Investimentos de impacto positivo: o que são e como funcionam
Interesse por ativos que se preocupam e têm impacto positivo na sociedade vêm crescendo no mercado
A busca por investimentos que não estão alheios aos anseios da sociedade é cada vez maior entre os investidores. Ativos que se preocupam e causam impacto positivo em questões sociais e ambientais chamam mais atenção atualmente e devem aumentar ainda mais no futuro.
Uma pesquisa do Morgan Stanley Institute for Sustainable Investing mostra que 99% dos millenials (geração que nasceu entre 1981 e 1999) têm interesse em investimentos sustentáveis. Também entre os entrevistados, 88% buscam investimentos relacionados às questões climáticas e 59% já estão alocados em investimentos sustentáveis.
Dentre os novos diversos conceitos, um que se destaca é o de “Investimentos de impacto positivo”. Mas o que, afinal, ele quer realmente dizer? Vem que a gente te explica!
O que é um investimento de impacto positivo
Eles são investimentos que geram impacto socioambiental positivo e mensurável, além de retorno financeiro, de acordo com o GIIN (Rede Global de Investimento de Impacto, em português).
Na prática, são investimentos em empresas que visam o lucro, mas desenvolvem um modelo de negócio. Assim, a estratégia central de receita e operação são balizados por produtos ou serviços que resolvem problemas socioambientais relevantes ou não causam tanto impacto para as pessoas e meio ambiente.
Nesta categoria, os investidores sabem que impacto social ou ambiental positivo são gerados a partir do aporte do capital. Isso vale para gestores de fundo e também para investidores pessoas físicas, que ou alocam direto nas empresas em títulos de renda fixa ou ações, ou investem através de fundos de investimento declaradamente de impacto.
“Essa intenção e consciência levam à experiência de impacto, que se traduz no conhecimento que o investidor tem sobre o fluxo do seu dinheiro. Por meio dessa experiência, o investidor tem ainda mais propriedade e poder sobre seu capital. E ao saber qual o impacto gerado e o tipo de contribuição que seu dinheiro tem para esse impacto, o investidor alcança um novo patamar de engajamento em relação ao seu dinheiro e objetivo de retorno”, afirma Daniel Izzo, sócio, CEO e cofundador da VOX Capital.
Como funcionam os investimentos de impacto
Daniel explicou que os investimentos de impacto funcionam da seguinte forma: a tese de investimento vai considerar a rentabilidade alvo e o tipo de efeito a ser gerado. Alguns exemplos são setor de educação básica ou superior, inclusão financeira e mitigação de alterações climáticas.
A partir da tese, começa-se então uma análise de impacto sobre as empresas disponíveis no mercado (screening positivo alinhado à tese de investimento) e, na sequência, a análise financeira. Antes do aporte de capital em si, é importante saber que deve-se acompanhar indicadores para monitorar os resultados de impacto do investimento, além dos financeiros.
“Na essência, esse tipo de investimento coloca impacto positivo e retorno financeiro na mesma frase, e a cada dia fica mais evidente que não existe trade-off entre impacto e retorno financeiro. Pelo contrário, todo investimento tem impacto e o retorno financeiro tende a ser mais duradouro e perene quando é associado à geração de valor e geração de impacto positivo para uma grande quantidade de pessoas”, diz o CEO.
Diferenças entre investimentos de impacto e ESG
Conceitos voltados para o mesmo foco, investimentos de impacto positivo e ESG podem gerar dúvidas entre suas definições. Porém, há diferenças que distinguem as duas ideias.
Tomando como base uma empresa, o ESG se debruça no modo como as coisas são feitas, garantindo as boas práticas em relação ao meio ambiente, às comunidades no entorno e aos colaboradores. Assim como um modelo de governança inclusivo, que leve em conta questões éticas, diversidade e não favorecimento de um grupo em detrimento do outro.
“É importante ter claro que uma empresa ESG não necessariamente só oferece um produto ou serviço com impacto positivo. Vale dar o exemplo de uma empresa de bebidas e refrigerante, que pode seguir todas as melhores práticas ESG, mas no limite, se o produto for muito consumido pelas pessoas, pode causar obesidade ou distúrbios alimentares e, por consequência, colocar pressão sobre o sistema de saúde como um todo”, ressalta Izzo.
