Idosos investidores: “é preciso evitar riscos e buscar aplicações que protejam o dinheiro da inflação”, diz Jansen Costa
Em entrevista, sócio-fundador da Fatorial Investimentos dá dicas de como investir depois dos 60 anos e explica a importância do planejamento financeiro para a terceira idade
A população idosa com mais de 60 anos representa 15,6% dos brasileiros e em pouco mais de uma década avançou 56%, de 20,5 milhões em 2010 para 32,1 milhões em 2022, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com a expectativa de vida maior, saber investir para acumular uma boa poupança é essencial para essa população. O problema é que muitos idosos só descobrem que não tem reservas suficientes para cobrir a sua aposentadoria quando já estão com a idade avançada.
Em entrevista ao Bora Investir, o sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, explicou que os brasileiros da terceira idade precisam aplicar em produtos que protegem o dinheiro da inflação e devem evitar perdas patrimoniais e investimentos com rentabilidade baixa.
“Essa população mais idosa geralmente é muito conservadora e acaba alocando em poupança e títulos de capitalização, produtos que devem ser evitados. Uma maneira mais sofisticada de investir é procurar o Tesouro Direto com títulos atrelados à Selic”.
Segundo o analista, investimentos garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – que cobre até R$ 250 mil caso ocorra problemas de liquidez com a instituição onde o valor está aplicado – também são ótimas opções.
Na renda variável, Jansen Costa afirma que é preciso tomar cuidado com perdas patrimoniais. No entanto, acredita que os Fundos Imobiliários são boas opções – já que têm a vantagem de pagar todos os meses um rendimento isento de imposto de renda.
“Quem chegou aos 60 anos e nunca aplicou em renda variável, dificilmente vai conseguir ter um processo educacional que garanta não se desesperar numa crise. No entanto, grande parcela da população que tem dinheiro aplicado em ações hoje está numa idade mais avançada e construiu o seu patrimônio ao longo de muitos anos”, explica.
Para o sócio-fundador da Fatorial Investimentos, o planejamento financeiro para a terceira idade é essencial, principalmente porque quase 50% dos rendimentos costumam ser gastos com saúde.
“Esse custo vem aumentando e a falta de planejamento dificulta bastante a manutenção do mínimo de qualidade de vida. Se o jovem ou mesmo o idoso que estiver lendo essa entrevista não tiver um planejamento financeiro, nunca é tarde para começar”.
Acompanhe a entrevista completa a seguir.
Bora Investir: A população acima de 60 anos representa quase 16% dos brasileiros. Antes de falar sobre investimentos para os idosos, queria saber qual a importância do planejamento financeiro nesta idade?
Jansen Costa: Chegar nessa idade sem nenhum tipo de planejamento financeiro é um pouco complicado em função do processo de longevidade. A expectativa de vida vem aumentando e as pessoas tendem – ao longo da vida de trabalho – a colocarem recursos para pagar o INSS. Só que a Previdência Social não é capaz de suprir as nossas necessidades.
É muito comum brasileiros entre 65 e 70 anos terem mais de 50% dos seus rendimentos pagos em planos de saúde. Então esse custo vem aumentando e a falta de planejamento dificultaria bastante a manutenção do mínimo de qualidade de vida. Portanto, o planejamento financeiro se faz necessário para que se evite problemas de dinheiro no futuro, ou seja, da longevidade versus a poupança das pessoas.
Bora Investir: Muitos brasileiros com 60 anos ou mais chegam nessa idade sem poupança suficiente. Quais os primeiros passos para os 60+ começar a investir?
Jansen Costa: O fator do idoso não ter acumulado recursos durante a vida prejudica a acumulação de poupança, pois você não tem a capacidade de ganhar juros compostos ao longo do tempo e não se consegue multiplicar os recursos com tanta facilidade. Numa idade de 65 anos a 70 anos é esperado que se tenha, pelos menos, entre 15 anos e 30 anos a mais de vida. Então não é esperado que se tome riscos.
Ao chegar numa idade mais avançada sem nenhum grande patrimônio acumulado, a primeira coisa é tentar evitar processos de perdas patrimoniais elevadas. Então, é preciso não tomar muito risco com o seu capital e aplicar em investimentos que protejam da inflação, ou seja, basicamente evitar produtos que tenham uma rentabilidade muito baixa.
Essa população mais idosa geralmente é muito conservadora e acaba alocando o dinheiro, através dos bancos, em poupança e títulos de capitalização, que são produtos que devem ser evitados. Uma maneira mais sofisticada de investir é procurar basicamente o Tesouro Direto com os títulos atrelados à Selic. Isso já traz um grande avanço para deixar o dinheiro aplicado.
Bora Investir: Além do Tesouro Direto, investimentos em renda fixa como CDBs e Letras de Crédito – garantidos até R$ 250 mil pelo FGC – também são formas de o idoso melhorar a sua poupança?
Jansen Costa: Com certeza. O idoso precisa buscar uma rentabilidade maior, mas não pode ter uma perda do seu valor principal. Basicamente ele precisa alocar em um título de renda fixa.
O CDB e as Letras de Crédito, por exemplo, são garantidos pelo FGC caso o banco venha a quebrar. Os idosos, precisam se atentar a produtos que tenham o FGC. Sempre respeitando a regra de R$ 250 mil por banco e até o limite de R$ 1 milhão. Já aqueles que não quiserem se preocupar com isso, podem utilizar o Tesouro Selic – que é barato e não perde o valor principal aplicado pelo idoso. Produtos bancários, como as próprias LCs, que têm isenção de Imposto de Renda, também são investimentos vantajosos.
