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Regras da Anbima para influenciadores de investimentos começam a valer. Como saber quem é confiável?

Influenciadores têm ganhado destaque na disseminação de conteúdos de finanças e investimentos no Brasil

Influenciadores. Foto: Pixabay
Os dados são do 5º relatório FInFluence – Quem fala de investimentos nas redes sociais, da Anbima. Foto: Pixabay

A partir desta segunda-feira, 13, as regras da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) para a contratação de influenciadores digitais começam a valer. Elas têm como objetivo deixar claro quando um conteúdo feito pelos chamados finfluencers se trata de publicidade.

As normas, agora em vigor, são voltadas para as instituições que seguem o Código de Distribuição da Anbima e obrigam que essas parcerias sejam informadas de forma clara, seja por escrito ou verbalmente. Elas também colocam a instituição como responsável pelo conteúdo que contratar e por verificar se o influenciador tem as certificações necessárias caso esteja recomendando ou analisando algum produto de investimento.

“O que os influenciadores financeiros falam tem grande influência na opinião pública. É comum que muitos investidores direcionem suas aplicações com base em posts e vídeos nas redes sociais. O que, consequentemente, leva a um forte impacto no valor de ações na Bolsa de Valores. Daí a necessidade desse regramento”, explica a advogada Maria Eduarda Amaral, especialista em Direito Digital com foco em influenciadores, agências de marketing de influência e criadores de conteúdo.

Como saber se o influenciador é confiável

Segundo Amanda Brum, gerente-executiva de Comunicação, Marketing e Relacionamento com os Associados da Anbima, não é necessário ter certificações para falar de finanças nas redes sociais, mas para fazer análises e recomendações, sim.

“Os investidores podem verificar se os influenciadores têm as qualificações necessárias, como CNPI e CEA, nos sites da CVM, que regula o mercado, e de entidades autorreguladoras, como a Anbima e a Apimec”, diz.

Ela ainda alerta que ter certificações não é garantia que o influenciador é confiável, mas já é um primeiro passo. “Exercer essas atividades sem a qualificação necessária é crime, e o influenciador pode ser penalizado”.

Do que desconfiar? 

A principal dica dada pela gerente-executiva da Anbima é desconfiar de influenciadores que prometem rendimentos mirabolantes e acima do usual. “Ninguém ganha R$ 1 milhão em um ano investindo R$ 500 por mês”. 

Outro ponto de atenção é nas recomendações dadas pelos influenciadores. “É preciso se perguntar qual o interesse que ele tem para recomendar determinado ativo, se ele é ligado a alguma instituição. É importante observar também quando o influenciador faz uma análise ou recomendação de produtos ou investimentos”. 

“O problema é que nem sempre essas relações comerciais entre influenciadores e empresas ficam claras e são informadas para os seguidores. Por isso, em conjunto com o mercado e com os próprios influenciadores, criamos regras para dar transparência a essas parcerias”, destaca Brum. 

Já os perfis falsos são criados, na maioria das vezes, para aplicar golpes, alerta a especialista. “Muitos influenciadores sérios, inclusive, têm suas contas hackeadas. Então é preciso ter muito cuidado, até mesmo ao seguir perfis de nomes já conhecidos. Nem todos os influenciadores de finanças têm suas contas verificadas. Mas, o símbolo azul ao lado do nome do perfil já é um bom começo para não ser enganado. ”.  

Outros pontos de atenção são:

  • Desconfie de contas com baixo número de seguidores, mas que seguem muitas pessoas;
  • Observe quem são os seguidores dessa conta, que podem ser perfis falsos;
  • Outro sinal é a quantidade e a qualidade das publicações. Fique alerta com perfis com poucas postagens ou que tenham muitas publicações em um curto espaço de tempo.

Influenciadores crescem em seguidores

Os influenciadores digitais de investimentos, os chamados finfluencers, vêm ocupando cada vez mais espaço nas redes sociais. Somados, eles alcançaram a marca de 176,3 milhões de seguidores em seus perfis no Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e YouTube ao final do primeiro semestre de 2023. 

O número representa um crescimento de 6% sobre a audiência de 165,6 milhões de seguidores sobre o final do ano passado. Os dados são do 5º relatório FInFluence – Quem fala de investimentos nas redes sociais, da Anbima em parceria com o IBPAD (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados)

O crescimento é ainda mais expressivo em comparação com a primeira edição do relatório, que analisou o período entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021. Em relação a ele, houve um incremento de quase 140% no número de seguidores.

Influenciadores mais populares e com mais engajamento

Além de mais populares, os influenciadores estão engajando mais a audiência. As interações médias (medidas por compartilhamentos, comentários e curtidas dos seguidores) avançaram 10%, de 1.489 para 1.637. Já o volume de publicações subiu 13%, somando 313,9 mil vídeos e postagens no período.

