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Consórcios: saiba identificar armadilhas e veja como evitá-las

Especialistas alertam para detalhes que devem estar sob atenção na hora de escolher consórcios

Cédulas. Foto: Adobe Stock
Cédulas. Foto: Adobe Stock

A demanda por consórcios têm subido no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), o setor avançou entre janeiro e maio deste ano. A soma das adesões registradas teve alta de 8,7%, atingindo 1,63 milhão de contratos, contra 1,5 milhão no mesmo período em 2022. 

A modalidade é uma alternativa para interessados em aquisição de bens e abrange uma ampla variedade de segmentos. Contudo, sua popularidade não isenta os consumidores de cuidados como forma de evitar cair em armadilhas nos consórcios. 

Consórcio ou financiamento: qual a melhor opção para a compra de bens?

Para Fernando Lamounier, especialista em educação financeira e diretor de novos negócios da Multimarcas Consórcios, antes de optar pela modalidade de crédito é preciso entender determinadas características ofertadas pelos consórcios que podem não ser totalmente adequadas ao consumidor.

Veja no que prestar atenção antes de fechar um contrato: 

Idoneidade da empresa, condições e transparência

A primeira e mais importante armadilha a evitar são os consórcios sem idoneidade, sem autorização e regulamentação do Banco Central (BC). 

Camila Tribess, especialista de Consórcios do Ailos, ressalta também que é necessário verificar se as taxas de administração, fundo de reserva, contemplações e prazos, bem como valores de parcelas, reajustes e correções, estão dentro da média oferecida pelo mercado.

Fernando Brito, sócio da Globus Seguros, ainda ressalta a importância de buscar por profissionais que, de fato, entendam sobre a estrutura da administradora de consórcios e forneçam informações claras. “É comum o vendedor passar facilidades extremas, como contemplar a carta rapidamente, por exemplo”, alerta.

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Meia parcela

O plano de meia parcela consiste no pagamento de valores menores que, somente após a contemplação, serão quitados de maneira proporcional, geralmente maior do que o que pagaria pela parcela após o prazo estipulado do grupo.

A meia parcela equivale à metade da contribuição para o fundo comum, o que gera uma arrecadação menor ao grupo, pois o valor das contemplações será reduzido para corresponder à contribuição dos clientes. 

“Se o consumidor desejar uma contemplação mais acelerada e uma previsibilidade maior, provavelmente não encontrará isso nos grupos de meia parcela. Neste caso, precisará buscar um grupo com uma quantidade maior de clientes para aumentar o fundo comum e obter maiores contemplações”, informa Lamounier. 

Ele aponta que é preciso conferir quantos clientes ativos e não contemplados existem no grupo, pois talvez ocorra competição entre os diversos consumidores interessados no método. 

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Lance embutido

O lance embutido corresponde ao uso de uma porcentagem da carta de crédito para compor o lance total. É muito utilizado por consumidores que não possuem o valor integral para o investimento e, consequentemente, utilizam parte do crédito da própria carta para aumentar a sua capacidade de ofertar um lance. 

Deste modo, é possível conseguir a contemplação com mais facilidade devido ao maior poder de lance. O crédito disponibilizado para esse fim pode chegar, a depender do grupo, a 25% do valor total daquela cota.

Fernando indica que, como a contemplação pode ser acelerada, o valor da operação também fica mais caro. “Se o objetivo é uma carta de R$ 100 mil e o lance embutido é de 20%, o resgate será uma carta líquida de R$ 80 mil. Isso significa que o cliente precisará buscar uma carta maior, de acordo com a operação. O valor da taxa que o consumidor pagará vai ser sobre o valor global”.

Grupos sem seguro 

O seguro de consórcio, pago em conjunto com as taxas administrativas, garante a cobertura no valor do crédito contratado e oferece uma maior proteção ao bem adquirido, geralmente acionado em casos de riscos cobertos pela apólice.

Portanto, grupos sem seguro são vistos como favoráveis aos consumidores que não desejam pagar taxas, mas não oferecem previsibilidade. 

“O seguro é um produto importante a longo prazo, pois protege tanto o grupo quanto a administradora, quitando o valor do investimento caso aconteça algo com o consumidor. O seguro impede que o saldo de contemplação seja perdido e assegura que nenhuma das partes seja prejudicada”, esclarece o especialista.

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Outro pontos para se atentar

O sócio da Globus Seguros também dá outros alertas que deve estar no radar de quem for adquirir consórcios:

  • Saber que o consórcio tradicional não foi feito para adquirir bens no curtíssimo prazo, uma vez que não há garantia de contemplação, mesmo que a opção seja ofertar lances competitivos.
  • A parcela não é fixa até o final do contrato! Todo consórcio é atrelado a um fator de correção. Quando falamos em imóveis, geralmente a correção no aniversário do grupo é o INCC (Índice Nacional de Construção Civil) ou IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo). Já para automóveis é mais comum a correção do crédito e das parcelas pelo IPCA ou pela tabela FIPE do veículo. Logo, mesmo após a contemplação da carta de crédito e sua utilização, a parcela continua atualizando em cada aniversário do contrato. Desta forma, diferentemente de um financiamento, que possui parcelas decrescentes, o consórcio tende a ter parcelas crescentes. Isso precisa ser considerado na conta final de custo.
  • A renda bruta deve ser informada na contratação. Entretanto é apenas na utilização da carta após a contemplação que o consorciado deverá comprovar a renda. Assim como em um financiamento, a parcela não pode ser superior a 30% da renda bruta. 
  • É necessário se atentar para o somatório de taxas totais envolvidas. É muito comum o cliente se preocupar apenas com a taxa de administração do produto. Entretanto, há também uma taxa cobrada para fundo de reserva, que é utilizado quando não há recursos suficientes para contemplação dentro do mês. Caso não seja utilizado em sua totalidade até o final do prazo de contrato, o valor é devolvido ao consorciado. 
  • Para ser mais assertivo em um planejamento de contemplação por lance, é importante solicitar a discriminação dos últimos 6 meses, no mínimo, das seguintes informações: quantidade de cartas contempladas por lance; menor lance contemplado; e maior lance contemplado. Somente assim será possível saber se o que o vendedor está vendendo é coerente com o planejamento montado. “A maioria diz apenas a média e monta o estudo, com pouca assertividade”.

Como evitar armadilhas nos consórcios?

A especialista de consórcios do Ailos diz que, para evitar essas armadilhas, é essencial pesquisar e comparar diferentes empresas administradoras. 

“Leia o contrato com atenção, esteja ciente das suas necessidades financeiras e não tome decisões por impulso”.

Já Brito alerta para solicitar a discriminação de todas as taxas envolvidas. “Existem situações em que a taxa de administração é menor que a do concorrente. Porém, o total não condiz com esta realidade”. 

Tomar esses cuidados ajuda a garantir que a aquisição de consórcios seja uma experiência positiva e alinhada aos objetivos financeiros do consorciado.

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