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Guerra no Oriente Médio: como o conflito afetou o mercado, mais de um mês depois de seu início

Apesar da volatilidade inicial nos preços em razão da guerra, o que tem ditado os movimentos são especulações sobre taxas de juros nos EUA

Já se passou mais de um mês desde o início da guerra entre Israel e Hamas, no Oriente Médio. Sem sinais de arrefecer e sem solução em vista, os bombardeamentos e operações militares seguem firme no noticiário internacional. Porém, apesar de alguma preocupação e volatilidade nos primeiros dias, os comentários sobre o embate têm rareado nas conversas sobre economia e mercado.

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Quando o mercado sente incerteza (como em um conflito geopolítico de proporções relevantes), a porta de saída são os ativos de segurança, como petróleo, dólar e ouro. Tanto que nos primeiros dias após o ataque do Hamas a Israel, surgiram diversas especulações sobre uma alta significativa nos preços desses ativos. Não foi o que aconteceu.

O barril de petróleo Brent, referência global para o preço da commodity, é hoje vendido a cerca de US$ 80, mais barato do que quando os combates começaram. O dólar se enfraqueceu. Só o ouro registrou valorização no período, mas o preço do metal precioso já tem desacelerado. Segundo o banco suíço Julius Baer, isso acontece “à medida que a percepção da guerra entre Israel e o Hamas nos mercados financeiros mudou, de uma escalada iminente com impacto no Oriente Médio para um conflito mais contido”.

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Impacto leve no mercado global de petróleo

“No início da eclosão da guerra, vimos muita volatilidade. Depois, ao longo das semanas, vimos isso arrefecer um pouco”, afirma Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter. Segundo ela, os temores se dissipara porque apesar de o conflito estar localizado no Oriente Médio, produtor de cerca de 30% da oferta global de petróleo, não há sinais de que outros países irão se envolver ativamente na guerra.

Com o conflito concentrado em Gaza e Israel, que pouco produzem a commodity, e sem sinais de que irá se expandir além das fronteiras, o mercado se acalmou. Isso explica a redução da busca por petróleo ou por portos seguros no mercado, como dólar ou ouro.

Assim, os investidores voltam a se atentar aos dados de demanda pela commodity. E desse lado, o clima é de pessimismo, por conta de preocupações econômicas com a China, o maior importador, e com outros grandes consumidores. Além disso, mesmo nos Estados Unidos a expectativa é de redução na demanda por combustíveis. Segundo cálculo da Administração de Informações de Energia do país, o consumo de gasolina deve diminuir em 2024 como resultado da eficiência dos motores dos veículos e do número crescente de carros elétricos.

“Quando vimos a eclosão da guerra, o principal receio era o quanto o conflito poderia escalar. Mas conforme as semanas foram passando, vimos os Estados Unidos se posicionando, mas de maneira mais branda. Do outro lado, a Arábia Saudita tem feito um movimento de se abrir para o mundo nos últimos anos, e também tem evitado se posicionar em conflitos que possam prejudicar essa nova imagem que quer passar para o mundo”, afirma Gabriela Joubert.

Celso Grisi, professor da FIA Business School, lembra que uma das maiores preocupações do mercado sobre o conflito era um envolvimento direto do Irã. “O país é um grande produtor de petróleo, e se isso acontecer, podemos ver o preço da commodity subir muito mais”, diz. “Isso exacerba os riscos para os investidores, e traz volatilidade”.

Qual o efeito para a economia brasileira?

O mercado financeiro brasileiro acompanha de perto o que acontece nas grandes economias e nas grandes bolsas do mundo. Os principais canais de transmissão dos reflexos da guerra no mercado são o dólar e o petróleo. “Os dois podem impactar claramente o Brasil, colocando pressão para a inflação”, diz Grisi.

“Outra questão é que todo o movimento compromete a desinflação mundial que estamos vendo, e traz mais preocupações com os níveis de juros nos mercados desenvolvidos”, afirma o professor.

Ainda na pauta: os juros nos EUA

Há mais de um ano, um dos principais fatores a ditar a direção dos mercados é a expectativa quando à curva de juros nos Estados Unidos e aos próximos movimentos do Fed, o banco central americano. A discussão passou de “será que o Fed vai subir os juros”, para “até onde vai a alta”, para “quando começa o ciclo de redução”.

Assim, cada novo dado sobre a inflação norte-americana ou sobre o mercado de trabalho, ou qualquer discurso dos dirigentes do Fed praticamente centraliza as atenções dos investidores.

“Os Estados Unidos estão monitorando as duas guerras, mas sem espaço para gastar. O que deixa o mercado mais ansioso e mais preocupado é a política monetária. Claro que a guerra continua no radar, pela própria questão humanitária, mas de fato, o que estamos vendo é a bolsa subindo e os juros arrefecendo”, diz Gabriela Joubert, do Inter.

Um pouco de história

Carlos Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC) e ex-diretor de política econômica e dívida do Banco Mundial, ressalta uma estatística interessante sobre o impacto dos conflitos geopolíticos nos mercados. Segundo ele, em todos os choques do passado, o mercado sentiu um impacto negativo no primeiro mês, representado pela queda do índice S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas listadas dos EUA.

Tipicamente, 12 meses mais tarde, o impacto se dissipou. “Isso só não ocorre se o preço de energia for significativamente afetado”, diz, como foi o caso da guerra de Yom Kippur, em 1973. A redução na oferta de petróleo foi tão importante que o preço do barril chegou a triplicar, causando o primeiro choque do petróleo e uma recessão global.

A situação atual no Oriente Médio, diz o professor, preocupa caso haja uma distorção relevante que resulte em um movimento de mercado importante. No entanto, Braga aponta que “o mundo é muito diferente hoje, e a capacidade da Opep, e mesmo da Opep+, influenciar o preço mundial é menor”, diz.

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