Como investir sem perder para a inflação
O rendimento deve superar a previsão da inflação para trazer ganho real ao investidor
Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Quem está procurando os melhores rendimentos deve ficar de olho nas opções que trazem ganhos reais e superam a inflação. Um investimento que rende 10% ao ano, por exemplo, pode não significar que você terá um poder de compra 10% maior daqui a 12 meses. Dependendo da inflação, o valor pode até aumentar numericamente, mas o dinheiro vai valer menos.
Para investir sem perder para a inflação é preciso saber qual deve ser o rendimento do investimento escolhido, e subtrair da estimativa de inflação para o ano. A diferença indica o aumento real estimado.
“A preocupação com a inflação deve ser um ponto de atenção para todos os investidores. Mesmo carteiras de investimentos mais elaboradas, com ações e derivativos, devem incluir ativos que protegem contra a inflação, pois ela corrói o poder de compra dos rendimentos”, afirma Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.
Como saber a previsão da inflação?
A inflação oficial do país é medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice é calculado a partir de um levantamento de 430 mil preços feito todos os meses, em 13 áreas urbanas do país, e os valores são comparados com os registrados no mês anterior. O resultado é a variação de preços, ou seja, a mudança de custo dos produtos. O IPCA não indica a previsão do que pode acontecer no futuro – só mostra o que aconteceu no passado.
Investimentos atrelados ao IPCA corrigem o investimento de acordo com a inflação do período. Mas esta é somente uma parte do conceito que o investidor iniciante deve ter em mente para não perder para a inflação.
Para saber a estimativa de inflação futura, o investidor deve buscar os dados divulgados pelo Banco Central no Boletim Focus – esse documento traz um levantamento feito com mais de 100 instituições financeiras a respeito da economia. No site do Banco Central é possível saber as datas de divulgação na aba “Publicações e pesquisa”.
Mas, o que fazer com esse número? Ele vai servir de base para estimar a inflação futura e calcular o rendimento real do investimento.
“Supomos que a inflação projetada para os próximos 12 meses é de 4,5%. Para que o investidor tenha ganhos reais acima da inflação, ele deve escolher produtos de investimento que ofereçam retornos de, no mínimo, 3 vezes sobre a projeção de inflação esperada. [No exemplo dado], com uma inflação projetada em 4,5%, o investidor deverá buscar produtos com retorno próximo de 13,5% ao ano, o que equivale a um ganho real (ou seja, acima da inflação) de 9% (a diferença de 13,5 menos 4,5). Dessa forma, é possível se precaver contra cenários de estresse no IPCA”, explica Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
Além disso, quando o investidor estiver analisando as opções nos aplicativos de investimentos, ele deve estar atento se o rendimento mostrado é bruto ou líquido, ou seja, se considera as taxas e impostos de cada aplicação, alerta o professor da FIA.
Quais investimentos protegem contra a inflação?
Para garantir ganhos reais e proteger os investimentos contra a inflação, é importante diversificar a carteira com ativos que ofereçam retornos acima da inflação, explica Piellusch.
Alguns exemplos são:
- Títulos públicos atrelados ao IPCA (Tesouro IPCA+, também chamado de Tesouro NTN-B): Esses títulos oferecem um rendimento baseado em uma taxa fixa mais a variação do IPCA. Isso significa que haverá um retorno de X%, mais a inflação, o que garante um retorno real. É ideal para investidores que buscam segurança e proteção contra a inflação, sugere Piellusch. Outro ponto importante é considerar o prazo do investimento. “Caso o investidor queira resgatar esses títulos antes do prazo de vencimento, poderá ter perdas, a depender do cenário atual da economia”, alerta Belitardo.
- Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs): São indicados para investidores que desejam diversificar e obter rendimentos periódicos, já que os FIIs costumam pagar dividendos mensalmente. Esses fundos são criados por bancos ou gestoras para captar recursos por meio da venda de cotas, que serão investidos em diversos ativos como imóveis rurais ou urbanos, construídos ou em construção, comerciais ou residenciais, ou a títulos de renda fixa atrelados ao mercado imobiliário. O investidor deve ficar atento porque os FIIs são ativos de renda variável – ou seja, o rendimento futuro pode mudar, e o valor da cota oscila na bolsa de valores. Mas, dá para garantir um mínimo de proteção, segundo Piellush, com os FIIs. Neste caso, as melhores opções são aquelas que possuem contratos de aluguel atrelados à inflação, garantindo proteção contra a desvalorização. “FIIs de lajes corporativas e shoppings frequentemente reajustam os aluguéis conforme o IPCA”, afirma.
- Fundos de inflação: É um tipo de fundo em renda fixa que combina diversos títulos públicos e privados com rentabilidade indexada ao IPCA – ou seja, rendem a inflação e mais uma taxa prefixada. Para Belitardo, da Hike Capital, é preciso ficar atento à quem faz a gestão e à carteira do fundo. “Devem ser geridos por instituições financeiras saudáveis e líderes no mercado em que atuam”, afirma. “É preferível que o fundo concentre sua exposição em setores saudáveis (energia, saneamento, logística) e menos nos setores arriscados como varejo, educação, construção civil, educação, companhias aéreas, lazer, shoppings”, sugere.
- Debêntures incentivadas: Quando uma empresa precisa captar dinheiro, ela pode emitir títulos de dívida, também chamados de debêntures. As debêntures incentivadas são aquelas emitidas por empresas que têm incentivos do governo por serem consideradas estratégicas para a economia. Esses títulos podem ser atrelados ao IPCA. Além de oferecer proteção contra a inflação, as debêntures incentivadas são isentas de imposto de renda para pessoas físicas, diz Piellusch.
- Ações de empresas sólidas: Investir em ações é investir em renda variável, mas aqui também cabe uma consideração para trazer um pouco mais de segurança. Piellusch sugere que para esse objetivo, o portfólio contenha ações de empresas de setores que conseguem repassar a inflação aos consumidores, como energia, alimentos e utilidades públicas. Mas esse tipo de investimento não é para todos. Ele é voltado a quem tem perfil moderado ou até arrojado, e que busquem retornos superiores no longo prazo, alerta o professor da FIA.
- Ativos em moeda estrangeira: Investir em ativos atrelados a moedas estrangeiras, como o dólar, pode ser uma forma eficaz de proteger os investimentos contra a inflação brasileira. “Os ETFs (Exchange Traded Funds) que investem em ações internacionais são uma boa alternativa para diversificar e proteger o portfólio”, diz Piellusch.
- Fundos Multimercados: Esses fundos podem investir em uma ampla variedade de ativos, incluindo renda fixa, ações e moedas estrangeiras, explica Piellusch. A flexibilidade permite aos gestores buscar as melhores oportunidades de rendimento, mesmo em cenários inflacionários, segundo o professor da FIA.
- COEs (Certificados de Operações Estruturadas): Os COEs podem oferecer rendimentos atrelados à inflação e outros indicadores, combinando características de renda fixa e variável. “Dependendo da estrutura, podem garantir proteção contra a inflação e oferecer rendimentos adicionais”, diz Piellusch.
“Investir em uma combinação desses ativos pode ajudar a garantir que o portfólio não apenas proteja o poder de compra, mas também gere um retorno real ao longo do tempo”, afirma o professor da FIA.
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