IPCA desacelera, mas não alivia preocupações quanto à inflação. Entenda
Inflação de serviços ainda preocupa BC e economistas; alimentos também não deram trégua em janeiro
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma alta de 0,16% em janeiro, o menor resultado para o mês desde a implementação do Plano Real. O número também representa uma desaceleração relevante na comparação com dezembro, quando o índice teve alta de 0,52%. O número cheio pode parecer indicar um cenário de alívio para os preços. Mas uma análise mais detalhada traz uma perspectiva menos otimista, alertam os especialistas.
“Embora esse número de forma isolada possa parecer baixo, a composição e tendência preocupam”, ressalta Eduardo Santarossa, especialista em produtos e alocação da Fami Capital. Ele lembra que as expectativas quanto à inflação em 2025 têm subido: as projeções para o IPCA no relatório Focus estão em alta há 17 semanas seguidas, “cada vez mais afastadas da meta da autoridade monetária”, ressalta Santarossa.
O motivo do IPCA mais baixo em janeiro foi um item não recorrente. “A principal razão de o resultado ter ficado abaixo de dezembro é a conta de energia. Não fosse isso, teríamos uma alta perto de 0,80%. A gente está diante de uma inflação artificialmente baixa”, explica Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital.
Segundo o IBGE, o subitem energia elétrica residencial registrou uma queda de 14,21% no mês, e com isso teve o maior impacto negativo no índice, de -0,55 p.p. A queda foi resultado da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas em janeiro – ou seja, não vai se repetir nos próximos meses.
“A gente teve uma abertura bastante preocupante e que mostra uma inflação mais deteriorada no curto prazo. Pensando nos próximos meses, é uma divulgação que traz preocupações para a dinâmica inflacionária desse ano”, resume Andrea.
Serviços ainda trazem preocupação
Um item que tem chamado a atenção – e causados preocupação no Comitê de Política Monetária (Copom) – é a dinâmica dos preços de serviços. “O Banco Central tem reforçado que uma das maiores preocupações, comunicado após comunicado, ata após ata, é o fato de a atividade econômica estar mais resiliente e isso acabar tendo repercussões sobre a inflação de serviços. E isso apesar dos juros em patamar restritivo”, diz Andrea.
Segundo ela, em especial a medida de serviços subjacentes, veio muito elevada. E por que o BC olha com tanta atenção essa medida? “Essa é uma inflação que em tese o Banco Central teria mais condições de impactar, porque é em grande medida influenciada pela atividade econômica. Essas pressões são de certa forma um termômetro de que a atividade está forte. Fica esse círculo vicioso”, diz.
Para levar a inflação para a meta, o BC tenta desacelerar a atividade econômica. “Os últimos dados de atividade foram na direção de uma desaceleração da atividade, mas muito dentro do esperado. Essa desaceleração é fundamental para o processo de desinflação”, resume Andrea. “Enquanto a atividade não reage à taxa de juros, a inflação também tem chance de não reagir. E no ano passado, tivemos uma atividade muito forte e uma reversão na tendência de desinflação. Ao ter uma desaceleração da atividade, podemos ter lá na frente uma desaceleração da inflação. Mas esse curto prazo ainda vai ser pressionado, porque [o nível de inflação hoje] está reagindo ainda à atividade muito forte do ano passado. É um momento crítico, a gente vê inflação muito alta, a atividade começando a desacelerar, mas é momento de muita incerteza”.
Inflação de alimentos segue em alta
Além disso, outro grupo que vinha causando preocupação não arrefeceu: os preços de Alimentação e Bebidas subiram 0,96%, o quinto mês consecutivo de alta. “A gente já vem de 2024 com uma inflação bastante significativa de alimentos. Ainda que em janeiro tenha uma questão de sazonalidade, essa alta também é relacionada ao câmbio. O dólar ao redor de R$ 6 teve um impacto”, comenta Andrea.
Mas há, ao menos, uma boa notícia: a perspectiva é de que não haja uma piora importante daqui para a frente. “O componente de oferta é bem significativo nos preços dos alimentos, além do repasse cambial. É um grupo que preocupa, mas ao mesmo tempo, temos a perspectiva de uma supersafra, e bem ou mal, o câmbio já chegou ao redor de R$ 6, estamos até um pouco abaixo disso, e não vejo uma depreciação cambial mais forte”, diz Andrea.
Preços industriais
O dólar forte contribuiu para a aceleração também da inflação de bens industriais, lembra Andrea. “Temos esse componente de uma inflação importada mais pressionada, que na nossa visão, o câmbio ao redor de R$ 6 não dá muito alívio”, diz. Por outro lado, diferente dos alimentos, esse é um grupo que responde mais à taxa de juros mais elevada e pode vir a recuar. “Os bens industriais são mais sensíveis a taxa de juros, porque muitos deles são bens sensíveis a crédito, como eletroeletrônicos, eletroportáteis, automóveis, motos”, lembra a economista.
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