Como a geração Z lida com dinheiro?
Na faixa etária entre 16 e 27 anos, jovens são mais atentos para poupar dinheiro, usar soluções digitais e buscar informações sobre as próprias finanças
Por Rogério Piovezan
A geração Z, nascida entre 1997 e 2012, lida com dinheiro de maneira diferente das outras gerações. Eles costumam evitar serviços presenciais e preferem o online, querem economizar e buscam informações sobre investimentos nas redes sociais. Especialistas ouvidos pelo Bora Investir explicam que isso está relacionado ao contato frequente com telas desde o nascimento, como nativos digitais, mas esse ritmo acelerado também pode trazer benefícios, se aplicados corretamente aos seus objetivos financeiros, com disciplina e estudo.
Na faixa etária entre 16 e 27 anos, eles são mais atentos para poupar dinheiro (48%), usar soluções digitais das instituições e em buscar informações sobre as próprias finanças, segundo a pesquisa 7ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
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O estudo mostra que a geração Z prioriza a consulta a amigos e parentes (20%), sites de notícias (17%) e aplicativos e sites de bancos e corretoras (17%) na busca por informações. “O comportamento contrasta ao da população investidora em geral, cuja preferência é falar com o gerente na agência (28%), seguida de contatar amigos e parentes (18%), sites de notícias (12%) e apps de bancos e corretoras (12%)”, diz a pesquisa.
O levantamento aponta ainda que, para aplicar o dinheiro, os meios digitais são a primeira escolha da geração Z: 63% usam os aplicativos de bancos ante 45% do total de pessoas que investem.
Além disso, a geração Z é a que menos investe na poupança, e, ao mesmo tempo, é a que mais investe em outros produtos financeiros, como fundos, moedas digitais e ações. Os jovens que investem querem alocar seus recursos na compra de imóveis, assim como os millennials e a geração X, de acordo com o estudo da Anbima.
Como eles lidam com dinheiro?
Para a professora de economia e coordenadora do laboratório de inteligência financeira da ESPM, Paula Sauer, a geração Z passou pela crise econômica global de 2008 e seus efeitos deixam marcas.
“São filhos e netos dos que viveram a crise global de 2008 e enfrentaram muitas dificuldades financeiras com o uso do crédito, conduzindo a uma visão mais pragmática e algumas vezes mais cautelosa em relação ao dinheiro”, afirma.
Ao mesmo tempo, essa cautela vem em meio ao ritmo acelerado das redes sociais incorporada ao estilo de vida dos jovens. “[Eles] buscam na internet, no youtube e nos influenciadores digitais referências sobre o uso do dinheiro. Como nasceram em um mundo que funciona na velocidade de um toque, esperam nada menos que receitas mágicas para ficarem milionários.”
Por ser nativa digital, a geração Z vive cercada por telas. É o que afirma Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da International Association for Research in Economic Psychology (Iarep). “Provavelmente, eles cresceram com pais já se acostumando com telas e, então, cresceram com cada um na sua tela. Seus pais são menos propensos a relacionamentos interpessoais diretos, é cada um na sua.”
Esse ritmo imediatista, contudo, também pode ser benéfico, diz a jovem influencer de finanças Ana Luiza Fan. “Queremos tudo para ontem, então, a gente quer começar agora [a organizar as contas]. É uma mudança de hábito, não do dia para noite, mas é um pontapé inicial, sim.”
Segundo Luiza, as redes sociais são uma forma dos jovens encontrarem conteúdos financeiros, mas é preciso verificar a fonte e a credibilidade do perfil quanto à responsabilidade nas informações. “Ao mesmo tempo que há gente que nem liga para dinheiro, eu vejo um movimento grande de jovens que se interessam por assuntos de investimentos, organização financeira e economia por conta da internet.”
Ela ainda conta que foi através das redes sociais que se interessou por educação financeira e por livros que explicam melhor esse universo. A partir disso, ela mesma passou a produzir conteúdos audiovisuais para disseminar o que aprendeu.
“Eu nunca tive influência em casa para organizar meu dinheiro, mas tive interesse pelo conteúdo que via pela internet. Há quatro anos eu vi indicação de livros sobre finanças e hoje isso é o meu trabalho. Hoje tenho uma turma de alunos, cerca de 65% são de 18 a 24 anos, e a maioria viu meus vídeos e se interessou em organizar o próprio dinheiro.”
E o mundo offline?
Em razão do intenso contato digital, a geração Z tem dificuldades ao lidar com o mundo offline, sobretudo em relação ao dinheiro. “Eles não sabem o que fazer no mundo offline, ficam inseguros. Muitos jovens vão até o primeiro emprego junto com os pais. É como se eles não estivessem preparados para o mundo lá fora”, afirma Vera Rita de Mello Ferreira.
Para Sauer, os jovens podem se endividar mais facilmente por não visualizar os gastos. “Poucos andam com cédulas de dinheiro na carteira. Viveram intensamente a ‘uberização’ da economia e consumo através de meios digitais. Se relacionam com o mundo todo via internet, mas não conhecem pessoalmente seu vizinho. Lidam com um dinheiro cada vez mais invisível, o digital, em que a falta de percepção de finitude pode levar rapidamente ao endividamento.”
Educação financeira como saída
Para Paula Sauer, pode ser difícil de conversar com essa geração, marcada pela inconstância nos empregos, pelo ritmo acelerado, desejo por ascensão rápida e retorno tão veloz quanto.
“É difícil conversar com esse jovem sobre dedicação e disciplina, a velocidade do tempo para eles é outra. Não esquentam a cadeira no mercado de trabalho, esperam ascensão profissional rápida e se isso não acontece no tempo que lhes parece justo, pulam de emprego em emprego. Muitos sonham em empreender, seja por falta de alternativa ou por se sentirem incompreendidos”, diz.
Uma saída para contornar o endividamento e pisar no freio seria estimular mais a educação financeira com os jovens. “É uma preocupação dos pais desses jovens, que informalmente ensinam seus filhos a ter uma relação melhor com o dinheiro.”
Para Luiza, os jovens são guiados por sonhos e objetivos, o que pode ser alinhado à educação financeira. “A partir do momento que o jovem tem um sonho, fica muito mais fácil se organizar. O que funciona mais é ter uma meta e de curto prazo.”
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