Organizar as contas

Alta da Selic: É hora de entrar em um consórcio de imóveis ou fazer um financiamento?

Aumento da taxa básica de juros encarece o crédito, mas não impacta os consórcios

O novo ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, desperta dúvidas sobre o reflexo que essa mudança provoca em diferentes setores. Um deles é o financiamento de imóveis, no qual o crédito costuma encarecer com a Selic mais alta. Por outro lado, o consórcio de imóveis aparece como opção justamente porque suas taxas não são afetadas pela Selic. No entanto, os valores das parcelas devem ser calculados com cuidado conforme o perfil, o orçamento de cada cliente e a urgência na necessidade de comprar o imóvel.

No ano passado, o setor de consórcio contava com 9,94 milhões de participantes e passou para 10,93 milhões até agosto deste ano, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC). A entidade espera alcançar um recorde de 11 milhões de consorciados.

A alta mais significativa nos créditos comercializados ocorreu devido ao aumento no valor do tíquete médio mensal e nas vendas de cotas, conforme a ABAC. A maior alta no volume de vendas, de janeiro a agosto, ficou com eletroeletrônicos e bens móveis duráveis (35,4%), seguido de imóveis (27,8%), serviços (7,5%), veículos leves (6,4%) e motocicletas (1,1%), enquanto o setor de veículos pesados teve queda de 24,4%.

O otimismo no cenário, contudo, apresenta uma estafa. O Índice de Confiança do Setor de Consórcios (ICSC) recuou seis pontos em setembro, uma ligeira redução sobre as expectativas de curto prazo, e fechou em 62,2 pontos. Em julho, o índice estava em 68,2 pontos. Quanto mais perto de 100, mais otimista é o cenário para o setor, de acordo com a ABAC. Apesar do indicador de confiança ter recuado em setembro, o patamar de expectativas continua acima de 50 pontos, o que indica otimismo do setor.

Esta oscilação no indicador reflete o momento atual da economia, com juros elevados, risco inflacionário e incerteza fiscal, além do endividamento das famílias. É o que afirma o vice-presidente de negócios da Embracon, Luís Toscano. “Muitos consumidores têm priorizado o pagamento de dívidas em vez de realizar novos investimentos, incluindo a adesão a consórcios. Essa realidade impacta a confiança nas expectativas de vendas e novas adesões, refletindo uma visão mais pessimista sobre a recuperação econômica e a capacidade de novos investimentos por parte dos consumidores”, analisa.

Ele ainda ressalta que o sistema apresentou alta significativa em créditos comercializados, de janeiro a agosto. “Isso decorreu do aumento no valor do tíquete médio mensal (42%) e nas vendas de cotas (6%). Portanto, o setor de consórcios tem amplo espaço para crescimento, principalmente com a população prezando por um planejamento financeiro mais adequado às suas necessidades individuais e aos fatores macroeconômicos”, conclui.

Por outro lado, a digitalização mudou o perfil de quem busca o consórcio e até a finalidade da compra. Tudo tem sido feito de forma online, o que facilita e incentiva mais participantes a entrarem nos grupos consorciados. Com isso, a ideia de que consórcio seria um produto antigo ficou no passado devido ao acesso a diferentes serviços, como custear uma cirurgia eletiva, viajar e até cuidar da saúde.

Qual a diferença entre financiamento e consórcio?

A principal diferença, segundo Francis Silva, CFO do Mycon, está nos valores a serem pagos e na forma como são geridos os recursos até o final do contrato. “No financiamento, o banco precisa captar recursos e remunerar as pessoas com base na taxa básica de juros, e esse recurso fica mais caro, e, na hora de emprestar para o cliente final, será um custo mais alto. No consórcio isso não existe. São pessoas que se reúnem num grupo e colocam dinheiro, então, é um sistema de autofinanciamento. O papel da administradora de consórcio é organizar esses grupos. Assim, o que a administradora cobra é uma taxa pelo serviço prestado, o que não tem nada a ver com a Selic. O custo do consórcio permanece o mesmo”, explica.