Como assessor de investimentos, vejo muita gente que se preocupou no passado com relação a essa alocação de dinheiro ao longo da vida e hoje são detentores de grandes posições em ações. Já aqueles que nunca puderam ou quiseram poupar, reforço que o mais importante é evitar alocar em produtos ruins.
Há também outras questões. Os idosos geralmente ajudam os jovens a financiarem as suas necessidades. Muitos usam as pessoas mais velhas para fazer créditos consignados, por exemplo. Isso precisa ser evitado para não comprometer a renda das pessoas com idade mais avançada.
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Bora Investir: As cadernetas de poupança são muito utilizadas por idosos para guardar dinheiro. É uma boa escolha?
Jansen Costa: A poupança é uma péssima escolha por conta da sua rentabilidade de 6% por ano. Hoje com a Selic em 10,75%, quem aloca dinheiro na caderneta acaba por abrir mão desse ganho. A poupança é um produto isento de imposto de renda, mas ela não deveria ser nunca utilizada – em qualquer momento da vida – para a aplicação de dinheiro.
É importante lembrar também que a poupança é um produto que só paga o rendimento no aniversário. Então, se você precisa do dinheiro com três, quatro, cinco dias depois do aniversário, você abre mão da rentabilidade.
Bora Investir: Em relação a renda variável, ela não deve ser considerada pelos idosos que nunca investiram nesse mercado?
Jansen Costa: Quem chegou na idade de 60 a 70 anos e nunca aplicou em renda variável, dificilmente vai conseguir ter um processo educacional que garanta não se desesperar numa crise. No entanto é importante notar que muitos dos idosos no país tem renda variável. A grande parcela da população que tem dinheiro aplicado em ações hoje está numa idade mais avançada e construiu o seu patrimônio ao longo de muitos anos aplicando no mercado acionário.
As ações garantem um rendimento superior a renda fixa, mas nem todo mundo está preparado para isso. Então a primeira coisa que precisa saber é o tipo de investidor que está buscando alocar o seu capital. Se ele tiver um perfil moderado para agressivo – ou entender um pouco sobre as perdas patrimoniais que pode ter ao longo do caminho – ele pode alocar sem problema nenhum. Nunca deixando de aplicar em boas empresas que tem lucros crescentes ao longo do tempo.
Bora Investir: O mercado de fundos imobiliários tem crescido entre os brasileiros. Mesmo sendo classificados como renda variável, eles podem ser bons investimentos para idosos?
Jansen Costa: Os fundos imobiliários não têm uma garantia dos bancos, mas têm a vantagem de pagar todos os meses um rendimento isento de imposto de renda. Para muitas pessoas que buscam um complemento de renda, o fundo imobiliário faz esse papel, além de ficar no meio de campo entre a renda fixa e a variável. Obviamente é necessário fazer uma boa seleção dos FIIs para garantir uma renda superior à Selic.
Então os fundos imobiliários têm um componente de renda variável, mas não são tão arriscados. Isso se soma ao rendimento isento de IR que vai na conta mensalmente e que pode se juntar as retiradas de aposentadoria do idoso e garantir um fluxo de salário por um período. Portanto, muitos investidores que vêm alocando dinheiro em fundos imobiliários buscam essa renda mensal para pagar suas despesas.
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Bora Investir: Os planos de previdência privada podem ser considerados para quem já tem uma idade mais avançada?
Jansen Costa: Os planos de previdência privada têm três vantagens competitivas. A primeira é que se você é um assalariado – recebe via modelo CLT e faz declaração de IR completa – você pode ter um aumento na casa de 12% ao ano da sua renda bruta, pagando menos imposto. Assim as pessoas que fazem isso anualmente são forçadas a guardar o dinheiro com uma taxa de administração baixa.
A segunda é que os planos de previdência são instrumentos que facilitam o processo de sucessão. Então, os idosos começam a colocar parte do seu capital que não será usado em vida para o processo sucessório. O plano de previdência não paga ITCMD [Imposto de transmissão causa mortis e doação] e o valor não entra em inventário.
A terceira vantagem é que o plano de previdência tem um imposto regressivo, ou seja, depois de dez anos você paga 10% e não tem come-cotas. O problema é a questão da liquidez.
Bora Investir: É possível fazer uma conta básica para saber quanto é necessário poupar para entrar na melhor idade de forma segura e tranquila?
Jansen Costa: Saber a necessidade que você terá mensalmente durante a melhor idade é o ponto mais importante dentro de um planejamento financeiro bem-feito. A conta ideal é pegar a sua necessidade mensal, multiplicar por 12 e dividir por uma taxa de juros livre de risco – que no Brasil hoje está na casa de 5,5% ao ano.
Um salário de R$ 1 mil por mês vezes 12 meses daria R$ 12 mil. Dividido por uma taxa livre de risco de 6% – que é 0,06 – seria basicamente R$ 200 mil o dinheiro que a pessoa deveria ter aplicada para viver com uma renda de R$ 1 mil até falecer.
Bora Investir: A educação financeira é importante durante toda a vida para uma velhice mais serena. O que os mais jovens podem aprender com essa nova conversa?
Jansen Costa: Se o jovem ou mesmo o idoso que estiver lendo essa entrevista não tiver um planejamento financeiro, nunca é tarde para começar.
Planejar significa antecipar movimentos. Quanto mais cedo se planejar, menos dinheiro você vai ter que guardar para ter a mesma renda no futuro. Então é sempre melhor começar a poupar cedo.
Se a gente pudesse voltar no tempo, com certeza tomaríamos decisões diferentes. Como não se pode mexer nem no futuro e nem no passado, tem que começar a fazer um planejamento hoje. Então é muito importante a capacidade de guardar dinheiro todos os meses.
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