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Quando guardar dinheiro demais também pode virar problema

Investidor corre o risco de perder o controle se exagerar no corte de despesas com o objetivo de acumular patrimônio

Mão de vaca, pão-duro, muquirana, canguinha… não faltam sinônimos regionais para definir aquela pessoa que exagera no comportamento exagerado de apego ao dinheiro.

Essa característica também pode se manifestar entre os investidores. Encantadas com a possibilidade de acumular recursos, essas pessoas passam a cortar as despesas de forma desmedida com o objetivo de acumular patrimônio. Em 100% das vezes, por exemplo, preferem guardar em vez de usar parte da renda para programas com a família ou um momento de lazer. O comportamento pode trazer problemas para os relacionamentos e fugir ao controle, se tornam prejudicial.

Especialistas ouvidos pelo Bora Investir alertam para os riscos de um comportamento exageradamente sovina e dão dicas de como ter um relacionamento saudável com o dinheiro, longe de se tornar o Tio Patinhas da família.

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Fuja dos exageros

Na visão do educador financeiro Kelvin Saegussa, para saber se há exagero no seu corte de despesas, é preciso considerar antes o bem-estar. “Se você quer investir mais, mas precisa renunciar a algum gasto essencial, tome cuidado. Prejudicar a sua saúde no curto prazo para investir no longo prazo talvez não seja o melhor caminho para a acumulação patrimonial”, aponta. A partir do momento que o bem-estar está sendo comprometido por um aumento dos investimentos mensais, é necessário tomar cuidado.

“Lembre-se que existem dois caminhos para aumentar o volume dos investimentos: o corte de gastos e o aumento da renda. Se o corte de gastos começa a prejudicar a sua subsistência, então o melhor caminho para investir mais é criar estratégias para aumentar a sua renda”, orienta Saegussa.

Yuri Kubala, CFO da VCRP Brasil, aponta que não é preciso sacrificar o presente para obter ganhos futuros. “A melhor forma de começar a construir um patrimônio é a organização das finanças, o que vai permitir cortas excessos em vez de abrir mão das despesas essenciais para manter a sobrevivência, considerando uma vida saudável e harmoniosa”.

Segundo o especialista, o processo de eliminar as despesas supérfluas, como as compras por impulso, os serviços de assinatura que não são usados ou desembolsos aplicativos de entrega de restaurantes, deve ser gradual.

O corte de despesas passa a ser prejudicial especialmente quando afeta a estabilidade dos gastos essenciais. Como exemplifica Saegussa, não vale a pena economizar de forma exagerada em saúde e alimentação, porque esse racionamento vai custar mais caro no futuro, se o efeito colateral for mais indisposição ou algum tipo de doença.

Passar do limite atrapalha relações

Analista de ações do TC, Vinicius Steniski acredita que o sinal de alerta surge quando as situações relacionadas ao dinheiro ultrapassam o limite do razoável. Um exemplo é quando, ao sair para jantar com a família (já previamente planejado no orçamento), o investidor opta por não pedir bebidas, acreditando que essa economia terá um impacto significativo nas economias. “Na realidade, a diferença é mínima”, ressalta.

Outro exemplo é quando a pessoa opta por levar a cerveja de qualidade inferior no churrasco com os amigos, mas na hora de beber o consumo é da bebida oferecida por um amigo, com mais qualidade, gerando um clima inconveniente no grupo. “Em casos como esses, que afetam o relacionamento com os outros, percebo que a gestão de despesas ultrapassou o limite do bom senso e acabou sendo excessivamente mesquinha”, avalia o analista do TC.

Planilha ajuda a identificar despesas

Steniski sugere que o primeiro passo seja fazer um orçamento familiar abrangente, por exemplo, com ferramentas como o Excel ou o Google Planilhas. O objetivo é organizar com cuidado as finanças pessoais.

Nessa planilha, todas as fontes de receita devem ser listadas em uma linha, enquanto as despesas fixas e essenciais devem ser alocadas em outras categorias. Isso permite que se tenha uma visão clara do custo de vida e, consequentemente, determine quanto é possível economizar mantendo seu padrão de vida atual.

Com essas informações em mãos, detalha Steniski, o próximo passo é administrar onde é viável e aconselhável fazer cortes de despesas, sem comprometer a qualidade de vida. A decisão de onde fazer esses cortes é uma escolha altamente pessoal.

“No entanto, é crucial que a pessoa compreenda a magnitude desses cortes, como a substituição de marcas de café ou papel higiênico, por exemplo. Em muitos casos, as pessoas fazem pequenas mudanças que, no final do mês, não resultam em uma diferença significativa em suas finanças”, alerta o analista do TC.

O aspecto mais importante de todo esse processo, na avaliação de Steniski, é ter clareza sobre o orçamento disponível. Com isso, é possível tomar decisões sobre, por exemplo, despesas que podem ser reduzidas sem afetar a rotina. “Sempre será necessário fazer escolhas e renunciar a certos gastos para alcançar objetivos financeiros específicos”, defende o especialista.

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Veja alguns sinais de atenção quando o assunto é cortar despesas

– Cuidado se o bem-estar ficar comprometido com a eliminação de despesas exagerada.

– Esteja atento à forma como esse comportamento afeta negativamente seus relacionamentos.

– Antes de sair eliminando gastos, faça uma planilha detalhada com despesas e receitas para saber sua real situação orçamentária.

– Fazer algumas trocas no dia a dia, como a marca do café ou do papel higiênico, pode render uma sobra de caixa no fim do mês;

– Da mesma forma, eliminar serviços de assinatura que não são bem aproveitados pode ajudar a aumentar a fatia a ser investida sem abrir mão do que se gosta realmente.

– Mais importante do que definir um percentual da renda que será investido, a primeira decisão é ser disciplinado e aplicar com constância, pensando em aumentos progressivos de aportes.

Decisão exige bom senso

Para Steniski, não há uma fórmula exata, quando se fala do percentual máximo da receita mensal que deve ser destinado aos investimentos, já que a capacidade de economizar varia segundo a renda das pessoas. Com um salário médio de R$ 2.540, como apontado pela Oxfam em 2022, a economia de mais de 20% desse valor pode ser um desafio, especialmente para alguém que precisa cobrir despesas básicas como aluguel e outros gastos essenciais. Por isso, na visão do analista, economizar pelo menos 10% já é um passo positivo, embora também possa ser uma tarefa complicada nessas circunstâncias.

Saegussa também avalia que a renda seja o maior indicativo da capacidade de poupança de uma pessoa. O educador cita como exemplo uma regra muito comum no mundo das finanças, a do 50/30/20, que define 50% de gastos essenciais, 30% de gastos supérfluos e 20% de investimentos. No entanto, ele lembra que essa fórmula não serve para todo mundo.

“Por um lado, 50% de uma renda de R$ 20 mil pode ser demais para pagar gastos de moradia, água, luz, energia e internet. Por outro lado, 50% de uma renda de R$ 2 mil pode não ser suficientes para as mesmas despesas”, pondera o educador financeiro.

Mais do que enxugar demais as despesas para ter sobra de caixa para investir, o educador financeiro acredita que o melhor caminho seja construir um patrimônio ou investir no desenvolvimento pessoal sem comprometer o bem-estar.

O importante, explica Saegussa, é estabelecer um compromisso pessoal. Mesmo que seja começar a investir 1% da renda, desde que seja desenvolvido um plano para ir aumentando esse investimento conforme as condições financeiras e o controle financeiro progredirem.

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