Toscano salienta que os consórcios não cobram juros, mas sim uma taxa de administração pelo serviço de organização dos grupos consorciados, o que, segundo ele, diminui o custo total da compra. “Isso permite que os consumidores adquiram imóveis de forma mais planejada e com parcelas menores. Para carros e motos, a vantagem é semelhante, oferecendo maior acessibilidade e evitando o endividamento excessivo associado a financiamentos”.

Como escolher entre consórcio ou financiamento?

Para o planejador financeiro Rogério Brandão, um financiamento pode ser escolhido quando você não tem tempo para esperar e pode pagar um preço mais caro. Já o consórcio requer mais planejamento e exige tempo e paciência até ser contemplado. Ele ainda lista seis dicas comparativas entre os dois modelos para que você possa escolher melhor.

  1. Forma de aquisição
  • Consórcio de Imóvel: Você entra em um grupo e paga parcelas mensais. O grupo vai sorteando ou permitindo lances para entregar as cartas de crédito aos participantes. Você pode ser contemplado logo no início ou demorar anos.
  • Financiamento Imobiliário: Você pega o dinheiro com o banco imediatamente para comprar o imóvel e vai pagando parcelas com juros ao longo do tempo.

2. Juros e custos

  • Consórcio: Não tem juros, mas há taxas de administração cobradas pela instituição que gerencia o consórcio. No longo prazo, pode sair mais barato que o financiamento, mas depende do tempo que levará para ser contemplado.
  • Financiamento: Tem juros, que variam de acordo com o banco, o tipo de crédito e o momento econômico, além de outros custos como seguros e taxas bancárias. Isso torna o custo total mais elevado.

3. Prazos e disponibilidade

  • Consórcio: Você só recebe a carta de crédito quando for contemplado por sorteio ou se der um lance alto. Isso pode demorar, então não é ideal se você precisa do imóvel imediatamente.
  • Financiamento: O dinheiro é disponibilizado rapidamente após a aprovação do crédito, o que permite adquirir o imóvel de forma imediata.

4. Flexibilidade

  • Consórcio: Maior flexibilidade no uso da carta de crédito, que pode ser usada para comprar o imóvel, reformar, construir ou quitar um financiamento.
  • Financiamento: Específico para a compra do imóvel e com regras mais rígidas quanto ao destino do dinheiro.

5. Planejamento financeiro

  • Consórcio: Ideal para quem não tem pressa, pois você pode planejar a compra a longo prazo, sem pagar juros, mas está sujeito à incerteza de quando será contemplado.
  • Financiamento: É para quem quer adquirir o imóvel logo, mas isso envolve pagar juros altos e o custo total pode ser mais elevado.

6. Valor total pago

  • Consórcio: Por não ter juros, o valor final tende a ser mais baixo, mas as taxas de administração e o tempo de espera podem influenciar no custo final.
  • Financiamento: O valor total pago costuma ser significativamente maior, devido aos juros compostos ao longo dos anos.

Como entrar em um consórcio?

Existem algumas formas para entrar em um consórcio. Silva destaca o grupo novo, o grupo em andamento (que costuma ser o mais buscado), ou a venda de cotas. “O dinheiro é distribuído entre os participantes do grupo, primeiro ocorre em sorteio e segue uma ordem específica de cada lance. Se há recurso para contemplar dez pessoas, dez serão contempladas. Quanto mais gente [no grupo], mais contemplados existirão naquele grupo. Quando há um grupo em formação, ele tem até 90 dias para arrecadar recursos para começar as contemplações”, afirma.

Cuidados

Antes de entrar em um consórcio, o interessado deve fazer uma simulação com os valores das parcelas e verificar se isso não irá sobrecarregar o seu orçamento pessoal e familiar. Em seguida, a confiança na administradora é outro fator a ser observado e você pode verificar se ela está autorizada pelo Banco Central por meio do site da autarquia.

Outra dica valiosa antes de tomar a decisão é observar o ranking de reclamações do BC e observar em qual posição aparece a administradora, se as demandas foram atendidas e qual o tempo de resposta ao cliente.

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