O que fazer com seus investimentos com a Selic a 13,25%?
Copom elevou mais uma veza taxa de juros e prevê uma elevação em março
Na primeira reunião de 2025 e a primeira sob a presidência de Gabriel Galípolo, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 1 ponto porcentual, a 13,25% ao ano. Além disso, o colegiado já sinalizou mais uma alta da mesma magnitude na próxima reunião, que acontece em março, e deixou a porta aberta para definir os próximos passos conforme a evolução da economia brasileira. Mas o que isso significa para seus investimentos – e o que fazer com a sua carteira nesse momento?
Como o movimento já era antecipado, a reação do mercado nesta quinta-feira não deve ser intensa. “Para o mercado a decisão não deve acabar trazendo muitos reflexos, porque foi o esperado, o tom duro do Banco Central continuou em relação ao controle de inflação, mas sem grandes novidades para o mercado”, lembra Antônio Sanches, analista de Research da Rico.
Para analistas ouvidos pelo Bora Investir, o cenário aumenta ainda mais a atratividade da renda fixa, mas é preciso cautela ao alocar em títulos mais arriscados dessa classe de ativos, como os prefixados. Na renda variável, apesar das dificuldades apresentadas pela conjuntura macroeconômica, ainda existem oportunidades, desde que os investidores tenham perfil para isso e foco no longo prazo.
Renda fixa
Para Marcio Saito, CFO da Entrepay, “o ambiente de juros elevados cria oportunidades para investidores brasileiros. Aplicações em renda fixa, como títulos públicos, CDBs e debêntures, tornam-se ainda mais atrativas, oferecendo retornos superiores com menor risco”, diz. No entanto, é preciso analisar os ativos antes de aportar.
Pós-fixados
A classe dos pós-fixados, investimentos que seguem diariamente a rentabilidade da Selic (no caso do Tesouro Selic) ou do CDI (no caso de CDBs, LCIs e LCAs pós-fixados, por exemplo), segue atrativa. “Os pós-fixados naturalmente vão oferecer um retorno maior agora, o que a gente espera que continue ao longo dos próximos meses, já que a nossa projeção é que a Selic chegue a 15,5% até junho”, diz Sanches.
Ele destaca ainda que esses títulos geralmente utilizados para investimentos de curto prazo ou para investidores que buscam uma maior previsibilidade – já que os pós-fixados têm uma volatilidade menor, mesmo comparado com outros títulos de renda fixa.
IPCA+
Os títulos híbridos, conhecidos como IPCA+, que entregam para o investidor a variação da inflação e mais uma taxa prefixada, também seguem chamando a atenção, diz Sanches.
“As taxas do IPCA+ continuam em um nível bastante alto, excelente para o investidor que quer proteger o patrimônio em relação à perda de poder de compra causado pela inflação, é uma preocupação muito relevante para os investidores principalmente de longo prazo”, diz o analista.
É preciso atenção, contudo, para alinhar os prazos dos títulos adquiridos a seus objetivos financeiros. Caso o investidor tenha de resgatar seu dinheiro antes do vencimento, a volatilidade do mercado pode trazer perdas.
Prefixados
Nos prefixados, Sanches aconselha cuidado. Os títulos “devem continuar apresentando as taxas que a gente tem acompanhado nos últimos dias, que são taxas altas, mas aqui a gente tem um pouco mais de cautela”, diz.
Isso porque, caso o Copom tenha de elevar os juros mais do que o mercado espera atualmente, acima do que esses títulos oferecem hoje, o investidor pode ter um rendimento menor nos prefixados do que nos pós-fixados, mesmo correndo maior risco.
“Os títulos prefixados acabam sofrendo mais a marcação a mercado, então acabam trazendo um risco adicional para o investidor”, diz Sanches. “Por isso, para os prefixados, a gente tem uma preferência de investimento de curto prazo, nossa duration média recomendada é de dois anos”.
Renda variável
O movimento de juros tende a penalizar os investimentos em renda variável, mas como a elevação já era esperada, esse impacto tende a ser menor.
Ações
“Um cenário de elevação de juros é desafiador para o mercado de ações, justamente pelos impactos que isso gera nas próprias empresas, na expectativa de lucros e inclusive aumento do custo de crédito”, explica Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.
“Contudo, a gente mantém a recomendação de uma alocação mais seletiva e defensiva para a bolsa brasileira”, diz ela. O cenário desafiador traz oportunidades para quem busca investir para um horizonte de mais longo prazo. Como o juro alto leva à redução do preço das ações, o investidor consegue comprar a participação em empresas boas a um preço mais baixo.
Para Rafael Lage, analista CNPI da CM Capital, o foco nesse momento deve ser em empresas que se beneficiam da Selic mais elevada ou que conseguem repassar a inflação maior – como seguradoras, bancos e empresas de utilidade pública
“Não é hora para pensar em varejo ou em empresas que dependem de financiamento e de crédito para os clientes, como empresas de construção”, diz Lage. “Também é preciso cuidado com empresas muito alavancadas, que tenham uma relação maior entre dívida e patrimônio”.
“A renda variável ainda segue como uma classe importante no portfólio do investidor, principalmente aquele investidor voltado para prazos mais longos”, diz Sene. “A gente tem uma expectativa positiva para a temporada de balanços que começa na próxima semana. Vamos ficar bastante atentos às projeções das empresas, especialmente em setores mais cíclicos. Mas com seletividade, a gente pode encontrar oportunidades no mercado de ações”, completa.
FIIs
Para os fundos imobiliários, Carol Borges, head da EQI Research, sugere uma posição maior em fundos de papel, “que são capazes de aproveitar esse cenário de juros e inflação altos para entregar bons retornos para os cotistas”, diz.
Isso vale tanto para os fundos com contratos indexados à inflação, que ajudam a proteger o poder de compra dos investidores, quanto para fundos com contratos indexados ao CDO, que oferecem fluxos de caixa mais previsíveis, segundo ela. “As taxas reais embutidas nesses títulos [atrelados ao CDI] hoje também são positivas e ajudam a diminuir a volatilidade do portfólio”, diz Borges.
Já para os fundos de tijolo, ela dá destaque para o setor logístico, “que têm contratos de longo prazo em sua maioria e são corrigidos pelos índices inflacionários”. Ainda segundo Carol Borges, a segunda preferência da EQI é por fundos de shoppings e híbridos, e ela sugere mais cautela em fundos de lajes corporativas, que tendem a ser mais sensíveis aos ciclos econômicos.
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