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Especialistas debatem impactos para o Brasil das políticas econômicas de Trump

Em evento da Amcham, economistas analisam o impacto das políticas de Trump e a importância da capacitação em inteligência artificial para o país avançar

Nem um mês após tomar posse, o presidente Donald Trump já causou turbulências para o comércio internacional. Já nos primeiros dias na Casa Branca, o republicano seguiu firme no seu compromisso de campanha de taxar as importações aos Estados Unidos. A posição de Trump quanto ao comércio internacional são fonte de preocupação de países e empresas em todo o mundo. Nesta segunda-feira (17), a Amcham realizou um evento para discutir esse tema, na Arena B3.

Uma pesquisa, realizada pela Amcham e divulgada nesta manhã, desenha esse cenário complexo, dividido entre otimismo e preocupação. Segundo o levantamento, 92% dos empresários brasileiros esperam um crescimento nas receitas em 2025, impulsionado principalmente pela expansão do mercado interno, medidas de redução de gastos e ganho de produtividade.

No entanto, os especialistas alertaram para os desafios que ainda persistem, como incertezas sobre o cenário econômico e político. Além disso, no lado econômico, os juros elevados foram considerados como o principal risco, citados por 77% dos entrevistados. Na sequência, os riscos mais citados são desequilíbrio fiscal (64%), inflação elevada (63%) e câmbio desvalorizado (59%).

Entre os fatores externos que podem afetar a economia brasileira, os principais temas foram transição política nos Estados Unidos (60%), disputas geopolíticas (58%), crescimento do protecionismo (48%), oscilação das commodities (48%) e desempenho da economia global (48%).

Para Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, será preciso acompanhar de perto as políticas de Trump ao longo do tempo. “Pela teoria, estamos diante de uma pressão inflacionária que pode levar a juros mais altos nos EUA, e isso terá repercussões em todo o mundo”, destacou. Esse cenário pode afetar o crescimento da economia norte-americana – algo que deve ser evitado pelo presidente republicano. “O que a gente acredita é que essa agenda de tarifas e contra imigração vai ser modulada ao longo do tempo para não afetar o crescimento, uma autocontenção virá na medida em que crescimento econômico nos EUA pode ser afetado”.

Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, complementou a análise, destacando que o Brasil não é o alvo principal das políticas tarifárias dos Estados Unidos por duas razões: primeiro, porque o país não possui um saldo comercial relevante com os EUA; e segundo, devido à sua pouca importância dos fluxos de comércio do Brasil para o PIB americano. “O foco do Trump vai estar mais voltado ao México, Canadá e China”, observou Barbosa. Ele também enfatizou que, embora o impacto das políticas americanas possa gerar preocupações, os efeitos sobre a economia brasileira em termos macroeconômicos tendem a ser menores do que os impactos setoriais.

Ana Paula Vescovi concorda. “Talvez o que nos alerte mais nesse conjunto de políticas é impacto da maior fragmentação do comercio na economia mundial. A integração das economias é positiva para consumidores, e o que vemos à frente é um cenário mais estagflacionista”, disse

Além dos desafios vindos do exterior, o Brasil tem ainda suas dificuldades a enfrentar internamente. “A falta de âncoras fiscais gera uma desancoragem de expectativas de inflação que pode dificultar a gestão da política monetária. Estamos vendo um Banco Central que precisa atuar com firmeza para controlar a inflação “, afirmou Honorato.

Mesmo assim, Honorato vê uma desaceleração da inflação à frente. “Acho que não tem crescimento adicional do mundo, espero que não haja mais estímulo fiscal em 2025, o crédito vai desacelerar. A sensação é de que o aperto monetário que o BC está fazendo está tendo efeito”, disse.

IA

Com o foco na inovação, a discussão também envolveu a importância da tecnologia, com a participação de Priscyla Laham, presidente da Microsoft Brasil. Ela destacou que a inteligência artificial (IA) deve ser vista como uma oportunidade de transformação, mas que exige uma força de trabalho preparada. “Se não capacitarmos nossa força de trabalho, não conseguiremos capturar os ganhos de competitividade que a IA pode trazer”, alertou.

Fernanda Hoe, diretora geral da Elanco Brasil, acrescentou que, apesar do avanço tecnológico no setor agropecuário, os desafios com a mão de obra e o aumento dos custos de produção são preocupações constantes. “Os produtores precisam ser estratégicos na escolha das tecnologias a serem adotadas, considerando não apenas o desembolso, mas também o retorno sobre o investimento”, ressaltou.

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