Alocação estrutural: o que é e como decidir a sua?
Entenda como montar uma carteira de investimentos de acordo com seus objetivos
Quando as pessoas decidem investir, é comum iniciarem o processo escolhendo os produtos para alocar os recursos. Afinal, devo colocar meu dinheiro no Tesouro Direto, ações ou CDBs? Mas, para o planejador financeiro CFP Carlos Castro, quem faz isso acaba pulando passos importantes. Antes de escolher o produto, ele defende que é preciso avaliar seus objetivos, perfil de investidor e qual a alocação estrutural que você pretende ter na sua carteira – ou seja, qual será a porcentagem de renda fixa, renda variável, multimercados e alternativos. Depois disso vem, aí sim, a escolha de cada produto para compor a carteira.
A professora Myrian Lund, da FGV, concorda que o objetivo é o ponto de partida. “O objetivo de juntar dinheiro deve atender seus sonhos e objetivos de vida, não é só ficar buscando o melhor investimento”, destaca. Segundo ela, a estrutura da carteira precisa estar alinhada não só com o perfil de risco, mas também com os planos futuros, momento de vida e necessidades do investidor. “Às vezes, o que eu estou fazendo não é adequado para você. Precisamos parar e pensar: quais são seus sonhos e objetivos de vida?”
O que é a alocação estrutural e como ela pode te ajudar?
A ideia de ter uma alocação estrutural para sua carteira pressupõe não fazer grandes mudanças na alocação em curtos períodos de tempo. Assim, o investidor foca muito mais nos objetivos que tem para o dinheiro do que no cenário macroeconômico e na volatilidade de curto prazo.
“Quando você monta uma carteira com base nos objetivos, está olhando para como os produtos se correlacionam e como isso se encaixa com seus objetivos”, explica Castro. “Porque um objetivo de longo prazo não vai mudar se a Selic aumentar 0,25 ponto porcentual”, completa.
Assim, os ajustes e revisões na carteira podem ser mais eventuais – o que pode ser um alívio para quem não quer ter de acompanhar o sobe e desce do mercado todo dia.
Myrian Lund complementa que, embora o cenário econômico possa mudar, a estrutura da carteira não deve ser alterada com frequência. “O que pode mudar é o cenário e, com ele, a necessidade de ajustes pontuais. Você pode pesar mais a mão em renda fixa ou variável em algum momento, mas a estrutura é o que vai te levar a alcançar seus objetivos”, orienta.
No longo prazo, defende o planejador, uma carteira montada dessa forma tende a ter um desempenho melhor do que quem muda de ativo com mais frequência. “Investir assim não é só para quem tem muito dinheiro, mas para quem quer uma alocação mais duradoura. No longo prazo, o dinheiro vai crescer se tiver planejamento”, diz Castro.
Passo 1: Determinar seus objetivos e os prazos
Entender o que você quer fazer com o dinheiro guardado é um passo essencial para definir sua alocação estrutural e os prazos em que quer alcançar esses objetivos. Isso porque entender o tempo será importante na definição de quanto risco se pode correr com cada investimento.
Mas atenção: objetivo é diferente de sonho, lembra Castro. Quer um exemplo? Viajar pode ser um sonho. Já um objetivo é mais específico e claro, como: juntar R$ 10 mil para viajar daqui a um ano e meio. Ter uma reserva financeira para se aposentar é um sonho. Juntar R$ 1 milhão para se aposentar com uma renda passiva aos 60 anos é um objetivo.
“Se as pessoas não têm clareza dos objetivos, acabam focando só no curto prazo e resgatam de forma prematura, sem se beneficiar de questões fiscais”, explica Castro.
Para organizar, divida seus objetivos em curto prazo (até 2 anos), médio (de 2 a 5 anos) e longo prazo (acima de 5 anos), sugere o planejador.
Passo 2: Qual seu perfil como investidor?
Depois de analisar seus objetivos, é hora de entender qual o seu perfil como investidor, ou o quanto de risco você está disposto a correr em troca de buscar uma rentabilidade maior. Os sites e aplicativos de bancos e plataformas podem te ajudar nesse momento: todos eles têm um questionário conhecido como suitability. Ao responder essas perguntas, o investidor consegue entender melhor se seu perfil é conservador, moderado, arrojado ou agressivo.
