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Sell in May and go away? Melhor repensar essa estratégia

Ditado sugere trocar a renda variável pela renda fixa em maio, e migrar de volta às ações em novembro

Calendário do mês de maio
Ditado sugere vender ações em maio e recomprá-las em novembro, mas estratégia deixou de fazer sentido com mercados mais líquidos. Fonte: Pexels

Sell in May and go away” (venda em maio e vá embora, em tradução literal) é uma frase que ficou conhecida no mercado. Além da rima e da sonoridade atraentes, o ditado sugere vender as ações em maio e só voltar ao mercado de renda variável em setembro. A ideia é que entre esses meses, o desempenho das ações tende a ser menos interessante para os investidores. Mas será que isso já fez (e ainda faz) sentido para o mercado? E vale a pena seguir essa estratégia?

O Bora Investir conversou com especialistas para explicar.

Qual a origem do “Sell in May and go away”?

A frase original é “Sell in May and go away, come back on St. Leger’s Day” (venda em maio e vá embora, volte no dia de St. Leger), e vem do centro financeiro de Londres. “Os ingleses tinham como tradição a festa de St. Leger, uma comemoração de quatro dias, que terminava com uma corrida de cavalos. É uma tradição que vem desde o século XIX”, conta José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School. “E maio coincide com o início do verão no Hemisfério Norte e consequentemente havia uma redução no volume de negócios”, diz.

Como o fenômeno de baixa das ações nesse período passou a acontecer com certa frequência, muitos começaram a ver uma correlação entre os dois fatos. Pensaram que os investidores vendiam porque as ações se desvalorizavam nesse período, diz Souza Filho, quando na realidade, a relação era a inversa: a queda da liquidez nos negócios tinha como efeito a baixa do mercado de renda variável.

Antônio Sanches, analista de research da Rico, complementa: “os operadores do mercado saiam de férias em Londres e aproveitavam essa época para viajar. Nesse período de maio até o dia dessa corrida de cavalos, eles vendiam as ações para não ficarem preocupados, e depois recompravam”, diz.

Afinal, era difícil acompanhar as movimentações do mercado e operar à distância. “Em um momento em que a liquidez das bolsas globais era muito diferente, isso acabava impactando”, diz Sanches.

A teoria se confirma na prática?

Estudos demonstraram que o movimento até acontecia, mas perdeu a força. “Um estudo analisou o S&P500 e percebeu que do início do ano até maio, o rendimento era de 5%, e de maio a novembro, de 2%. Isso pegando todo o histórico de apuração do índice”, diz o professor.

“Mas atualmente, quando se faz essa verificação, a variação não é tão grande. Em 2023, o retorno do primeiro semestre foi de 3,76%, versus 3,24% no segundo. Não é significativo do ponto de vista estatístico”, completa.

Sanches cita ainda outro estudo, da Morning Star, que comparou duas estratégias: uma de seguir o ditado e vender as ações em 1º de maio e recompra-las em 1º de novembro, e outra de se manter investido todo o ano. “Aqueles que ‘vão embora’ no verão simplesmente perdem no longo prazo”, diz o estudo.

E no Brasil?

A relação também não se confirma por aqui. Sanches fez um levantamento sobre o desempenho do mercado desde 1995. A média de rentabilidade de abril a novembro é de 4%, e de maio a outubro, de 3%. “A diferença é muito pequena, e em ambos os casos, a média é positiva. Difícil dizer que esse ditado tenha poder hoje em dia, principalmente na bolsa brasileira”, diz.

O que considerar antes de investir?

Se o ditado de vender em maio não funciona, como avaliar e montar sua carteira? Segundo o professor Souza Filho, o ponto de partida é entender qual o perfil do investidor. “Se está pensando em investir em uma carteira que vai te render dividendos, o investidor está mais preocupado com o pagamento e a recorrência, não tanto com o preço”, diz.

Por outro lado, quem investe buscando o ganho real do papel pode se beneficiar de acompanhar o mercado, mas há uma questão importante: acertar sempre os melhores momentos de comprar e vender um ativo é muito difícil. “O que se recomenda é que se faça pequenas compras, fazendo um preço médio, mesmo que não pegue todas no momento de maior baixa”, diz. A venda também deve seguir essa lógica. “Vender de forma gradual mitiga a chance de grandes perdas, muito embora também mitigue a chance de grandes ganhos”, diz.

E a história de vender em maio? “Existe mais mística do que verdade”, resume o professor.

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