Já o investimento de impacto, como dito anteriormente, trata do que a empresa faz. Qual transformação positiva o negócio quer gerar para determinado público ou área ambiental através de sua solução? Um exemplo aqui é uma empresa na área de saúde que atua para aprimorar e ampliar o acesso à saúde de qualidade. Ou uma fintech que leva inclusão bancária e financeira para regiões onde não há agência bancária ou inclusão digital.
Benefícios dos investimentos de impacto positivo
Segundo Ricardo Amatucci, especialista em finanças sustentáveis da VOX Capital, existem três principais benefícios para os investidores que procuram investimentos de impacto positivo.
- Alinhar seus valores, causas e visão de bem-estar comum com a decisão de investimento, incorporando visões além do risco e retorno;
- Redução de risco da carteira através do investimento em empresas e setores menos expostos a grandes oscilações de mercado e questões reputacionais;
- Expectativa de retorno mais perene e mais potencial de crescimento. O investimento de impacto tende a priorizar empresas com soluções focadas em demandas ainda não atendidas, mal servidas e com potencial de novos públicos.
Como avaliar os impactos de uma empresa
Parte importante do conceito, avaliar a empresa é o primeiro ponto que o investidor deve considerar ao procurar por investimentos desse tipo. De acordo com Amatucci, se considerar o universo de grandes companhias e de capital aberto, o investidor tem os seguintes meios para avaliar o impacto de uma empresa:
> Entender em qual setor a empresa está inserida. Nesse contexto, entender quais são as operações mais estratégicas, que precisam estar alinhadas a um impacto positivo. Alguns exemplos são gestão hídrica para o setor de bebidas e alimentos; relacionamento com comunidades locais para o setor de papel e celulose).
> Saber quais são os compromissos assumidos publicamente pela empresa e entender como reportam sua evolução e se são fiéis ao compromisso.
> Buscar em materiais públicos da empresa se há estudos de impacto, públicos atendidos e correlações com informações do setor (ex: acompanhamento de endividamento por faixa etária por instituições financeiras ou de pagamentos).
> Acompanhar notícias e fatos relevantes da empresa e avaliar a coerência entre o que é noticiado com a expectativa de impacto positivo promovido.
Perspectiva para os próximos anos
Para o especialista da VOX, a perspectiva para os investimentos de impacto positivo nos próximos anos em geral é otimista, apesar dos desafios. No lado otimista, ele traz:
- Maior quantidade de empresas conscientes da importância de trazer o impacto positivo para o centro da estratégia operacional e da proposta de inovação do negócio.
- Investidores estão mais receptivos e interessados na proposta de combinar retorno financeiro ao impacto socioambiental positivo.
- O assunto de impacto positivo e finanças sustentáveis está mais popular. Dessa forma, mesmo que haja visões heterogêneas sobre o tema, mais pessoas debatem sobre o assunto e realizam pesquisas, o que comprova que essa não é uma tendência ou um movimento passageiro.
- A oferta de produtos no Brasil é crescente, assim como também o movimento de inovação no setor financeiro.
- Pesquisas apontam a mudança no perfil dos consumidores, que hoje se atentam à origem dos produtos e reputação das marcas antes de realmente comprar e se tornar um usuário fiel.
“Podemos comprovar tudo isso nos avanços regulatórios para fomentar a transparência e até na mitigação de risco dos investimentos declaradamente de impacto. Na prática, estamos falando de oportunidades de desenvolvimento de novas estruturas, negócios e mercado, além de estabelecimento de metas e compromissos intersetoriais”, afirma Amatucci.
Já na frente de desafios, o especialista pontua que o atual contexto de mercado é desafiador para toda a indústria de gestão de investimentos – nacional e internacional.
Ele também diz que houve uma contaminação do mercado ESG, que acabou politizando o termo. “Isso demanda mais critérios objetivos e baseados em ciência, além de uma cobrança muito maior em relação a retornos financeiros competitivos nos produtos de investimento de impacto – mais do que se cobra de produtos tradicionais”, pontua.
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