ESG

PwC Brasil: combater catástrofes naturais também é papel de investidores

Em entrevista ao Bora Investir, Mauricio Colombari, sócio na PwC Brasil, fala sobre mudanças climáticas e o papel dos governos, empresas e investidores

O Brasil acompanhou, perplexo, os impactos da maior chuva da história do país, que desabou sobre o litoral norte de São Paulo há duas semanas. A tragédia deixou 65 mortos, dezenas de desabrigados e fomentou uma discussão sobre o papel de governos, empresas e a sociedade para combater os eventos climáticos extremos.

No ano passado as catástrofes naturais geraram perdas de US$ 313 bilhões para a economia mundial. Os dados são do relatório ‘Weather, Climate and Catastrophe Insight da gestora de riscos Aon. Só no Brasil os prejuízos com secas e enchentes passaram de US$ 4 bilhões. 

Um relatório do Banco Mundial do fim de 2022 mostra que se os países investissem, em média, 1,4% do PIB por ano, permitiria a redução das emissões de gases do efeito estufa em cerca de 70% até 2050. No entanto, o estudo aponta que as necessidades de investimento são maiores nos países em desenvolvimento – como o Brasil – locais que estão mais vulneráveis a riscos climáticos.

Mas os investidores estão cada vez mais conscientes da importância de combater o aquecimento global e do papel das empresas nessa batalha. Uma pesquisa da PwC mostra que os resultados ESG (sigla para Ambiental, Social e Governança) das companhias estão entre as prioridades dos investidores para aportar capital nos negócios. 

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Quase metade (44%) dos entrevistados globais acredita que o combate ao aquecimento global deve ser uma das cinco prioridades para as companhias. Já no Brasil esse número atinge 41%.

O B3 Bora Investir conversou com o sócio na PwC Brasil, Mauricio Colombari, que também é líder de ESG da empresa. Ele falou sobre mudanças climáticas e o papel dos governos, empresas e investidores para mudar essa realidade.

Bora Investir: Os eventos climáticos extremos – como a chuva no litoral norte de São Paulo – são advindos das mudanças climáticas que podem causar perdas de até 4% da produção econômica global anual até 2050. Você acredita que esse impacto será igual entre todas as nações?

Mauricio: De forma geral, é possível afirmar que o impacto das mudanças climáticas é desigual entre as nações desenvolvidas e as nações em desenvolvimento. Isto porque os países mais ricos, normalmente, têm mais estrutura para enfrentar esses impactos, sejam graduais, como temperaturas mais severas, sejam os eventos climáticos extremos, como observamos no litoral norte paulista. 

Este último evento nos mostra que mesmo dentro de um país ou região, o impacto não é igual para todas as pessoas. Estes eventos afetam com mais intensidade a população mais vulnerável, que normalmente é a parcela com menor renda

Bora: Qual o papel dos governos e das empresas para mudar essa realidade?

Mauricio: O Governo tem um papel fundamental no combate às mudanças climáticas, por meio de políticas públicas que fomentem iniciativas que contribuam para a limitação do aquecimento global. O Brasil, por exemplo, assumiu compromissos que passam pela redução das emissões de gases do efeito estufa e redução do desmatamento ilegal da Amazônia. Não obstante, como na prática já estamos sofrendo os efeitos das mudanças climáticas, o papel do Governo, cada vez mais, passa por planos de adaptação, que possam mitigar os efeitos dos eventos como os ocorridos no litoral de São Paulo. 

As empresas, por sua vez, também podem assumir compromissos para conduzir as suas operações de forma mais sustentável e com menor impacto nos recursos naturais, por meio, por exemplo, da redução das emissões próprias de gases do efeito estufa, assim como influenciar positivamente a cadeia de valor. Essas iniciativas das empresas vão ao encontro dos compromissos que são assumidos pelos países. 

Bora: Pelo lado dos investidores, a pesquisa da PwC apontou que 41% acreditam que o combate ao aquecimento global deve estar entre as cinco prioridades dos negócios. Na sua opinião, esse assunto tem a prioridade que deveria?

Mauricio: Eu acredito que uma boa parte dos investidores têm foco no curto prazo e, portanto, acabam priorizando temas como contexto político e macroeconômico, instabilidade geopolítica, risco de ataques cibernéticos, entre outros. O tema das mudanças climáticas ainda é visto como algo com impacto nos médio e longo prazos. Além disso, a realidade nos mostra que os impactos das mudanças climáticas já ocorrem na prática, e entendo que esses eventos farão o tema ganhar a prioridade que deveria.

Bora: Na mesma pesquisa, a grande maioria dos investidores brasileiros acredita que os relatórios das companhias sobre as práticas e metas ESG podem ter o chamado ‘Greenwashing’ – que são dados desproporcionais ao que de fato se realiza. Como você analisa essa prática?

Mauricio: Eu procuro não generalizar, pois de fato existe uma percepção de que empresas praticam o chamado ‘Greenwashing’, enquanto outras estão fazendo um trabalho muito sério e focado. Desta forma, eu procuro analisar o caso individual de uma companhia, qual é o seu histórico, quais foram os compromissos assumidos e como essa empresa vem implementando os planos de ação e os respectivos resultados. Acredito que a prática de ‘Greenwashing’ não se sustenta por muito tempo.  

Bora: Como você vê o avanço da pauta ESG no país do prisma das pequenas, médias e grandes empresas?

Mauricio: É inegável que a pauta ESG está mais avançada nas grandes empresas. Temos um estudo das divulgações ESG das empresas do Ibovespa e ele demonstra que, de forma geral, as grandes empresas brasileiras estão avançando de forma consistente em suas práticas socioambientais. São essas companhias que irão promover os avanços nas pequenas e médias, pois cada vez mais se faz necessário um olhar para a cadeia de valor como um todo e não somente para as próprias operações.  

Bora: Dos três pilares do ESG (Environmental, Social and Governance), qual está mais avançado?

Mauricio: É difícil generalizar, pois cada companhia tem a sua própria realidade. Eu prefiro olhar para as práticas de uma empresa como um todo, para depois olhar para pilares ou ações específicas. Nesse sentido, é possível dizer que por mais que a governança corporativa já seja um tema maduro, o que falta neste pilar é aprimorar o papel da governança na definição e acompanhamento das práticas socioambientais de um negócio. O pilar ambiental está avançando nas grandes companhias, mas ainda vejo a necessidade de planos de ações mais concretos no que tange compromissos assumidos. E no pilar social, vejo muitas com dificuldades para compreender a sua abrangência, muitas vezes com foco apenas em assuntos pontuais, elas não tratam de todos os potenciais temas materiais.  

Bora: Para encerrar, o que já evoluímos no Brasil e o que falta na questão do ESG?
Mauricio: Acredito que o principal avanço foi colocar ESG no topo da agenda de grandes empresas, investidores e instituições financeiras. No entanto, a jornada ainda é longa, estamos no início deste trabalho. O avanço passa pelo público e pelo privado, com a implementação de políticas públicas efetivas, assim como pela massificação da pauta ESG para um número maior de empresas, assim como a transformação de iniciativas e compromissos em planos de ações efetivos e com resultados práticos. 

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