Copom reduz Selic para 10,75%; comunicado faz mercado ajustar projeções para fim do ciclo
Comitê retirou do comunicado a sinalização sobre manter o ritmo de corte nas próximas reuniões
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nova redução da Selic em 0,50 ponto porcentual nesta quarta-feira, 20. Assim, a taxa básica de juros do País vai a 10,75% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado.
Essa é a sexta vez consecutiva que o comitê optou por cortar a taxa nessa magnitude. A decisão foi unânime entre os integrantes do colegiado.
O comunicado aponta que, se confirmado o cenário esperado, o BCB deve seguir o ritmo de corte na próxima reunião, que acontece nos dias 7 e 8 de maio. Porém, o texto retirou a parte que afirmava o corte de mesma magnitude nas reuniões seguintes, aumentando a cautela sobre o cenário da política monetária.
“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Mudança em comunicado divide opiniões
Como não havia dúvidas sobre o corte de 0,5 ponto porcentual, analistas se focaram na escrita do comunicado do Copom. Diversas casas mantiveram suas projeções sobre o nível de juros no final do ano, mas alertaram para risco de que a Selic encerre 2024 acima de suas expectativas – foi o caso da ASA (8,5%) e da XP (9%). Já a Nova Futura elevou a projeção de 9% para 9,5%. A Capital Economics, por sua vez, se disse “mais confiante” sobre sua projeção de que a taxa encerre o ciclo de cortes em 9,5%.
“Nos parece um BC cauteloso dado o comportamento recente da inflação, e que não quis continuar a se comprometer pra horizontes mais longos. Ou seja, hawk. Quanto a terminal de 9%, aumentamos o viés altista que já tínhamos. A ata deve trazer informações adicionais”, comenta a economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Natalie Victal.
Para alguns, nem mesmo as mudanças no comunicado foram uma surpresa. “Esta Super Quarta não tinha nada de ‘super’. O que nós esperávamos já era certo. O Fed e o Banco Central, o Copom no Brasil e o FOMC nos Estados Unidos, executaram exatamente o que nós prevíamos”, afirmou Bruno Corano, economista da Corano Capital.
“Nada muda no Copom, mesmo tom das últimas reuniões”, resumiu Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset. “O BCB manteve a conduta de mesmo ritmo de corte da Selic em 0,5 p.p., na mesma magnitude das últimas reuniões, indicando para a próxima (no singular) mais um corte de 0,5 p.p.”, afirmou, em nota.
Já Marco Antonio Caruso, economista-chefe do PicPay, classifica as mudanças no comunicado como relevantes. “A mudança se deu em função de três pontos mencionados no comunicado: o aumento da incerteza lá fora, sobre quando a inflação de fato vai ceder de forma consistente; o aumento da incerteza doméstica, que foi incluído na parte de balanços de riscos sem maiores detalhes […]; e um terceiro ponto, o comunicado também cita que, em função dessa elevação da incerteza, o ideal seria ter uma maior flexibilidade”.
“Dessa forma o Copom foi mais Hawkish que o esperado, contratou uma queda de 10,25% na próxima reunião mas condicionou a continuidade do cenário benigno. O que fica subentendido é que o ponto de chegada do banco central é o mesmo da última reunião, mas dessa vez ele entende que precisa desacelerar o ritmo de cortes”, comenta Luan Alves analista, Chefe da VG Research.
Para Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, os números mais fortes da economia, com emprego e PIB expandindo trazem dúvidas até quando o BC conseguirá manter o ritmo de 0,50% de corte.
Segundo Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, com essa mudança na sinalização, a autoridade monetária se mostra mais conservadora do que o mercado esperava. “E de fato demonstra maior propensão a continuar um ciclo de maneira mais prudente e cautelar na sua etapa final”.
Pedro Afonso Gomes, presidente do Corecon-SP, a decisão reduz a pressão sobre as contas do governo, dado que 20% do total de dívida pública ainda é atrelado à variação da Selic. Ele lembra que a redução da taxa básica traz reflexos nos outros investimentos, “notadamente aqueles que trabalham com ativos reais, ou a partir de ativos reais, como são os fundos de investimento imobiliário”, afirmou.
O que motivou a decisão de redução da Selic?
Segundo o comunicado, a decisão por cortar a Selic em 0,5 p.p. foi motivada pela manutenção do cenário doméstico, dado que o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com a desaceleração da economia prevista pelo Copom.
“A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, afirmou.
O Comitê também ressaltou que permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
(i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e
(ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
(i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
(ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Maior cautela com cenário externo
Contudo, o comitê de política monetária do BC aumentou a cautela em relação ao cenário externo. O comunicado destacou que o ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias do mundo.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”.
Por fim, ele reafirma que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
*Com informações Agência Estado
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