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Produção industrial fecha 2022 no vermelho

Com a queda de 0,7% no ano passado, o setor segue 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia. A alta dos juros e da inflação explicam o resultado decepcionante

A produção industrial brasileira teve variação nula (0%) em dezembro do ano passado, em relação a novembro. Assim, o setor encerrou 2022 com queda de 0,7%, segundo os dados divulgados nesta sexta-feira, 03/02, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho ficou igual as estimativas do mercado.

PRODUÇÃO INDÚSTRIAL 2022
(em relação ao mês anterior) / Fonte: IBGE

Com o resultado, a indústria segue operando 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,5% abaixo do nível recorde da série, registrado em maio de 2011. Em 2021, o setor encerrou com avanço de 3,9%, mas anteriormente, a indústria havia tido duas retrações seguidas, em 2019 (-1,1%) e 2020 (-4,5%). A queda em 2022, portanto, é a terceira em quatro anos.

“Muito do crescimento de 2021 tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta do início da pandemia. Avançou em 2021, mas foi influenciada por uma base baixa de comparação e não superou as perdas de 2020”, explica o André Macedo, gerente da pesquisa.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL – ANUAL
(em relação ao ano anterior) / Fonte: IBGE

O primeiro fator que voltou a puxar a industrial nacional para o negativo foi o avanço da taxa básica de juros (Selic) ao maior valor em seis anos – 13,75% a.a – que afeta os custos do crédito. Seguida da inflação em 5,79%, principalmente a dos alimentos – que impactou a renda das famílias e o consumo.

“Também há influência do aumento nas taxas de inadimplência e de endividamento. E o mercado de trabalho, que embora tenha mostrado clara recuperação ao longo do ano, ainda se caracteriza pela precarização dos postos de trabalhos gerados”, completa Macedo.

Desempenho dos setores em 2022

O recuo da produção anual da indústria foi disseminado nos diferentes grupos e segmentos do setor. A retração atingiu todas as quatro grandes categorias econômicas, além da maioria dos ramos (17 de 26), dos grupos (54 de 79) e dos produtos (62,4% dos 805 pesquisados).

A maior influência negativa veio das indústrias extrativas (-3,2%), puxadas pela queda na extração de minério de ferro. O resultado ruim do setor é reflexo da guerra na Ucrânia que afetou principalmente o mercado mundial de ferro-gusa. O Brasil, a Ucrânia e a Rússia dominam 74% das exportações desse insumo siderúrgico.

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Outros segmentos importantes também ficaram no vermelho como os de produtos de metal (-9%), metalurgia (-5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%), produtos de borracha e de material plástico (-5,7%), produtos de minerais não metálicos (-5,1%), têxteis (-12,8%), móveis (-16,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-8,4%) e de máquinas e equipamentos (-2,3%).

Do lado das atividades que tiveram expansão na produção, se destacam coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que registrou alta de 6,6%, e exerceu a maior influência positiva.

“Trata-se de um setor que manteve comportamento positivo ao longo de 2022, impulsionado, principalmente, por produtos com maior ligação com a mobilidade. Cabe lembrar também que é um setor que havia recuado em 2021 (-0,7%), ou seja, partiu de uma base menor de comparação”, explica o gerente da pesquisa do IBGE.

Outros impactos positivos importantes foram registrados por produtos alimentícios (2,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (3%), celulose, papel e produtos de papel (3,1%) e bebidas (3%). Entre as grandes categorias econômicas, os resultados em 2022 mostraram menor dinamismo para bens de consumo duráveis (-3,3%), seguido de bens intermediários (-0,7%), de bens de capital (-0,3%) e de bens de consumo semi e não duráveis (-0,2%).