Mas atenção: isso ainda não vai responder em quais ativos você deve alocar seu dinheiro. Ter um perfil conservador não quer dizer que você não pode ter ações, ou ter um perfil arrojado não significa que todo o seu patrimônio estará em renda variável. Em vez disso, vai te ajudar a pensar no próximo passo, que é o de determinar quais os porcentuais de cada classe de ativos em sua carteira.
Passo 3: Definir as classes de ativos
É nessa etapa que você vai definir qual a sua alocação estrutural, ou seja, o quanto vai colocar em cada classe de ativos: renda fixa, renda variável, multimercados e alternativos. Esse ponto pode ser mais complexo, mas os sites das corretoras e bancos também podem te ajudar, lembra Castro: várias instituições têm carteiras recomendadas por perfil de investidor. Vale usar essas recomendações como um ponto de partida e ajustar de acordo com seus objetivos e prazos.
“Para um perfil mais conservador, a tendência é ter uma porcentagem maior na renda fixa. Já quem é mais arrojado tende a ter uma porcentagem menor de renda fixa”, diz Carlos Castro.
Myrian Lund adverte, entretanto, que essas carteiras recomendadas são um ponto de partida para quem vai começar a montar sua carteira. Ou seja, depois de ter uma carteira montada, não é necessário mudar toda a alocação a cada atualização da corretora. “A recomendação de uma instituição financeira pode ser um bom ponto de partida para quem está começando, mas quem já tem uma carteira estruturada precisa avaliar se faz sentido mudar”, diz ela.
Aqui, o importante são os percentuais. Ou seja, não é porque uma pessoa tem perfil conservador que ela não pode ter nenhuma alocação em renda variável. “Você pode ter ativos com volatilidade maior, mas que vão ser compensados por outros produtos de menor volatilidade”, explica o planejador.
Passo 4: A escolha dos ativos
Após definir a alocação estrutural, é hora de selecionar os ativos específicos dentro de cada classe. É aqui que você decide quais produtos vai comprar para compor sua carteira. Na parcela da carteira destinada para a renda fixa, por exemplo, você pode optar por CDBs, LCIs, LCAs, títulos do Tesouro, entre outros. Pode também diversificar o tipo de renda fixa: prefixada, pós-fixada ou atrelada à inflação.
Em renda variável, a escolha pode ser entre comprar ações diretamente ou investir via fundos. Na fatia destinada aos multimercados, a decisão pode variar entre fundos mais voltados ao macro ou focados em mercados internacionais.
“Essa etapa de escolha de produtos também é facilitada pelas recomendações das próprias instituições financeiras, que oferecem carteiras sugeridas para cada perfil de investidor”, explica Castro. “O importante é que esses produtos sejam selecionados dentro da estrutura da carteira definida no passo anterior, respeitando os limites de alocação.”
Castro destaca que o investidor precisa ficar atento às proporções e ao comportamento dos ativos dentro da carteira. “Você vai ter ativos que podem estar com rentabilidade negativa, enquanto outros estarão positivos, e isso pode mudar ao longo do tempo. O mais importante é que a carteira como um todo esteja performando bem.”
E não pense que diversificar significa ter muitos ativos dentro de cada classe. “É melhor escolher poucos e bons ativos de qualidade. Diversificar não significa ter um monte de ativos na carteira, senão fica difícil de administrar”, alerta Castro.
Passo 5: Monitoramento e rebalanceamento
Depois de escolher os ativos, é fundamental saber monitorar a carteira e realizar ajustes conforme necessário. No entanto, Castro alerta para a importância de evitar mudanças constantes. “É necessário rebalancear periodicamente, mas sem ficar mexendo o tempo todo. Se sua carteira está bem estruturada, ela vai ser resiliente diante dos diferentes ciclos econômicos.” Ele sugere revisar e rebalancear a carteira a cada seis meses a um ano.
Myrian Lund acrescenta que o rebalanceamento não deve ser confundido com ficar mudando de investimento com frequência. “O rebalanceamento visa adequar sua carteira ao cenário econômico, sem comprometer os objetivos de longo prazo”, esclarece. “Ficar trocando de produto a todo momento só faz você perder dinheiro. Cada resgate implica pagamento de imposto de renda, o que reduz o volume investido”, alerta.
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