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G7: Lula pode liberar extração de petróleo na foz do Amazonas e intervém por Argentina no FMI

Convidado da cúpula das sete economias mais desenvolvidas do mundo, presidente brasileiro voltou a criticar uso do dólar como moeda padrão em transações internacionais

Lula. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou neste fim de semana como convidado da reunião de cúpula das sete economias mais desenvolvidas e industrializadas do mundo (G7), em Hiroshima, no Japão. Na saída do seu último encontro com a imprensa – na manhã desta segunda-feira, 22/05, pelo horário de Brasília – o presidente indicou que poderá liberar a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas quando voltar ao Brasil.

A polêmica em torno do tema começou na semana passada, quando o Ibama negou uma licença para a Petrobras perfurar um poço exploratório a 160 quilômetros da costa do Oiapoque, no Amapá, e a cerca de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas. Diante dessas distâncias, o presidente disse “achar difícil” que haja impacto para o meio ambiente.

“Se extrair petróleo da Foz do Amazonas, que fica a 530 quilômetros do Amazonas, em alto mar, oferece problema para o Amazonas, certamente não será explorado. Mas eu acho que é possível, porque fica a 530 quilômetros da Amazônia. Eu vou conversar para saber”, afirmou.

A foz do Rio Amazonas pertence à Margem Equatorial, região que abrange todo o litoral norte do país até o Rio Grande do Norte, no Nordeste, e tem 175 quilômetros de costa. O local é considerado ambientalmente sensível, pois reúne uma grande diversidade de flora e fauna marinha, além da maior concentração de manguezais do país.

O plano estratégico 2023-2027 da Petrobras reservou US$ 3 bilhões para a perfuração de 16 poços exploratórios na Margem Equatorial. O interesse aumentou depois que a Guiana conseguiu retirar 11 bilhões de barris de petróleo dessa região, o que elevou o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 62% em 2022. O Ibama também analisa a licença de outros 21 blocos de petróleo na Margem Equatorial.

A polêmica gerou tensão entre os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Tanto que a Petrobras chegou a divulgar que iria retirar os equipamentos da região, após a decisão do Ibama. No entanto, Silveira mandou a estatal manter a estrutura. A companhia informou que vai recorrer da decisão.

Lula intervém por Argentina junto ao FMI

Durante a entrevista que concedeu a jornalistas do mundo todo, o presidente Lula afirmou que conversou com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e pediu “compreensão” com a Argentina, principal parceiro comercial brasileiro na América do Sul. Os dois se encontraram no sábado, 20/05.

A Argentina enfrenta uma grave crise econômica ao registrar uma inflação anual acima de 108%, desvalorização de sua moeda e a maior seca em quase um século, que afeta o gado e plantações de soja, milho e trigo. Na semana passada, o Banco Central do país elevou os juros para 97% ao ano para tentar conter a escalada inflacionária. Diante desse quadro, a Argentina não tem conseguido honrar os pagamentos de empréstimos feitos junto ao FMI.

Lula já havia sinalizado, durante visita do presidente argentino, Alberto Fernández, que iria interceder pelo país junto ao FMI. “Eu conversei com a diretora do FMI sobre a situação da Argentina e pedi que ela tivesse compreensão porque, depois da pandemia, a Argentina enfrentou uma seca. Vamos dar um tempo para a Argentina se recuperar”, disse.

Moeda para comércio entre países

O presidente voltou a criticar a dolarização da economia mundial. No mês passado, em discurso durante a posse de Dilma Rousseff como presidente do Banco dos BRICs, Lula questionou a necessidade dos países realizarem as transações em dólar ao invés de optarem por suas próprias moedas.

Em um tom mais ameno, o presidente brasileiro disse que “sonha” com a construção de uma moeda comum aos países que integram os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na avaliação de Lula, que citou o euro como exemplo, não é possível um país depender de uma moeda que não produz.

“O problema, muitas vezes, é que o pequeno empresário não confia na moeda do próprio país. Então, prefere vender em dólar. Eu sonho com a construção de várias moedas entre outros países que façam comércio, que os Brics tenham uma moeda como o euro”.

Crise climática

Durante um painel em prol da sustentabilidade do planeta, o presidente brasileiro cobrou que países ricos cumpram a promessa de disponibilizar US$ 100 bilhões por ano em ações para conter as mudanças climáticas. Esse é um acordo antigo, firmado em 2009 na COP de Copenhague.

“De nada adianta os países e regiões ricas avançarem na implementação de planos sofisticados de transição se o resto do mundo ficar para trás ou, pior ainda, for prejudicado pelo processo. (…) As evidências confirmam que o ritmo atual das emissões nos levará a uma crise climática sem precedentes. Estamos próximos de um ponto irreversível”.

Lula x Zelensky: o encontro que não aconteceu

O G7 terminou sem a reunião bilateral entre Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O encontro era muito aguardado, mas, segundo o presidente brasileiro, houve um desencontro de agendas.

“Eu tinha uma (reunião) bilateral com a Ucrânia às 15h15. Nós esperamos, e recebemos a informação que eles atrasaram. Enquanto isso, atendi o presidente do Vietnã. E, quando o presidente do Vietnã foi embora, a Ucrânia não apareceu. Certamente teve outro compromisso”, disse Lula.

Mesmo sem a reunião entre os dois, Lula e Zelensky participaram de uma sessão de trabalho do G7. Nesse encontro o brasileiro condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia e defendeu que a guerra seja discutida no âmbito das Nações Unidas.

No comunicado emitido após a reunião de cúpula das sete economias mais desenvolvidas do mundo, os países e alguns líderes convidados reforçaram o apoio à Ucrânia e se mostraram preocupados com as posições adotadas pela China.

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