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Renda+ ou previdência privada: como se preparar para a aposentadoria?

Título do Tesouro voltado à aposentadoria foi criado no ano passado, mas ainda é pouco conhecido

Só 18% dos brasileiros já começaram uma reserva para a aposentadoria. Mas 58% da população ainda pretende começar. Os dados, apresentados no Raio-X do Investidor da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), deixam claro que existe vontade, mas que a maior parte das pessoas ainda precisa se organizar para ter uma vida financeira saudável na aposentadoria.

“Poupar para o futuro não é simples, e as pessoas esperam sobrar o dinheiro para aplicar, mas é preciso inverter e colocar esse investimento antes. É preciso entender que isso é uma prioridade, e abrir espaço no orçamento presente para você no futuro”, diz Marcia Dessen, planejadora financeira CFP pela Planejar. Se você faz parte dos 58% que ainda pretendem começar, provavelmente já se deparou com a dúvida de como investir para a previdência.

Um dos mais conhecidos é o clássico modelo de previdência privada, mas desde o ano passado, outra opção surgiu no mercado e ainda é pouco conhecida: o Tesouro Renda+, um título público desenhado justamente para prover uma renda extra na aposentadoria. Confira as diferenças entre os dois!

Como funciona o Tesouro Renda+?

O Tesouro Renda+ foi desenhado para facilitar a poupança para a aposentadoria. Ele é um título público indexado à inflação e que oferece também uma rentabilidade prefixada ao ano. Os títulos disponíveis atualmente têm vencimento entre 2030 e 2065 (com um vencimento a cada 5 anos).

“É um título é atrelado ao IPCA, e devolve o investimento parcelado garantindo o poder de compra do investidor após o período de acumulação”, afirma Paula Sauer, economista, planejadora financeira CFP e Coordenadora do Laboratório de Finanças Pessoais na ESPM.

A ideia é que o investidor faça aportes durante sua vida profissional em um título com vencimento de acordo com a idade que a pessoa pretende se aposentar. Quando chega a data do vencimento, o investidor começa a receber um fluxo mensal de renda por 20 anos (240 meses). A renda vai depender do quanto o investidor terá poupado naquele título até o vencimento.

Pode parecer complicado, mas uma grande vantagem, de acordo com Marcia Dessen, planejadora financeira CFP pela Planejar, é o simulador do Tesouro Direto. Lá, você preenche alguns dados simples, como sua idade atual, com quantos anos quer se aposentar, qual a renda pretendida na aposentadoria e se você já tem um montante inicial para investir. Feito isso, a plataforma te dá uma simulação de qual o melhor vencimento e qual o investimento mensal você precisará ter para alcançar o objetivo.

Quer um exemplo? Uma pessoa de 35 anos, que queira se aposentar aos 65 com uma renda de R$ 3 mil e não tem um valor inicial precisaria investir aproximadamente R$ 190,28 por mês para alcançar seu objetivo, segundo o cálculo.

Se fizer isso, a partir de 2055, essa pessoa passa a receber um valor de R$ 3 mil (corrigidos pela inflação), até 2074.

Outro exemplo, alguém de 30 anos que queira se aposentar com 65 com renda de R$ 1 mil precisa poupar apenas R$ 43,19 por mês e começa a receber em 2060.

Essa diferença entre o valor investido por mês e o recebido no futuro é explicada pelo longo prazo de acumulação, lembra a planejadora Marcia Dessen. E quanto mais cedo o investidor começa a poupar, menor será o esforço para alcançar a renda desejada.

“Acho que pouco gente ainda aderiu, primeiro porque as pessoas não se dão conta da necessidade de pensar no futuro, que é preciso preparar o terreno para quando não puder ou não quiser trabalhar”, diz Dessen. “Segundo, as pessoas acham que não têm dinheiro, pensam que se mal dão conta de pagar as contas do presente, não conseguirão poupar para o futuro”.

Entre os benefícios, diz a planejadora, está o fato de não haver taxa de custódia para esse título no Tesouro Direto, “desde que o investidor leve o título até o vencimento e a renda não seja superior a 6 salários mínimos”, complementa. “Um plano de previdência tem taxas que, ainda que sejam baixas, não são desprezíveis”, afirma. Entretanto, os rendimentos são tributáveis, assim como outros investimentos em renda fixa.

Paula Sauer lembra, entretanto, que caso o investidor opte pelo resgate antecipado, e solicite o resgate antes da data de conversão do título em pagamentos mensais, perde a isenção da taxa de custódiaa

Como funciona a previdência privada?

Para Paula Sauer, a principal diferença entre eles está relacionada à tributação. “Ao contratar um PGBL, o investidor conta com o benefício fiscal de até 12% da renda bruta do que for investido em PGBL, o que não acontece no Renda+”, diz.

Isso porque quem opta pelo PGBL consegue deduzir do cálculo do imposto de renda os valores investidos durante o período de acumulação, até o limite de 12% de sua renda bruta anual. Em contrapartida, no momento do resgate, o valor total (principal + rendimentos) será tributado.

Além disso, enquanto no Renda+ a menor alíquota de imposto de renda é de 15% sobre os rendimentos, os planos de previdência podem chegar à alíquota mínima de 10% (na tabela regressiva) ou até mesmo podem ser isentos (na tabela progressiva).

Funciona assim: quem opta pela tabela regressiva terá a alíquota da tributação relacionada ao tempo do investimento. Quem tira o dinheiro do plano em até dois anos paga a alíquota máxima de 35%. Essa porcentagem, entretanto, cai 5 pontos percentuais a cada dois anos, chegando ao mínimo de 10% para investimentos acima de 10 anos.

Já na tabela progressiva, o quer determina a alíquota é o valor retirado, na mesma tabela de tributação do imposto de renda. Nesse caso, a alíquota vai de 0% até 27,5%.

Outro ponto importante é que o PGBL, em caso de falecimento do titular, é disponibilizado aos herdeiros sem passar pelo inventário, o que gera maior agilidade. “Já o Renda+ entra em inventário e posteriormente disponibilizado aos herdeiros legais”, diz Sauer.

Renda + ou previdência privada?

Marcia Dessen argumenta que não é preciso escolher apenas uma forma de acumulação para a aposentadoria. “A ideia não é que o Renda+ seja a única poupança que você tem. Você pode ou comprar dois investimentos, ou ter outro produto previdenciário, mesclando um com objetivo de renda, como o título do tesouro, com outro que não entra no inventário e é pago diretamente aos herdeiros no caso da sua falta”, exemplifica.

Paula Sauer argumenta que a diversificação é positiva na previdência. “Se o objetivo aqui é manter o poder de compra, o Renda+ é um bom produto, mas pensando em liquidez e rentabilidade, o ideal será uma carteira mais diversificada, com prazos e objetivos que conversem com o ciclo de vida do investidor, as mudanças ao longo da vida e cenário econômico”, diz.

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