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Big techs: a bolha estourou ou a queda recente é apenas uma correção?

Resultados das principais empresas decepcionaram analistas; veja o que pode sustentar novas altas

O mercado vinha embalado por uma onda de otimismo com a inteligência artificial e as big techs. Desde o ano passado, o desempenho de ações como Nvidia, Microsoft, Apple e Google impulsionava ganhos expressivos nos principais índices norte-americanos. No entanto, esse otimismo começa a se dissipar a partir do segundo semestre deste ano por uma série de motivos que vão de desconfianças do mercado à incerteza com relação aos modelos de negócios.

“Do segundo semestre do ano passado até o primeiro trimestre deste ano, vimos um rali em quase todas as big techs, especialmente Nvidia, Google e Apple”, observa Marcelo Coutinho, especialista em investimentos e analista CNPI do TradersClub. No entanto, ele aponta dois movimentos subsequentes que mudaram o cenário: “Primeiro, o mercado percebeu uma possível bolha e resolveu realizar lucros.” Após um período de altas constantes, muitos investidores decidiram que era o momento de vender suas ações para garantir os ganhos acumulados.

Além disso, as big techs enfrentam novos desafios à medida que o entusiasmo inicial com a IA começa a esfriar. Wall Street entrou em frenesi com o lançamento do ChatGPT há dois anos. Desde então, investidores têm despejado capital em empresas na expectativa de que a IA seja tão revolucionária quanto seus defensores afirmam. No entanto, agora que a inteligência artificial ganhou notoriedade e se multiplicou em diversas aplicações, a verdadeira disputa será vencida por quem souber monetizá-la, segundo Coutinho.

“Wall Street não é exatamente conhecida por sua paciência, e a IA ainda não fez muito além de aprimorar pesquisas na web. Em algum momento, a IA precisa gerar lucro para essas empresas, em vez de apenas representar custos”, escreve Allison Morrow, da CNN.

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Desempenho dos balanços das Big Techs

O balanço da Amazon, por exemplo, foi interpretado com pessimismo pelos analistas. Embora a empresa de Jeff Bezos tenha registrado um aumento na receita, o resultado ficou aquém das expectativas do mercado. A previsão para o terceiro trimestre também desapontou. A Amazon Web Services (AWS), divisão de computação em nuvem da empresa, cresceu 19% – um resultado relevante, mas inferior ao desempenho das concorrentes Microsoft e Google, conforme noticiado pela CNBC.

Segundo Coutinho, o desempenho da AWS é crucial, pois essa divisão representa uma parte significativa da receita da empresa e tem potencial de crescimento com a integração de tecnologias de inteligência artificial. A Morningstar destaca que a AWS voltou a crescer e está “bem-posicionada para aproveitar o crescimento da IA, com planos de aumentar os investimentos em capacidade de data centers”. Entretanto, a empresa de pesquisa alerta que há riscos, especialmente nas divisões de e-commerce e na relação com reguladores.

A Microsoft também apresentou um desempenho misto. No segundo trimestre, a empresa reportou um crescimento de receita acima do esperado, mas decepcionou no desempenho das vendas da Azure, sua divisão de computação em nuvem. Justamente nesse segmento reside a maior chance de monetização da IA para a Microsoft.

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A Genial, em sua análise, destaca que a Microsoft “reportou lucros e receitas melhores do que o esperado no quarto trimestre fiscal, com um aumento de 15% na receita total, alcançando US$ 64,7 bilhões, e um crescimento de 29% ano a ano na Azure e outros serviços em nuvem”. Contudo, as ações caíram 7% no after-market devido ao desempenho abaixo das expectativas na nuvem.

Entretanto, a aquisição da OpenAI, startup responsável pelo desenvolvimento do ChatGPT, é um trunfo importante para a Microsoft nessa corrida. “Com a OpenAI e o Azure, a Microsoft tem as ferramentas necessárias para não apenas competir, mas possivelmente ultrapassar o Google no mercado de buscas”, comenta Marcelo. “A humanização da IA é a chave, e a Microsoft está um passo à frente nesse aspecto.”

Por outro lado, a Alphabet, controladora do Google, não trouxe otimismo para o mercado com seus resultados, segundo análise da CNBC. Embora tenha superado as estimativas de lucro, as receitas com anúncios no YouTube desapontaram. No geral, a Alphabet registrou um crescimento de 11% na receita de publicidade, metade do desempenho da rival Meta.

A Meta, por sua vez, destacou-se no grupo. Suas ações subiram 7% após o anúncio dos resultados, que superaram as expectativas de lucro e receita, com um faturamento de US$ 39 bilhões e um lucro líquido de US$ 13 bilhões, impulsionados por um crescimento de 22% nas receitas de publicidade e fortes investimentos em IA e realidade virtual, conforme análise da Genial.

Finalmente, todas as atenções se voltam agora para a Nvidia, cujos resultados serão divulgados em 28 de agosto. A companhia se posiciona como a maior fabricante de hardwares focados em IA, e suas ações passaram por uma correção após superarem os US$ 134 em julho. “O futuro da empresa está na capacidade de adaptar e otimizar seus chips para aplicações específicas de IA, maximizando a eficiência e o desempenho em tarefas particulares”, explica Coutinho.

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