, eu teria acelerado em muito o meu crescimento profissional (além de evitar um tanto de frustração e desgaste físico). 

Eu acreditava que a chave para ser muito rico nessa vida era começar a trabalhar muito jovem, chegando antes e indo embora muito depois de todos. A verdade é que a relação entre trabalho e dinheiro nunca foi linear, e olha só: trabalhar muito desgasta, nos deixa mais longe da família, do lazer, da saúde. Aprendi somente chegando aos 30 anos que ficar rico não depende do QUANTO trabalhamos, mas, sim, de COMO trabalhamos. Inteligência emocional, capacitação e atualização constantes são muito mais relevantes do que a quantidade de horas trabalhadas. Hoje eu sei que a expressão “se matar de trabalhar” existe porque faz sentido.

  1. Comprar por comprar envolve muito mais do que dinheiro

Perdi muito tempo comprando errado e não falo aqui do tempo que perdi dentro de lojas. Falo do tempo que precisei trabalhar para pagar por coisas que não valeram a pena. Deliberadamente prefiro não fazer a conta de quantas roupas pouco usadas e objetos inúteis já comprei nessa vida, mas afirmo com toda a certeza que esses gastos desnecessários foram reflexo da falta de educação financeira de quando comecei a receber meus primeiros salários.

Quando compramos errado, por impulso, para aproveitar a oportunidade, porque sobrou dinheiro… não estamos jogando fora só o nosso dinheiro. Estamos jogando fora também o tempo que gastamos para conseguir esse dinheiro, e (frase batida, eu sei, mas essencial), tempo é a única coisa que não conseguimos recuperar nessa vida. 

  1. Carro zero antes de tudo

Não acredito que os carros, em si, tenham sido o problema (já que era um item imprescindível para as minhas demandas profissionais e de estudo), mas definitivamente esses bens não deveriam ter passado à frente de um planejamento financeiro baseado em objetivos. Pensar em definição de metas para 5, 10, 15 anos era algo impensável para mim em meio à intensidade de eventos nesse início de vida produtiva. 

O fato é que ter metas para conquistar sonhos e objetivos é uma das formas mais simples e práticas de justamente não passar a vida toda correndo atrás daquilo que se quer. Obrigatoriamente, um bom planejamento financeiro Goal Based (focado no atingimento de objetivos) passa pelos seguintes passos:

1 – Saber quanto ganha e quanto gasta;

2 – Ter objetivos verdadeiramente relevantes (para você – e não para pais, cônjuges ou outras pessoas queridas);

3 – Precificação adequada dos objetivos e divisão do valor total em metas financeiras mensais factíveis;

4 – Atualização constante das metas (afinal, a nossa vida está em constante movimento, inclusive a financeira);

5 – Diminuição de gastos, aumento de receitas e multiplicação dos recursos.

A juventude é uma ótima fase para construir os pilares de uma vida financeira organizada e equilibrada, e se você foi observador, deve ter percebido que os meus três erros não estão relacionados à técnicas sofisticadas de administração pessoal ou a produtos financeiros. Todos os meus erros foram comportamentais e reflexo da falta de educação financeira. Essa é mais uma prova de que o tema finanças pessoais vai muito além dos números e matemática, não é mesmo?