O que os juros mais altos nos EUA têm a ver com os seus investimentos?
Saiba como a decisão do Banco Central dos EUA pode afetar o seu bolso no Brasil
Quem pensa que o fantasma da inflação anda assustando apenas o carrinho de compras dos brasileiros precisa se informar melhor. A alta dos preços é um fenômeno global nesta reta final da pandemia, provocada, sobretudo, por problemas de abastecimento de insumos, commodities e matérias-primas nas indústrias.
Com uma demanda maior de consumidores – que voltaram para as suas rotinas após um longo período trancados em casa – e uma baixa na oferta de produtos nas prateleiras, os valores das mercadorias dispararam.
Para evitar que o fantasma assuma a forma de um zumbi da inflação, capaz de devorar os salários de trabalhadores e prejudicar a política monetária nos países, os Bancos Centrais recorrem ao conhecido expediente de aumentar as taxas de juros de suas economias.
Isso explica o fato de a taxa Selic no Brasil ter saltado mais de 10 pontos em pouco mais de um ano, de 2% para perto de 14%. O percentual é o maior dos últimos 6 anos. Pior: com as quatro altas feitas recentemente pelo Banco Central norte-americano, fica claro que o aperto monetário por aqui está longe de terminar.
Mas o que os juros nos EUA têm a ver com o Brasil?
Toda vez que o Federal Reserve Bank (Fed) – ou Sistema de Reserva Federal, numa tradução livre –, decide subir os juros naquele país, o mundo inteiro sofre as consequências. Mesmo que a taxa por lá esteja na faixa de 2,25% a 2,5%.
As altas no mercado americano influenciam nas expectativas dos investidores globais sobre crescimento da economia e inflação, e são capazes de alterar o fluxo de investimentos, afetando ainda as taxas de câmbio em vários países.
Como a alta dos juros nos EUA afeta a renda variável?
O principal efeito da alta dos juros em qualquer país é a desaceleração da economia local. Por se tratar dos Estados Unidos, espera-se uma possível recessão global, dada a relevância das relações comerciais dos norte-americanos mundo afora. Mesmo que o Ibovespa B3, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira, já tenha previsto este esfriamento da economia meses atrás, agora que a realidade se confirmou, houve forte volatilidade, derrubando o preço dos ativos na B3. Quem tem posição em ações está assistindo a uma queda das suas cotações neste contexto.
O que o mercado teme? Basicamente, a elevação dos juros nos Estados Unidos costuma causar os seguintes efeitos no Brasil:
– Queda do Ibovespa: os investidores estrangeiros na Bolsa tendem a migrar seus recursos para os títulos norte-americanos, que se tornam mais atrativos com a melhora da equação risco x retorno naquele país. Esse movimento de saída do capital internacional costuma derrubar o preço dos ativos na bolsa brasileira;
– Mudança no câmbio: no caso de uma debandada de dólares do solo brasileiro, é esperada a valorização da moeda estrangeira frente ao real;
– Aumento da inflação: o dólar alto aumenta os custos de produção das indústrias nacionais que dependem de insumos importados, provocando novos reajustes de preços para os consumidores brasileiros;
– Risco de recessão: a desaceleração da economia mundial também afeta a tentativa de recuperação econômica por aqui, por dois motivos. Primeiro, porque pode haver menos demanda de produtos e serviços brasileiros no exterior. Além disso, para evitar uma fuga de capital estrangeiro, o Banco Central do Brasil deverá aumentar a Selic novamente, o que poderá atrasar ainda mais a retomada das atividades no País devido à escassez de crédito no mercado.
– Impactos setoriais: a alta do dólar, por outro lado, pode beneficiar as ações de empresas exportadoras, assim como os ativos de instituições financeiras. Esses últimos, devido à perspectiva de um ganho maior dos bancos com a cobrança do spread (diferença entre a taxa do dinheiro captado e a taxa do valor emprestado) sobre a taxa de juros nesse cenário.
O que os juros americanos significam para a renda fixa?
O fato de a alta dos juros nos Estados Unidos pressionar a inflação no Brasil causa um outro revés na nossa economia. Para conter o reajuste de preços por aqui, o Copom deve aumentar ainda mais a taxa Selic. Ganham, neste cenário, os investidores posicionados em renda fixa, como os títulos do Tesouro Direto atrelados ao IPCA, o índice oficial da inflação no Brasil.
Títulos com rentabilidade prefixada são bastante recomendados neste cenário, uma vez que o aperto monetário deve continuar, com a manutenção da Selic em dois dígitos por mais tempo. Porém, os papéis pós-fixados não ficam para trás, pois, a cada nova perspectiva de alta dos juros pelo Copom, o mercado aumenta o preço desses títulos.
Por mais que sejam relevantes os impactos da decisão do Fed sobre a economia brasileira, nenhuma previsão vale mais que uma análise profunda sobre o seu portfólio. Quem comprou um produto financeiro ciente dos riscos e das chances de retorno sabe da importância de pensar o investimento numa perspectiva de longo prazo.
Portanto, em momentos como esse, evite a histeria do mercado – o efeito manada –, a mesma que levou muitas pessoas físicas a venderem seus ativos acreditando que a inflação norte-americana sinaliza o fim do mundo. O Brasil já passou por diversas crises e, se a cada oscilação do Ibovespa, o desespero bater à sua porta, é hora de investigar seu perfil como investidor de renda variável. Acredite: a desinformação é mais prejudicial do que uma crise econômica para o seu bolso.