“Os avanços no número de seguidores, no volume de publicações e no engajamento ratificam a crescente popularidade dos influencers sobre uma audiência que busca, cada vez mais, nas diferentes redes sociais fontes de informação para suas vidas financeiras”, diz a gerente-executiva de Comunicação, Marketing e Relacionamento com os Associados da Anbima.

Na nova edição do relatório, foram mapeados, entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2023, um total de 515 influencers, número igual ao capturado no segundo semestre de 2022. O total de perfis teve um ligeiro recuo, de 1%, somando 1.246 nas quatro redes mapeadas.

“Isso não quer dizer que sejam os mesmos influenciadores. Afinal, a profissão de influenciador é como a de empresários, em que tem gente nova todos os dias, enquanto outros param de publicar ou mudam de nicho”, afirma a executiva.

Assuntos discutidos: política perde espaço e economia sobe

O primeiro semestre de 2023 ficou marcado pela transição de governos e pela redução do interesse, tanto dos influenciadores quanto dos seguidores, por temas ligados à política brasileira.

O assunto caiu da terceira para quarta posição entre os mais citados pelos influenciadores, aparecendo em 7,5% das publicações ante 11,1% da quarta edição do relatório da Anbima. As interações médias tiveram redução de 27%, de 2.654 por post para 1.931.

Por outro lado, a economia brasileira esteve presente em 10,5% das publicações, crescimento de 19% em relação à quarta edição. As interações médias subiram 9%.

“Passado o período eleitoral, influenciadores e seguidores se voltaram para discussões relacionadas à política econômica do governo. Eles repercutiram temas como o arcabouço fiscal, queda da inflação, incentivos fiscais para compra de carros e para quitação de dívidas, taxação de compras em plataformas de e-commerce, além das expectativas sobre a redução da Selic. Isso mostra que, além de disseminarem informações sobre educação financeira e finanças, os influenciadores são motivados também por assuntos que pautam a imprensa”, comenta Amanda.

No topo dos temas preferidos dos finfluencers, o mercado de ações esteve presente em 48,9% das publicações. Por outro lado, o engajamento em vídeos e posts sobre commodities foi o maior, com 2.906 interações em média. Seguido por operações day trade, com 2.520 comentários, curtidas e comentários por post.

Influenciadores pessoa física no topo

A montagem dos rankings dos influenciadores mais relevantes do país sofreu uma importante mudança metodológica na quinta edição do levantamento. Com isso, cada uma das quatro redes sociais ganhou um top 5 próprio apenas com influenciadores pessoas físicas. 

Foram analisadas cinco métricas para a construção de dois rankings gerais, de pessoas e de empresas:

  • popularidade (número de seguidores);
  • engajamento médio (interações médias);
  • comprometimento (volume de publicações);
  • autoridade (capacidade do influenciador dominar um ou mais assuntos do universo de finanças);
  • articulação (poder do player de se conectar e interagir com o ecossistema de investimentos, com diferentes públicos e outros finfluencers). 

Os produtores de conteúdo Economista Sincero e O Primo Rico e o analista Thiago Guitiáns Reis são os destaques entre os influenciadores pessoas físicas. Já entre os perfis de empresas, o pódio é ocupado pela casa de análise Dica de Hoje, pelo portal especializado Bloomberg Línea Brasil e pelo produtor de conteúdo Me Poupe!.

“A mudança na metodologia dos rankings, priorizando as redes sociais e separando o influenciador pessoa física dos perfis empresariais, atendeu a um pedido dos próprios finfluencers. Facebook, Instagram, X e YouTube têm dinâmicas próprias e são exploradas pelos influenciadores de maneiras distintas. Dessa forma, os rankings ficaram ainda mais alinhados com o comportamento dessas plataformas e com a produção de conteúdo deles”, afirma Amanda Brum.

Além dos rankings, os influenciadores foram divididos em 13 categorias, que levam em consideração o conteúdo produzido e a forma como eles se declaram. As cinco categorias de maior destaque representam cerca de 51% dos conteúdos analisados, 64% dos influenciadores monitorados e 74% da audiência total. São elas produtor de conteúdo, investidor independente, regulador de mercado, trader e analista.

Influenciadores e instituições

As parcerias entre influenciadores e instituições do mercado financeiro e de capitais (bancos, corretoras, etc.) se mantiveram estáveis no primeiro semestre, na comparação com os seis meses anteriores. 

Dos 515 influencers monitorados na quinta edição, 249 tinham algum tipo de relação com players do mercado, três a menos que no relatório passado. Desses, 116 realizaram 139 parcerias com instituições que seguem as regras dos códigos de autorregulação da Anbima. Outros 133 se conectaram com empresas não vinculadas à associação. 

No total, foram detectadas 364 parcerias ao longo do período de monitoramento. Entre as instituições, a XP Investimentos lidera e se conectou com 16 influenciadores, seguida pelo Banco Sofisa e pelo BTG Pactual (ambos com 10).

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