“Pouco se fala no retorno do investimento em IA generativa nas empresas”, afirmam CEOs
Impactos financeiros, na cultura da companhia e nos custos ambientais devem ser levados em conta
Por Rogério Piovezan
O uso da Inteligência Artificial (IA) generativa já faz parte da maioria das empresas. O impacto financeiro, ambiental e cultural, contudo, deve ser levado em conta antes da adoção dessa ferramenta dentro da companhia. Nos investimentos, a avaliação sobre um retorno é fator chave antes de qualquer decisão, e assim deveria ser em relação a IA para os negócios. É o que afirmam Marcel Saraiva, da Nvidia no Brasil, Tania Cosentino, presidente da Microsoft no Brasil e Cecílio Fraguas, da Jabuti AGI, durante o ExpertXP.
A IA já existe há mais de 50 anos no mercado na versão com algoritmos, mas nos últimos dois anos ela deu um salto ao incorporar imagem, texto e vídeo de forma generativa. As sete big techs – Nvidia, Tesla, Apple, Microsoft, Amazon, Meta (ex-Facebook) e Alphabet (a dona do Google), já incorporaram a IA nos seus negócios. A iniciativa das big techs pode ser usada de inspiração por outras companhias, mas os gestores, alertam os CEOs, devem avaliar corretamente os benefícios e custos antes de tomar qualquer decisão e, assim, evitar prejuízos por simplesmente seguir a manada.
“Quando a gente olha para esse ecossistema, às vezes as pessoas não param para ver o impacto de ter uma IA na empresa”, afirma Saraiva. “Um exemplo, em uma indústria de logística, é o de querem melhorar o processo para ser mais rápido. Tem IA para isso? Tem. Então, quanto vai me custar ter um modelo? Vai te custar R$ 10 bilhões. Quanto vai te gerar de receita? R$ 2,5 milhões, ou seja, você irá levar cinco anos para pagar esse projeto. Vai valer a pena? Talvez surja outra tecnologia até lá. Então, não. Eu quero que todos usem IA, mas se isso não te traz retorno, não vale.”
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Usar a IA em qualquer setor apenas por “estar na moda” pode implicar custos à empresa. “Quando falamos de IA, parece que não se fala sobre retorno, por mais que seja óbvio falar de retorno em um evento de investimentos. A gente precisa ter cuidado e isso tem que te trazer mais receita, e trazer bons impactos”, completa ele.
“Você precisa de um caminhão para matar uma formiga? Não, então, precisamos direcionar a melhor tecnologia para ter o melhor retorno sobre o investimento”, observa Cosentino.
Ela considera que outros impactos além do financeiro também devem ser observados antes de se implementar a IA nos negócios. “O retorno de investimento tem que ter um olhar mais amplo. O fator financeiro é o número um, mas há outros impactos também. O que precisamos é trabalhar a cultura. Se formos trabalhar da mesma forma, não vamos obter lucros. É provocar uma mudança cultural dentro da empresa para ter um uso de forma segura, para não trazer risco cibernético para a companhia, aí começamos a usufruir dos benefícios da IA.”
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IA em crescimento
Por mais atrativo que seja o avanço da IA, os CEOs destacam que a ferramenta ainda carece de regulação e, sobretudo, de mais amadurecimento.
“É uma tecnologia em maturação. Não está nada pronto. Tem que ser muito cuidadoso, porque a IA tem uma curva de maturação para ser usada nos negócios”, ressalta Fraguas. “O que eu vejo na generativa é que estamos em uma nova transição, em que estamos na era do celular e, agora, passamos para o conversacional. Posso resolver conversando, isso é mais próximo do ser humano. Precisamos classificar isso como um novo canal de produtos e serviços. A IA não está sendo tratada assim, às vezes é só um desdobramento de organização de dados, mas o que precisamos ver é um novo canal de conversação com clientes.”
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E o desemprego?
Cosentino cita uma pesquisa em que até 80% das posições de trabalho serão substituídas por IA. Ela afirma, entretanto, que isso será positivo assim como todas as transformações no mundo do trabalho desde o século XX, em que houve uma migração da classe trabalhadora para outras vagas de trabalho. “O que precisamos fazer é mobilizar governo, academia e setor privado para preparar a classe trabalhadora e capacitar os operadores de call center, que serão os mais afetados.”
Já Fraguas não esconde a preocupação com os impactos de um desemprego em massa. “Todas as grandes revoluções foram feitas por uma classe média descontente. Temos que tratar disso com educação e outras vias.”
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